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OPINIÃO ECONÔMICA
1999 - O ano da produção
BENJAMIN STEINBRUCH
O réveillon de nossa política e
de nossa economia não foi marcado por festas à beira-mar, flores, velas, fogos e cascatas de luzes que, mais uma vez, enfeitaram o litoral e iluminaram as
margens dos rios, lagos e açudes
pelo Brasil afora. A televisão
trouxe o retrato das festas, dos
eventos e da alegria das ruas e
das casas em que crianças, adultos, gente de todas as idades viravam a página do Ano Velho e,
mais uma vez, apostavam na esperança do Ano Novo na reta final a caminho do novo século.
Na contagem regressiva das
horas, minutos e segundos, não
havia espaço para as aflições da
crise econômica, o preço do ajuste fiscal, os juros estratosféricos,
os problemas do emprego, as
consequências de uma retração
econômica que parecia impossível de ocorrer mas já bateu às
nossas portas antes mesmo do
Ano Novo.
As pesquisas da grande mídia e
as análises e entrevistas publicadas não deixam dúvida: o brasileiro está consciente da crise, sabe que ela chegou e é séria. Mas,
mesmo assim, não deu direito à
crise de lhe destruir a esperança,
de lhe soterrar o otimismo ou de
lhe roubar a fé e a confiança no
futuro que devia ser manifestada, com o entusiasmo tradicional, nas comemorações da virada do ano.
Mal passaram os ponteiros da
meia-noite e já estávamos todos
nós caindo na real, ao ver as
imagens de governadores que assumiam nas primeiras horas do
dia para que pudessem voar para Brasília em tempo de participar da posse do primeiro presidente da República reeleito na
história brasileira.
As cerimônias foram espartanas, nem de longe lembrando o
clima de vitória e a participação
popular que marcaram a capital
em 1995. O desfile de carros fechados, o aparente desinteresse
do povo, as expressões frias e sem
brilho das autoridades mostravam um Brasil diferente do que,
horas antes, enfeitara a virada
de ano com sorrisos e fogos de artifício. Os discursos previsíveis e
os juramentos protocolares foram inseridos em uma liturgia
simples em que não faltou o simbolismo da subida da rampa do
Palácio e a exibição da faixa verde-e-amarela que precedeu as
assinaturas de três dezenas de
posses ministeriais.
O conjunto de eventos, da sessão especial do Congresso até a
solenidade e o coquetel no Palácio do Planalto e o jantar quase
íntimo no Palácio da Alvorada,
chegou às casas dos brasileiros
sem surpresas ou imprevistos.
Um amigo que me descreveu as
cenas mostrou-se impressionado
especialmente pela foto da equipe presidencial, agora ampliada
e renovada para fazer face às duras realidades do segundo mandato. E disse: "Olha, Benjamin,
aquela gente toda, sorrindo tão
pouco, deve ter levado os brasileiros a muita reflexão".
A jornalista Sonia Racy lembrou, neste domingo, que a nossa
economia já representa 42% do
PIB da América Latina e mais de
13,3% do Produto Interno Bruto
dos países em desenvolvimento,
incluindo a China. Temos, pois,
de avançar. A modernização dos
últimos anos, as vitórias inequívocas do Plano Real e os estímulos representados por um dos
maiores mercados de consumo
do mundo não podem ser desperdiçados.
A ponte a atravessar é estreita e
de difícil superação. Os compromissos assumidos com as principais instituições financeiras
mundiais não foram um gesto
fortuito, como ficou dramaticamente visível nas providências
emergenciais decretadas nos últimos dias do ano e que promoveram aumentos de impostos e
outras medidas duras para que o
Brasil possa compensar as perdas da CPMF e iniciar este ano
cumprindo o prometido. Só assim pavimentaremos uma avenida de confiança -dentro e fora
do Brasil-, sem a qual será impossível a baixa significativa e
constante dos juros e a implementação acelerada de medidas
destinadas a promover e ampliar
a produção nacional, visando o
mercado doméstico e a exportação.
Não basta equilibrar receitas e
despesas oficiais, garrotear o empreguismo federal, estadual e
municipal, pôr um paradeiro nos
artifícios a que os burocratas recorrem para corrigir seus descompassos administrativos. Será
necessário produzir. Estimular a
geração de riquezas pelas empresas de todos os tamanhos. Desonerar os capitais e os empreendedores que investem em atividades produtivas, lançam novos
bens e serviços, aprimoram suas
condições de competição, promovem elevação de qualidade,
asseguram empregos e valorizam salários.
Só pela produção sairemos do
atoleiro em que nos metemos por
falhas internas ou pelos temporais internacionais. É por isso
que 1999, ano da solução da crise, precisa ser marcado, em todos
os quadrantes do país, como o
Ano da Produção. Para que as
solenidades oficiais e oficiosas, e
não apenas os fogos de artifício,
marquem o início do ano 2000,
daqui a 12 meses, com as novas
cores de um otimismo firme e
realista que há de reunir todos os
brasileiros.
Benjamin Steinbruch, 45, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional,
da Metropolitana e da Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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