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ROBERTO RODRIGUES
Biodiesel na Amazônia
O dendê se constitui em
excelente alternativa para
recuperação de áreas
degradadas da Amazônia
DESDE OS anos 1980,
existem estudos na
área do governo visando a produção do biodiesel
como aditivo ou substituto do
óleo diesel. Também são antigas as experiências privadas
no mesmo setor. Mas foi o
atual governo que realmente
assumiu o compromisso com
esse produto, dentro da percepção de que a agroenergia
representa um novo paradigma agrícola para o mundo,
com potencial de mudar a
geopolítica planetária.
Há grandes diferenças entre o álcool e o biodiesel. Boa
parte dessas diferenças se deve à enorme quantidade de
matérias-primas para o biodiesel: desde sebo bovino e
outros resíduos orgânicos até
as fontes mais conhecidas, de
origem agrícola, que também
podem ser divididas em grãos
e palmáceas. Entre os grãos,
estão a soja, a mamona, o girassol, o pinhão-manso, o
amendoim, o algodão, o nabo
forrageiro e diversos outros.
E o biodiesel gerado por cada
uma tem diferentes características, dificultando a padronização.
Entre as palmáceas, a grande vedete hoje é o dendê -ou
óleo da palma- e há espaços
para outras no futuro, como é
o caso da macaúba.
Os grãos chegam a produzir
até mil quilos de óleo por hectare, e o dendê produz seis vezes mais. O problema é que o
dendê demora quatro anos
para começar a produzir, e os
grãos são anuais.
Mas é evidente que, uma
vez em produção, o dendê
tem vantagens comparativas
espetaculares, até porque o
custo de implantação da planta só se dá uma vez, ao contrário dos grãos, semeado todos
os anos.
Mais ainda: com tal diferença, o dendê demandaria
um quarto da terra destinada
aos grãos. E com duas vantagens: pode ser cultivado por
pequenos produtores, como
os da agricultura familiar, e se
constitui em excelente alternativa para recuperação de
áreas degradadas da região
amazônica.
Essa planta, com habitat
em regiões de clima equatorial chuvoso, teve sua variedade comercial mais conhecida
-a Elaeis guineenses- desenvolvida nas estações experimentais francesas da
Costa do Marfim e, quando a
Embrapa, em 1980, criou seu
Centro de Pesquisas na
Amazônia, foi trazida ao
Brasil. De lá para cá, os excelentes técnicos da Embrapa
passaram a buscar espécies
nativas da região amazônica,
criando assim um banco de
germoplana, do que se originaram cruzamentos com a
variedade africana, resultando em variedades híbridas
superiores, resistentes até a
doenças sérias, como o
"amarelamento fatal".
Tem sido discutida a possibilidade de reflorestar
áreas degradadas da região,
seja de floresta cortada, seja
de pastagens abandonadas,
com palmáceas como o dendê, nativas ou exóticas.
Surgiu então uma reação
de setores afins, contra o uso
das variedades híbridas, sob
a alegação de que tal recomposição se trata de passivo
ambiental e que obrigatoriamente essas áreas devem ser
reconstituídas com variedades nativas originais, não
importando o resultado econômico da atividade. Nesse
caso, os híbridos são considerados exóticos. E o plantador teria que se submeter a
essa regra, mesmo com prejuízo.
O assunto está no Congresso Nacional, ora em vias
de apreciar o projeto de lei
nº 6.424/05, que definirá a
questão.
Mas tal definição deve encarar o "casamento" eco-eco, isto é, cuidar da ecologia
com visão econômica, como
forma de dar sustentabilidade ao povo da região.
Afinal, há maior maravilha
híbrida e totalmente nacional do que nossas mulatas e
mulatos?
ROBERTO RODRIGUES, 65, coordenador do Centro
de Agronegócio da FGV (Fundação Getulio Vargas),
presidente do Conselho Superior do Agronegócio da
Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural
da Unesp - Jaboticabal, foi
ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15
dias, nesta coluna.
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