São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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Turbulência cresce, e fundos reduzem exposição ao Brasil

Bovespa cai 4,73% e só perde para Lisboa e Madri, mercados no centro da turbulência

Aumento das incertezas pega fundos estrangeiros com grande quantidade de ativos brasileiros; dólar sobe 2,17% e fecha a R$ 1,884


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados globais viveram ontem pesadas perdas, motivadas por uma série de incertezas em relação à solvência de países como Grécia, Portugal e Espanha e dúvidas quanto à recuperação global.
Os temores levaram os investidores a fugirem de aplicações de risco -ações, moedas emergentes e commodities- para se refugiarem em portos seguros como dólar e títulos dos EUA, embora o país tenha contribuído para a turbulência ontem com perspectivas ruins no mercado de trabalho. A Bolsa de Nova York recuou 2,61%.
A instabilidade prejudica particularmente o Brasil, um dos países que mais receberam dinheiro de investidores estrangeiros nos últimos meses. Fundos com ativos brasileiros absorveram US$ 12,8 bilhões em 2009 -só perdendo para a China, com US$ 13,3 bilhões, segundo levantamento da consultoria americana EPFR feito para a Folha. Muitos gestores têm alta concentração de ativos brasileiros em suas carteiras e agora podem reduzir a exposição com mais velocidade.
Também contribui para a saída de recursos do Brasil o fato de a Bolsa ter sido a que mais se valorizou em dólar no mundo em 2009 -143% (o Ibovespa subiu 83% em pontos, maior alta desde 2003).
Ontem, a Bolsa brasileira teve baixa de 4,73% no Ibovespa. Entre as grandes Bolsas, só perdeu para a de Madri (5,94%) e a de Lisboa (4,86%), no olho do furacão. O dólar chegou a bater em R$ 1,9, mas fechou a R$ 1,884, com valorização de 2,17%.
"O Brasil tem hoje muita liquidez, com investidores de prazo muito curto, que conseguem entrar e sair muito rápido", disse Sergio Garibian, diretor da área de fundos da agência Standard & Poor's.
Alguns fundos de hedge de perfil mais agressivo estão "severamente" expostos a ativos brasileiros e ao real em particular. A necessidade de realinhamento desses fundos durante esses períodos de instabilidade é hoje uma das maiores preocupações do mercado global e um dos fatores que motivaram as últimas correções na Bolsa, segundo analistas.
Além do perigo de esse capital sair a qualquer momento, há o risco de uma improvável crise brasileira -motivada por rebaixamento na avaliação de risco do país ou pela ascensão de um candidato considerado hostil ao mercado na eleição presidencial. "Um evento desses tem potencial de machucar muita gente", disse Ajay Kapur, da Mirae Asset, de Hong Kong, que tem advertido sobre o alto preço de ações brasileiras.
Segundo Will Landers, gestor da americana BlackRock, os fundos especializados em América Latina chegam a ter entre 75% e 80% de ativos brasileiros, expostos à variação do real. No caso dos fundos emergentes em geral, a exposição ao Brasil está hoje próxima de 18%. Para lidar com o risco brasileiro crescente, a BlackRock evita que a exposição de uma empresa nos fundos ultrapasse cinco dias de negócios na Bolsa. "Se a gente quiser sair, que possa fazer de uma maneira ordenada", disse Landers.
Para Garibian, da S&P, o juro baixo nos EUA incentivou apostas em ações no Brasil. Para a agência, o maior risco não é um evento não esperado, mas o provável aumento dos juros nos EUA, que deve motivar um reposicionamento dos investidores. A agência acredita que os reguladores estão de olho na superexposição dos fundos e cobrarão mais transparência dos gestores.


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