São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Consignado pode virar uma armadilha, dizem entidades

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira vez em que o aposentado Almir Rodrigues da Silva, 67, recorreu ao crédito consignado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), o objetivo era financiar uma obra em sua casa. O maranhense, em Brasília há mais de 40 anos, só não tinha ideia de que esse era o começo de uma extensa novela.
"Primeiro peguei R$ 8.000, depois mais R$ 8.000 na própria Caixa [Econômica Federal]. Aí a coisa foi apertando. Acabei vendendo essa dívida para outro banco menor, que refinanciou com uma taxa mais barata e ainda me deu uma diferença. Ao mesmo tempo, fui pegando valores menores, R$ 500, R$ 600", relatou o aposentado e ex-gráfico.
Rodrigues recebe mensalmente do INSS um benefício bruto de R$ 1.400. "Hoje, não sei mais quanto devo e quanto tempo falta para pagar. Virou uma bola-de-neve", disse.
Entidades que representam os aposentados do INSS afirmam que, embora seja um benefício adicional aos segurados, o crédito consignado pode se tornar uma armadilha. Diariamente, as associações ficam lotadas de aposentados que relatam diferentes histórias, inclusive de abuso dos bancos e de falta de informações.
Segundo Iara Dias da Silva, da Associação dos Aposentados de Brasília, quase todos os associados que recebem benefícios acima do salário mínimo não conseguem escapar dos refinanciamentos sucessivos. "São pessoas um pouco mais esclarecidas e que têm rendimento melhor. Entram uma vez e não conseguem mais sair."

Aumento
Os dados mais recentes do Ministério da Previdência Social mostram que, apesar da escassez de crédito, ainda houve aumento do crédito consignado do INSS em outubro: foram emprestados R$ 198,4 milhões, contra R$ 172 milhões em setembro. Desde 2004, quando o programa do crédito consignado deslanchou, o total de operações ativas no mercado está acumulado em R$ 23,7 bilhões, com 14,97 milhões de contratos. De acordo com a Previdência, a média dos empréstimos é de R$ 1.583, que são pagos em 33 parcelas.
Os aposentados com renda de até um salário mínimo são os responsáveis pela maior parte dos contratos, respondendo por 60,4% das operações. Entre um e três mínimos de renda, ocorrem 26,8% das operações.
"O crédito consignado é um socorro para o aposentado, que, às vezes, está pagando juros de 6% ao mês para agiotas", declara o vice-presidente da Cobap (Confederação Brasileira de Aposentados e Pensionistas), Luiz Legnani.
Na opinião de Josepha Britto, uma das representantes dos aposentados no CNPS (Conselho Nacional de Previdência Social), o governo vem "empurrando com a barriga" o problema que o consignado se tornou para os segurados.
"Não vejo como uma pessoa que ganha um salário mínimo pode ter condições de se endividar se o que ganha não dá nem sequer para sobreviver."

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