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Turbulência cresce, e fundos reduzem exposição ao Brasil
Bovespa cai 4,73% e só perde para Lisboa e Madri, mercados no centro da turbulência
Aumento das incertezas
pega fundos estrangeiros
com grande quantidade de
ativos brasileiros; dólar sobe
2,17% e fecha a R$ 1,884
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados globais viveram
ontem pesadas perdas, motivadas por uma série de incertezas
em relação à solvência de países como Grécia, Portugal e Espanha e dúvidas quanto à recuperação global.
Os temores levaram os investidores a fugirem de aplicações
de risco -ações, moedas emergentes e commodities- para se
refugiarem em portos seguros
como dólar e títulos dos EUA,
embora o país tenha contribuído para a turbulência ontem
com perspectivas ruins no
mercado de trabalho. A Bolsa
de Nova York recuou 2,61%.
A instabilidade prejudica
particularmente o Brasil, um
dos países que mais receberam
dinheiro de investidores estrangeiros nos últimos meses.
Fundos com ativos brasileiros
absorveram US$ 12,8 bilhões
em 2009 -só perdendo para a
China, com US$ 13,3 bilhões,
segundo levantamento da consultoria americana EPFR feito
para a Folha. Muitos gestores
têm alta concentração de ativos brasileiros em suas carteiras e agora podem reduzir a exposição com mais velocidade.
Também contribui para a
saída de recursos do Brasil o fato de a Bolsa ter sido a que mais
se valorizou em dólar no mundo em 2009 -143% (o Ibovespa subiu 83% em pontos, maior
alta desde 2003).
Ontem, a Bolsa brasileira teve baixa de 4,73% no Ibovespa.
Entre as grandes Bolsas, só
perdeu para a de Madri
(5,94%) e a de Lisboa (4,86%),
no olho do furacão. O dólar
chegou a bater em R$ 1,9, mas
fechou a R$ 1,884, com valorização de 2,17%.
"O Brasil tem hoje muita liquidez, com investidores de
prazo muito curto, que conseguem entrar e sair muito rápido", disse Sergio Garibian, diretor da área de fundos da
agência Standard & Poor's.
Alguns fundos de hedge de
perfil mais agressivo estão "severamente" expostos a ativos
brasileiros e ao real em particular. A necessidade de realinhamento desses fundos durante esses períodos de instabilidade é hoje uma das maiores
preocupações do mercado global e um dos fatores que motivaram as últimas correções na
Bolsa, segundo analistas.
Além do perigo de esse capital sair a qualquer momento,
há o risco de uma improvável
crise brasileira -motivada por
rebaixamento na avaliação de
risco do país ou pela ascensão
de um candidato considerado
hostil ao mercado na eleição
presidencial. "Um evento desses tem potencial de machucar
muita gente", disse Ajay Kapur,
da Mirae Asset, de Hong Kong,
que tem advertido sobre o alto
preço de ações brasileiras.
Segundo Will Landers, gestor da americana BlackRock, os
fundos especializados em
América Latina chegam a ter
entre 75% e 80% de ativos brasileiros, expostos à variação do
real. No caso dos fundos emergentes em geral, a exposição ao
Brasil está hoje próxima de
18%. Para lidar com o risco brasileiro crescente, a BlackRock
evita que a exposição de uma
empresa nos fundos ultrapasse
cinco dias de negócios na Bolsa.
"Se a gente quiser sair, que possa fazer de uma maneira ordenada", disse Landers.
Para Garibian, da S&P, o juro
baixo nos EUA incentivou
apostas em ações no Brasil. Para a agência, o maior risco não é
um evento não esperado, mas o
provável aumento dos juros
nos EUA, que deve motivar um
reposicionamento dos investidores. A agência acredita que
os reguladores estão de olho na
superexposição dos fundos e
cobrarão mais transparência
dos gestores.
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