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Banda larga estatal pode ter recursos do Orçamento
Teles acusam governo de barrar expansão do serviço
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal estuda
usar recursos do Orçamento
para bancar parte dos investimentos do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), que pretende levar a internet a 68%
dos domicílios nacionais até
2014. O valor pode chegar a R$
15 bilhões. As teles, que se reúnem hoje em Brasília para discutir o plano com o governo,
apoiam o projeto, mas não economizam em críticas.
A Folha teve acesso à carta
enviada pelas operadoras ao
presidente Lula em que elas
pediam uma audiência para
discutir o PNBL. No documento, elas já acusam o governo de
impedi-las de promover a universalização da banda larga ao
travar o Fust (Fundo para Universalização dos Serviços de
Telecomunicações).
Na carta, assinada por Antonio Carlos Valente, presidente
da Telebrasil (associação que
reúne as operadoras), elas dizem que o Fust deveria ser usado justamente para "a redução
de desigualdades entre regiões,
classes sociais e áreas urbanas
e rurais". Continuam: "Remover essa restrição [que já dura
onze anos] e rever os critérios
tributários para os serviços (...)
devem merecer um esforço
com total prioridade".
As teles consideram que,
apesar da "elevadíssima carga
tributária, que eleva de 44% a
50% o valor das faturas para o
usuário final", as operadoras
investiram R$ 170 bilhões nos
últimos onze anos e conectaram mais de 220 milhões de
usuários em mais de 37 mil localidades. "Todo esse desenvolvimento foi obtido sem recursos públicos."
A carta antecipa o que será o
debate de hoje com o governo.
Na prática, elas tentam se defender da acusação de que o
PNBL surgiu para obrigá-las a
competir e baixar preços, além
de levar o serviço a lugares com
pouco ou nenhum interesse
comercial, como pretende fazer agora o governo.
Um novo competidor
No documento, as teles se dizem preocupadas com a atuação do estado como prestador
de serviço ao usuário final, provavelmente com a reativação
da Telebrás, estatal que, antes
da privatização, agrupava as teles em cada Estado.
Ontem, Cezar Alvarez, assessor especial do presidente Lula
e um dos responsáveis pelo
PNBL, afirmou que o governo
atuará principalmente no atacado (ofertando sua infraestrutura -uma rede de fibras óticas- para que empresas privadas cheguem ao consumidor final), mas que poderá ofertar o
serviço no varejo.
"Se for mais barato levar de
forma direta do que contratar
quem está no mercado, eu farei.
Será uma questão de oportunidade e eficiência econômica.
Não gostaria. Quero vender minha rede a bons preços, inclusive com preço diferenciado, para fazer o subsídio chegar na
ponta. Agora, quem quiser pagar bem, vai pagar bem nos
mercados fortes. Se for necessário, faremos acesso direto ao
ponto. Isso não é um segredo",
disse Alvarez.
Ele deixou claro, porém, que
a opção preferencial do governo é pela parceria com as empresas, especialmente pequenos provedores. Nesse caso, a
estratégia é fornecer no atacado a preços mais baixos que o
das teles e deixar as empresas
levarem o serviço aos clientes.
Mas, onde não houver competição, a nova estatal vai atuar.
"Há 900 lugares em que não
chega ninguém. Onde o mercado está atuando de forma imperfeita, monopolista e com
preço exorbitante, não cumprindo função social, o governo
vai cumprir a função social que
o mercado não cumpre", disse.
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