São Paulo, domingo, 05 de março de 2000


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MUNDO VIRTUAL
Site projeta um futuro diferente para a rua 25 de Março, ponto tradicional do atacado paulistano
Comércio popular cria "sacoleiro.com"

CÁTIA LASSALVIA
da Reportagem Local

As idas e vindas à rua 25 de Março -tradicional ponto dos "sacoleiros" e do comércio atacadista da cidade de São Paulo- podem estar com os dias contados.
Apesar de a Internet ainda ser um artigo de luxo, sua popularização tende a se acelerar nos próximos anos, aproximando interesses e encurtando distâncias.
Lançado há dois meses, o site "www.lotes25demarco.com.br" nasceu de uma parceria entre os amigos Wyllie Dachtelberg, comerciante há mais de seis anos, e o engenheiro Andrés Natenzon.
"Nossa idéia foi tentar dinamizar o que já fazíamos: facilitar o negócio de quem vende e de quem compra no atacado", explica Dachtelberg.
O comprador pode ser um grande atacadista, uma pequena empresa ou até mesmo o "sacoleiro" que viaja dias para buscar bons preços nas imediações da rua 25 de Março.
"Quem determina preço, quantidade mínima e exigências em relação ao cliente é o fornecedor, que anuncia gratuitamente todos os produtos que quiser", conta Natenzon. "Se o negócio for fechado, ganhamos 5%."

Fácil visualização
Os empresários investiram cerca de US$ 50 mil para colocar o site em funcionamento, criar um banco de dados e manter uma estrutura de atualização diária. "O negócio começou em janeiro e já perdemos a noção do retorno, pois cresceu além do esperado", diz Natenzon.
O site foi concebido para ser fácil de navegar e não inibir o comprador pequeno, sem traquejo virtual. Cada lote de produtos tem uma foto e os dados em uma ficha. "Além disso, quando uma pessoa tem uma loja ou uma banca com produtos de R$ 1,99, ela faz um cadastro gratuito e recebe diariamente as ofertas de venda que entram com esse perfil", diz Dachtelberg. "Isso vale para os 43 itens existentes e funciona como uma auto-alimentação do site."

Distância
"Não podemos escapar da Internet. Pretendo comprar um computador em breve", diz Belmiro Pereira Lopes, que carrega mais sacolas do que pode, debaixo do sol intenso na rua 25 de Março.
"Eu e minha mulher gastamos R$ 60 para vir de Pindamonhangaba a cada 15 dias para fazer compras. Pena que ainda não tenho condições de negociar pela Internet", disse Lopes, que revende artigos de papelaria em sua cidade desde que perdeu o emprego de metalúrgico em 90.
O importador de alimentos Yoseph Hanoch teve boas impressões do comércio virtual. "Vendi em 24 horas um lote com 750 bolos que não podia repassar a meus clientes -grandes atacadistas para classe A- devido à data de validade estar muito próxima", conta Hanoch, proprietário da Beni and Soonsfood Corporation.
Hanoch acha que o site tem a grande vantagem de ser democrático. "Se o fornecedor permitir, qualquer microrrevendedor pode comprar sem necessidade de ter cartão de crédito e de passar por muita burocracia", diz ele.
Interessado em ampliar seu rendimento, Osvaldo Reis e Silva, dono de uma pequena livraria na periferia de Olinda (PE), se cadastrou no site na sexta-feira. "Estou interessado em comprar produtos bem baratos, do tipo R$ 1,99, para colocar em uma banca na frente da loja", conta Silva.
"Comprei o computador para me divertir e, mesmo sem saber usá-lo direito, acho que é uma maneira confortável e rápida de pesquisar coisas que preciso comprar."


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