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Estoque cai e causa preocupação no café
Mercado precisa recorrer a produto de safras antigas para atender à demanda em ascensão de exportador e da indústria
Desaceleração econômica dos Estados Unidos, o maior consumidor mundial, traz
outro sinal amarelo, avalia Ministério da Agricultura
GITÂNIO FORTES
DA REDAÇÃO
Pelo sexto ano consecutivo, o
volume da nova safra de café,
que começa a ser colhida em
abril, será insuficiente para
atender às necessidades do
mercado, segundo mostra projeção da Conab (Companhia
Nacional de Abastecimento do
Ministério da Agricultura).
Até agora esse déficit nunca
representou dificuldades, pois
a cadeia produtiva sempre dispôs de estoques em volume
confortável para o comércio.
A demanda para 2008 é calculada em 45,6 milhões de sacas. A primeira previsão da safra 2008/ 2009, realizada pela
Conab, apontou média de 42,7
milhões. Parte do mercado esperava número maior, de 48
milhões a 50 milhões.
O "carryover" (estoques de
passagem) para a nova safra é
suficiente para cobrir o déficit
de 2,9 milhões de sacas, uma
vez que soma 7,8 milhões. "Isso
representa aproximadamente
dois meses das necessidades do
mercado", diz Nathan Herszkowicz, diretor executivo da
Abic (Associação Brasileira da
Indústria de Café).
A tendência que esse número
representa causa preocupação.
Como as safras de café têm um
ciclo bienal -um ano de produção considerada alta e outro de
baixa-, "o problema pode ser
muito acentuado", diz Manoel
Bertone, secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura. A colheita de
2009 é "de baixa".
Outro incômodo agora vem
do ritmo de redução do volume
armazenado em fazendas, cooperativas, indústrias e empresas exportadoras. Os estoques
iniciais da colheita deste ano,
segundo a Conab, devem encolher 55,8% em relação a igual
período de 2007. Com uma
"novidade histórica", segundo
Luiz Hafers, diretor do Departamento de Café da Sociedade
Rural Brasileira.
Pela primeira vez, o mercado
vai trabalhar sem produto administrado pela governo. O Ministério da Agricultura anunciou que vai manter a rotina de
leiloar 100 mil sacas por mês.
No começo do ano havia 652
mil armazenadas. No segundo
semestre, portanto, não haverá
essa opção para as indústrias
obterem matéria-prima.
Preços
Gilson Ximenes, presidente
do CNC (Conselho Nacional do
Café), que reúne produtores e
cooperativas, diz que a próxima
estimativa de safra da Conab,
com divulgação programada
para abril, pode trazer um quadro ainda mais apertado.
Para Ximenes, a estiagem do
semestre passado foi muito
prolongada. As chuvas deste
começo de ano talvez não tenham compensado o "déficit
hídrico" anterior.
Segundo Nathan Herszkowicz, da Abic, o mercado deve
trabalhar na nova safra no patamar em que está, em torno de
de R$ 260 a saca para a variedade arábica, de melhor qualidade, e a R$ 200 para o conilon,
semelhante ao robusta africano. Com a Bolsa de Nova York à
base de US$ 1,40 a libra-peso, o
real valorizado impede que o
preço avance muito.
Os desdobramentos da crise
econômica nos EUA, maior
consumidor mundial de café,
também podem trazer repercussões. "Se houver restrição
de demanda e manutenção da
taxa de câmbio, a renda cai em
reais. A economia dos Estados
Unidos preocupa sim", diz o secretário Manoel Bertone.
Para Mauro Malta, diretor
executivo da Abics (Associação
Brasileira da Indústria de Café
Solúvel), a crise nos EUA não
deve derrubar a procura, mas
pode interferir no que chama
de "elasticidade dos preços".
Gilson Ximenes, do CNC, diz
que certas referências "precisam ser quebradas". Enquanto
outras commodities batem recordes, os preços do café seguem num ritmo bem comportado. "O valor da saca sempre correspondeu ao salário mínimo [hoje em R$ 380]", afirma.
O secretário Manoel Bertone
diz que o ministério trabalha
por um política de ordenamento da safra nova, com financiamentos para todos os setores
-produção, comércio e indústria. Segundo ele, o objetivo é
tentar os R$ 300 para a saca do
arábica, a fim de não haver risco ao manejo dos cafezais.
Mundo
A OIC (Organização Internacional do Café) estima que a safra 2008/2009 cresça 9%, para
algo entre 123 milhões e 126
milhões de sacas. O consumo
deve ultrapassar 125 milhões
este ano, crescimento de 2 milhões ante 2007, puxado pelo
movimento de novo padrão de
consumo, orientado pelas cafeterias com produtos especiais.
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