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Consignado pode virar uma armadilha, dizem entidades
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na primeira vez em que o
aposentado Almir Rodrigues
da Silva, 67, recorreu ao crédito
consignado do INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social), o
objetivo era financiar uma obra
em sua casa. O maranhense, em
Brasília há mais de 40 anos, só
não tinha ideia de que esse era o
começo de uma extensa novela.
"Primeiro peguei R$ 8.000,
depois mais R$ 8.000 na própria Caixa [Econômica Federal]. Aí a coisa foi apertando.
Acabei vendendo essa dívida
para outro banco menor, que
refinanciou com uma taxa mais
barata e ainda me deu uma diferença. Ao mesmo tempo, fui
pegando valores menores, R$
500, R$ 600", relatou o aposentado e ex-gráfico.
Rodrigues recebe mensalmente do INSS um benefício
bruto de R$ 1.400. "Hoje, não
sei mais quanto devo e quanto
tempo falta para pagar. Virou
uma bola-de-neve", disse.
Entidades que representam
os aposentados do INSS afirmam que, embora seja um benefício adicional aos segurados,
o crédito consignado pode se
tornar uma armadilha. Diariamente, as associações ficam lotadas de aposentados que relatam diferentes histórias, inclusive de abuso dos bancos e de
falta de informações.
Segundo Iara Dias da Silva,
da Associação dos Aposentados
de Brasília, quase todos os associados que recebem benefícios
acima do salário mínimo não
conseguem escapar dos refinanciamentos sucessivos. "São
pessoas um pouco mais esclarecidas e que têm rendimento
melhor. Entram uma vez e não
conseguem mais sair."
Aumento
Os dados mais recentes do
Ministério da Previdência Social mostram que, apesar da escassez de crédito, ainda houve
aumento do crédito consignado do INSS em outubro: foram
emprestados R$ 198,4 milhões,
contra R$ 172 milhões em setembro. Desde 2004, quando o
programa do crédito consignado deslanchou, o total de operações ativas no mercado está
acumulado em R$ 23,7 bilhões,
com 14,97 milhões de contratos. De acordo com a Previdência, a média dos empréstimos é
de R$ 1.583, que são pagos em
33 parcelas.
Os aposentados com renda
de até um salário mínimo são
os responsáveis pela maior parte dos contratos, respondendo
por 60,4% das operações. Entre
um e três mínimos de renda,
ocorrem 26,8% das operações.
"O crédito consignado é um
socorro para o aposentado, que,
às vezes, está pagando juros de
6% ao mês para agiotas", declara o vice-presidente da Cobap
(Confederação Brasileira de
Aposentados e Pensionistas),
Luiz Legnani.
Na opinião de Josepha Britto, uma das representantes dos
aposentados no CNPS (Conselho Nacional de Previdência
Social), o governo vem "empurrando com a barriga" o problema que o consignado se tornou
para os segurados.
"Não vejo como uma pessoa
que ganha um salário mínimo
pode ter condições de se endividar se o que ganha não dá
nem sequer para sobreviver."
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