São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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Google tenta inviabilizar união Microsoft-Yahoo!

Executivos do Google agem nos bastidores para encontrar outras opções ao Yahoo!

Estratégia inclui de lobby em Washington para tentar barrar o negócio a ligações para rivais que tenham interesse em fazer ofertas

Justin Lane/EFE
Letreiros com os nomes das empresas em Nova York, no dia em que a Microsoft ofereceu US$ 44,6 bilhões para adquirir o Yahoo!

ANDREW ROSS SORKIN
MIGUEL HELFT

DO "NEW YORK TIMES"

O maior obstáculo à união entre a Microsoft e o Yahoo! pode ser o gigante tecnológico que os vêm derrotando o tempo todo: o Google.
Em um esforço incomumente agressivo para impedir que a Microsoft leve adiante sua oferta de US$ 44,6 bilhões pelo Yahoo!, o Google desenvolveu planos no fim de semana para atrapalhar a transação.
A empresa se posicionou contra a aquisição publicamente, alegando em comunicado que a união, proposta pela Microsoft na sexta-feira na forma de uma oferta hostil de tomada de controle acionário, seria uma ameaça à livre concorrência e teria de ser examinada pelas autoridades de defesa da competição em todo o mundo.
E o Google, que considera a possível união como ataque direto, foi muito além disso nos bastidores. O presidente-executivo da empresa, Eric Schmidt, telefonou para Jerry Yang, o presidente-executivo do Yahoo!, oferecendo ajuda para que a empresa resista à oferta, possivelmente na forma de uma parceria entre os dois grupos, disseram pessoas informadas sobre a conversa.
Os grupos de lobby do Google em Washington começaram a planejar a melhor maneira de apresentar argumentos contrários à proposta diante dos legisladores, disseram pessoas que estão informadas sobre os planos da empresa. O Google pode se beneficiar caso consiga simplesmente prolongar a revisão de uma fusão pelas autoridades regulatórias até a posse do próximo presidente dos EUA.
Além disso, executivos do Google fizeram contato discreto com aliados em empresas como a Time Warner, que controla a America Online, a fim de determinar se elas planejavam apresentar proposta rival, e de que maneira o Google poderia ajudar, segundo essas fontes. O Google detém participação de 5% na America Online.
A despeito dos esforços do Google e do trabalho dos bancos que atendem ao Yahoo! no fim de semana para despertar interesse em uma proposta que rivalize com a da Microsoft, não parece provável que surja uma oferta concorrente, pelo menos no estágio inicial do processo.

Rivais intimidados
Um porta-voz da News Corp., por exemplo, declarou no domingo que a empresa não estava preparando uma proposta, e outros potenciais interessados mencionados com freqüência, como Time Warner, AT&T e Comcast, ainda não começaram a trabalhar em possíveis ofertas, disseram pessoas que conhecem essas companhias. As fontes sugeriram que os grupos não desejavam entrar em um leilão contra a Microsoft, já que esta poderia facilmente superar quaisquer lances.
Enquanto isso, pessoas próximas ao Yahoo! afirmam que a empresa recebeu uma série de consultas de possíveis interessados em sua aquisição, no fim de semana. Alguns funcionários do grupo chegaram a especular quanto à possibilidade de dissolver a empresa. Isso significaria vender ou terceirizar seus serviços de busca para o Google e promover a cisão ou a venda de subsidiárias que produzam conteúdo original, segundo essas fontes.
Uma pessoa envolvida nas deliberações do Yahoo! sugeriu que "a soma das partes valia mais que o todo", argumentando que diversas das divisões do grupo, como o Yahoo! Finance, por exemplo, poderiam ser vendidas a uma empresa como a News Corp. com grande ágio, enquanto o Yahoo! Sports poderia ser vendido à ESPN, subsidiária da Walt Disney.
Os executivos de empresas rivais demonstraram menos otimismo quanto a essa estratégia de divisão. "Ninguém vai chegar a um preço de US$ 44 bilhões", disse um executivo de uma grande empresa de mídia, "mesmo que eles dividam o grupo em uma dúzia de partes".
Ontem o Yahoo! informou apenas que estudará todas as opções ao seu alcance diante da oferta da Microsoft.
Ao fazer sua oferta pelo Yahoo!, a Microsoft está apostando que as decisões judiciais dos últimos anos que a consideraram culpada de abusos de seu poder monopolista no mercado de software para computadores pessoais não restrinjam sua liberdade de ação na aquisição de uma empresa de Internet.
No comunicado divulgado no domingo, o Google afirma que a potencial aquisição do Yahoo! pela Microsoft acarretaria ameaças à competição que precisariam ser examinadas pelas autoridades competentes.
O esforço do Google para bloquear ou retardar a transação alegando questões antitruste espelha as ações da Microsoft contra ele com relação à aquisição da DoubleClick, uma empresa de publicidade on-line, em uma transação de US$ 3,1 bilhões anunciada em abril.
A estratégia não surpreende, se considerarmos que qualquer atraso beneficiaria o Google. "O Google poderia explorar toda a má vontade que a Microsoft despertou junto às autoridades de defesa da competição nas últimas duas décadas", disse Eric Goldman, diretor do Instituto de Leis de Alta Tecnologia, na Escola de Direito da Universidade de Santa Cruz.
O resultado de qualquer inquérito antitruste dependerá, em parte, de como as autoridades definirão os diversos mercados. Uma combinação entre Yahoo! e Microsoft, por exemplo, controlaria larga proporção do mercado de e-mail na web, mas uma fatia menor do mercado de e-mail mais amplo.
"A preocupação potencial seria que a Microsoft, caso adquira o Yahoo!, aja no mercado de internet como o fez no mercado dos computadores pessoais e pressione por padrões mais enquadrados aos seus produtos, de maneira a atrair mais consumidores", disse Stephen Houck, um advogado que representa os Estados envolvidos no processo antitruste original contra a Microsoft.
Carl Tobias, professor de direito na Universidade de Richmond, disse que uma revisão das questões antitruste criadas pela união entre Microsoft e Yahoo! poderia demorar muito "e facilmente se estender a um novo governo, que adote posições muito diferentes das que o governo Bush sustenta com respeito a questões antitruste".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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