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Etanol será commodity mundial, diz Shell
Vasco Dias, presidente da empresa no Brasil, diz que joint venture com Cosan possibilitará expansão no país e no exterior
Japão, EUA e Europa estão na mira da nova empresa; executivo afirma que ainda é preciso elevar o combate
à sonegação fiscal no setor
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A joint venture entre a Shell e
a Cosan, anunciada na última
terça, pretende transformar o
etanol brasileiro em uma commodity mundial. Com a nova
empresa, os dois grupos querem expandir as vendas do biocombustível no Brasil e no exterior. Japão, EUA e Europa estão na mira da nova empresa
-ainda sem nome definido.
"A meta da nova empresa é
crescer muito nos mercados interno e externo. Em alguns países já existe a mistura do álcool
na gasolina, e eles estão modificando a legislação para aumentar a participação do etanol",
afirma Vasco Dias, presidente
da Shell no Brasil.
O aumento nas vendas de
etanol nos últimos três anos e o
custo competitivo de produção
do combustível, com baixa
emissão de CO2, foram as principais razões que levaram a anglo-holandesa Shell a iniciar,
há pouco mais de um ano, conversas com o grupo Cosan.
Se o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) aprovar, a nova empresa
nasce com participação de perto de 19% no mercado total de
combustíveis do país, mesmo
índice do grupo Ultra/Ipiranga, segundo o Sindicom, sindicato das distribuidoras.
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista que Dias
concedeu à Folha.
FOLHA - Como ocorreu a aproximação entre a Shell e a Cosan?
VASCO DIAS - Os contatos começaram há pouco mais de um
ano. A Cosan é nossa fornecedora há décadas, e a Shell tem
como meta aumentar a participação de biocombustível em
sua matriz energética. O etanol
de cana-de-açúcar é o mais
vantajoso porque é um baixo
emissor de CO2, não compete
com comida, é sustentável, tem
custo de produção competitivo
e pode atender os mercados interno e externo. O Brasil é um
país-chave para a produção do
combustível. O varejo vem
crescendo nos últimos anos [a
taxas] três, quatro vezes acima
da indústria. A Cosan é líder
mundial na produção de primeira geração de álcool e tem a
possibilidade de transformar o
etanol que produz em uma
commodity mundial, usando a
capacidade da Shell, que tem
45 mil postos no mundo. Tudo
isso facilitou a fusão entre a
Shell e a Cosan.
FOLHA - A nova empresa já começou a prospectar mercados no exterior?
DIAS - A joint venture quer
crescer no Brasil e no exterior,
mas tudo vai depender de decisão comercial. A Shell e a Cosan
já exportam. Mas com certeza
EUA, Japão e países da Europa
serão alguns dos mercados.
FOLHA - Quanto o etanol representa da venda total de combustíveis
da Shell?
DIAS - O etanol já representa
cerca de um terço da venda total de combustíveis no país. Isto é, dos 9 bilhões de litros que a
Shell pretende comercializar
neste ano no Brasil, 3 bilhões
de litros são de álcool hidratado
e anidro. Esse mercado está
crescendo, em média, mais do
que 25% ao ano.
FOLHA - A Shell pretende comprar
outras distribuidoras para avançar
no mercado de combustíveis?
DIAS - A Shell tem crescido cerca de 10% ao ano em vendas, o
dobro do mercado. A meta é adquirir de 150 a 200 postos por
ano. Até a formação da joint
venture essa meta se mantém.
FOLHA - Os principais problemas
do setor de combustíveis são a adulteração e a sonegação fiscal. Isso
melhorou?
DIAS - Melhorou sim, e isso explica o por que de a Shell estar
investindo tanto dinheiro nesse mercado. Mas, sem dúvida, é
preciso aumentar a fiscalização
no setor de álcool, já que um
percentual significativo desse
combustível tem problema
[adulteração e sonegação fiscal]. O controle tem de ser feito
pela União, pelos Estados e pelas próprias companhias.
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