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VINICIUS TORRES FREIRE
Fed pede socorro e perdão de dívida
Bernanke sugere reestruturar débitos da casa própria e pede apoio estatal para atenuar ruína da finança imobiliária
APESAR DA carência recente de
notícias sensacionais, a economia americana continua a
murchar. Ontem, Ben Bernanke pediu a instituições financeiras que
perdoem dívidas da prestação da casa própria. Mais: Bernanke quer que
as empresas federais de securitização de dívida imobiliária expandam
suas atividades a fim de aumentar o
volume de financiamentos e barateá-los. Bernanke quer intervenção
estatal na ruína dos imóveis.
Sim, o banqueiro central dos Estados Unidos sugeriu uma "reestruturação da dívida", um reconhecimento explícito de que o consumidor
americano, movido a quase 15 anos
de bolhas financeiras, quebrou. O
objetivo de Bernanke seria atenuar
o ciclo de despejos e de aumento do
estoque de imóveis à venda, que provoca a queda de preços imobiliários,
desvalorização adicional do patrimônio das famílias e, pois, desestímulo ao consumo, o que derruba faturamento e valor das empresas.
Famílias endividadas dão mais calotes, que batem no balanço dos
bancos, que emprestam menos. A
baixa das Bolsas, das ações, reduz
mais ainda poupança, patrimônio e
a propensão a consumir do cidadão.
A ruína imobiliária geral afeta toda a
cadeia conexa à construção civil.
O índice mais expressivo das
ações americanas, o S&P 500, está
no vermelho em 8,5% no ano. O lucro de 3.155 empresas americanas
abertas caiu 52% no quatro trimestre de 2007 ante o mesmo trimestre
de 2006. Trimestre contra trimestre
do ano anterior, caíra 24% no terceiro e subira 14% e 10%, no segundo e
no primeiro. O lucro das 500 empresas do S&P cairia mais 20% no primeiro e no segundo trimestres de
2008, segundo enquete da Bloomberg com analistas financeiros.
Nós com isso? A Opep deve decidir a partir de hoje que o preço de
frango, xarope de milho, óleo de soja, espaguete ou algodão continuará
alto no curto prazo, excluída a hipótese de um meteorito financeiro explodir um banco americano.
Sim, a Opep é o cartel do petróleo.
Mas álcool é, em parte, substituto de
petróleo. De milho se faz álcool. Petróleo caro aumenta a procura de
milho. Nas presentes condições do
comércio mundial (protecionismo
agrícola) e sob a atual tecnologia,
milho mais caro expulsa lavouras de
soja e trigo, que expulsam as de algodão. Soja e milho alimentam "carnes". Subprodutos desses grãos, de
açúcares a bioquímicos, são insumos da indústria de alimentos.
A demanda de comida, combustível e metais na "Chíndia" parece em
parte ter assumido dinâmica própria. De resto, devido a especulação
ou a "correção monetária", a desvalorização do dólar ajuda a inflacionar o preço de commodities.
Commodities tornaram-se ainda
alternativas de aplicação financeira
para Bolsas em queda e juros baixos,
além de meio de proteção contra a
inflação (em parte causada por commodities. É uma bolha em formação?). Alimentos caros sustentam o
câmbio e/ou a atividade econômica
de países pobres e emergentes que
os produzem. Assim, sustentam
parte da demanda global, de commodities não-agrícolas ou de bens
industrializados, até americanos.
Essa combinação é inédita e muito
estranha: a tempestade que se arma
nos EUA e a resistência da economia
de pobres e emergentes.
vinit@uol.com.br
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