São Paulo, quinta-feira, 05 de março de 2009

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China diz que estímulo fará país crescer 8% neste ano

Premiê vai ao Congresso Nacional do Povo detalhar medidas para acelerar a economia

Previsão de crescimento do governo supera a dos economistas; expectativa em relação a novas medidas animou Bolsas pelo mundo


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O primeiro-ministro chinês, Wen Jibao, afirmou que a economia da China deverá crescer 8% neste ano, a despeito da crise global. O anúncio foi feito hoje pela manhã (horário da China), na abertura do encontro do Congresso Nacional do Povo, o Legislativo chinês, que se reúne uma vez por ano.
Havia a expectativa de que o governo dobrasse o pacote de estímulo de 4 trilhões de yuans (R$ 1,39 trilhão, ou três vezes o total das exportações brasileiras em um ano), anunciado em novembro. Os rumores da duplicação e de que saísse a previsão de mais investimentos em infraestrutura foram dois dos motivos para a valorização ontem das principais Bolsas no mundo (leia à pág. B10).
Até o fechamento desta edição, no entanto, a ampliação do pacote não havia sido anunciada no início do encontro anual.
A estimativa de crescimento da economia feita pelo primeiro-ministro é maior que os 6% ou 7% previstos pela maioria dos economistas, mais pessimistas. Oito é número da sorte e da fortuna para os chineses. O governo costuma dizer que, se a economia cresce abaixo desse número, é impossível gerar empregos para os 15 milhões de chineses que trocam o campo pelas cidades por ano e para os 7 milhões que se formam na universidade anualmente.
Jiabao também disse ontem que o déficit orçamentário do país deve crescer para 950 bilhões de yuans (US$ 138 bilhões), quase 3% do PIB chinês.
A economia chinesa, a terceira maior do mundo, deve ser a única entre as grandes a crescer neste ano entre 6% e 8%, bem abaixo dos 11,9% de 2007.
As exportações caíram 17,5% em janeiro em relação a 2008 e devem continuar a cair, segundo economistas, com a recessão nos mercados americano e europeu, responsáveis por mais de 50% das vendas chinesas.
O BC chinês baixou cinco vezes a taxa de juros desde setembro, e o número de empréstimos em fevereiro deve ser recorde -US$ 161 bilhões.
"Houve mais venda de apartamentos em fevereiro e alguns preços de matérias-primas voltaram a subir, mas é cedo para falar de recuperação. O consumo privado e os investimentos ainda estão em queda", diz o economista Ben Simpfendorfer, do RBS, em Hong Kong.

Consumo e transparência
Apesar de a discussão no Congresso chinês ser meramente formal -a agenda é estabelecida pelo Partido Comunista, responsável pela aprovação dos 2.987 delegados, que sempre dizem sim ao que a liderança sugere-, o pacote provocou forte debate no partido.
Lideranças comunistas sugerem investimentos em grandes obras de infraestrutura para empregar parte dos 20 milhões de migrantes rurais que perderam o emprego no ano passado pela crise na construção civil e nas indústrias exportadoras.
Mas diversos economistas criticam em público tal "receita velha". A economia chinesa deveria ser menos dependente de investimentos e exportações, com o comércio global em contração, e tentar fortalecer o consumo doméstico. Preocupado com a corrupção, um grupo de veteranos do Partido Comunista escreveu ao presidente chinês, Hu Jintao, pedindo transparência e responsabilidade na aplicação do pacote.


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