São Paulo, sexta-feira, 05 de fevereiro de 2010

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BC reforça expectativa de que vai aumentar os juros

Para Copom, sinais de retomada se intensificam e elevam os riscos de inflação

Órgão diz na ata da reunião da semana passada que, se houver piora no cenário para a inflação, vai adequar sua "estratégia" às circunstâncias


Ricardo Moraes - 3.fev.10/Reuters
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um dos documentos mais pessimistas desde a piora na crise econômica, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) reforçou as expectativas de que a taxa básica de juros deve subir em breve. Para o órgão, os sinais de recuperação da economia se intensificaram. Com isso, cresceram também os riscos de que a inflação possa terminar o ano acima do centro da meta de 4,5%.
Essas análises fazem parte da ata da última reunião do Copom, que na semana passada manteve os juros em 8,75% ao ano. As apostas da maioria do mercado são que a Selic comece a subir em abril. Alguns economistas, no entanto, já trabalham com a possibilidade de que isso ocorra já no próximo encontro do BC, em março.
Para a instituição, os principais riscos para a inflação são uma eventual elevação dos preços de commodities no exterior e os efeitos defasados dos incentivos para recuperação da economia anunciados em 2009, o chamado "impulso fiscal e creditício". O próprio Ministério da Fazenda já começou a retirar parte desses "impulsos" com o fim de benefícios fiscais para a compra de eletrodomésticos, uma forma de tentar adiar o aumento dos juros.
O BC diz, no entanto, que qualquer mudança realizada neste momento só afetará a economia em meados de 2010. Por isso, "decisões alternativas de política monetária" (leia-se, alta dos juros) serão tomadas com base nas expectativas para a inflação, ao invés de "privilegiar" dados já divulgados.
A instituição ressalta ainda que a tendência nas economias menos afetadas pela crise, e que se recuperam mais rapidamente, é hoje a adoção de uma política monetária mais restritiva. Diz ainda que, se houver piora no cenário para a inflação, vai adequar a sua "estratégia" às circunstâncias.
Essa expressão não era utilizada desde as atas do início de 2008, quando o Banco Central iniciou o último ciclo de alta dos juros, segundo Guilherme da Nóbrega, economista do Itaú Unibanco. "O comitê voltou a se preocupar com a inflação, um território que, até recentemente, era considerado seguro pelo Banco Central."

Preocupação
O Copom também diz estar preocupado com as previsões de inflação feitas pelo mercado, que já aposta em taxa acima do centro da meta. Disse que irá monitorar "com particular atenção" o comportamento dessas expectativas.
Mesmo com essa preocupação adicional, o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto, diz que o aumento dos juros só deve ser adiado para o segundo semestre se houver um movimento muito forte de deterioração da economia mundial.
Roberto Padovani, do Banco WestLB, também mantém as apostas de alta da Selic em abril. Ele destaca que as projeções de inflação do próprio BC estão "ao redor da meta", o que significa que o banco enxerga que não há necessidade de mexer na taxa imediatamente.
Em relação às expectativas de que fatores externos afetem a inflação, Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimento, diz que a principal preocupação apontada pelo BC são as commodities.
Sobre as tarifas e itens regulados, que têm um peso de quase 30% nos índices de inflação, o Copom manteve a previsão de estabilidade de preços para a gasolina e o gás de botijão.


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