São Paulo, terça-feira, 05 de fevereiro de 2008

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Estoque cai e causa preocupação no café

Mercado precisa recorrer a produto de safras antigas para atender à demanda em ascensão de exportador e da indústria

Desaceleração econômica dos Estados Unidos, o maior consumidor mundial, traz outro sinal amarelo, avalia Ministério da Agricultura

GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO

Pelo sexto ano consecutivo, o volume da nova safra de café, que começa a ser colhida em abril, será insuficiente para atender às necessidades do mercado, segundo mostra projeção da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento do Ministério da Agricultura).
Até agora esse déficit nunca representou dificuldades, pois a cadeia produtiva sempre dispôs de estoques em volume confortável para o comércio.
A demanda para 2008 é calculada em 45,6 milhões de sacas. A primeira previsão da safra 2008/ 2009, realizada pela Conab, apontou média de 42,7 milhões. Parte do mercado esperava número maior, de 48 milhões a 50 milhões.
O "carryover" (estoques de passagem) para a nova safra é suficiente para cobrir o déficit de 2,9 milhões de sacas, uma vez que soma 7,8 milhões. "Isso representa aproximadamente dois meses das necessidades do mercado", diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
A tendência que esse número representa causa preocupação. Como as safras de café têm um ciclo bienal -um ano de produção considerada alta e outro de baixa-, "o problema pode ser muito acentuado", diz Manoel Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura. A colheita de 2009 é "de baixa".
Outro incômodo agora vem do ritmo de redução do volume armazenado em fazendas, cooperativas, indústrias e empresas exportadoras. Os estoques iniciais da colheita deste ano, segundo a Conab, devem encolher 55,8% em relação a igual período de 2007. Com uma "novidade histórica", segundo Luiz Hafers, diretor do Departamento de Café da Sociedade Rural Brasileira.
Pela primeira vez, o mercado vai trabalhar sem produto administrado pela governo. O Ministério da Agricultura anunciou que vai manter a rotina de leiloar 100 mil sacas por mês. No começo do ano havia 652 mil armazenadas. No segundo semestre, portanto, não haverá essa opção para as indústrias obterem matéria-prima.

Preços
Gilson Ximenes, presidente do CNC (Conselho Nacional do Café), que reúne produtores e cooperativas, diz que a próxima estimativa de safra da Conab, com divulgação programada para abril, pode trazer um quadro ainda mais apertado.
Para Ximenes, a estiagem do semestre passado foi muito prolongada. As chuvas deste começo de ano talvez não tenham compensado o "déficit hídrico" anterior.
Segundo Nathan Herszkowicz, da Abic, o mercado deve trabalhar na nova safra no patamar em que está, em torno de de R$ 260 a saca para a variedade arábica, de melhor qualidade, e a R$ 200 para o conilon, semelhante ao robusta africano. Com a Bolsa de Nova York à base de US$ 1,40 a libra-peso, o real valorizado impede que o preço avance muito.
Os desdobramentos da crise econômica nos EUA, maior consumidor mundial de café, também podem trazer repercussões. "Se houver restrição de demanda e manutenção da taxa de câmbio, a renda cai em reais. A economia dos Estados Unidos preocupa sim", diz o secretário Manoel Bertone.
Para Mauro Malta, diretor executivo da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel), a crise nos EUA não deve derrubar a procura, mas pode interferir no que chama de "elasticidade dos preços".
Gilson Ximenes, do CNC, diz que certas referências "precisam ser quebradas". Enquanto outras commodities batem recordes, os preços do café seguem num ritmo bem comportado. "O valor da saca sempre correspondeu ao salário mínimo [hoje em R$ 380]", afirma.
O secretário Manoel Bertone diz que o ministério trabalha por um política de ordenamento da safra nova, com financiamentos para todos os setores -produção, comércio e indústria. Segundo ele, o objetivo é tentar os R$ 300 para a saca do arábica, a fim de não haver risco ao manejo dos cafezais.

Mundo
A OIC (Organização Internacional do Café) estima que a safra 2008/2009 cresça 9%, para algo entre 123 milhões e 126 milhões de sacas. O consumo deve ultrapassar 125 milhões este ano, crescimento de 2 milhões ante 2007, puxado pelo movimento de novo padrão de consumo, orientado pelas cafeterias com produtos especiais.


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