São Paulo, Sexta-feira, 05 de Março de 1999
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Parte dos recursos do FMI pode ser usada no controle do dólar

da Sucursal de Brasília

O Banco Central irá usar parte dos recursos obtidos no acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para intervir no mercado de câmbio. A informação foi dada ontem à tarde pelo novo presidente do Banco Central, Armínio Fraga, seis horas depois de tomar posse no cargo.
"Ao longo dos próximos meses, como parte do financiamento externo, nós teremos um volume de recursos que poderá ser usado para atender à demanda do mercado", afirmou. Do empréstimo de US$ 41,5 bilhões, o FMI só liberou a primeira parcela no valor de US$ 9,3 bilhões em dezembro.
As declarações de Fraga mostram que o governo brasileiro conseguiu convencer os técnicos do Fundo de que parte da ajuda externa é fundamental para evitar grandes oscilações na cotação do dólar. As regras de intervenção foram negociadas com o FMI, mas não devem ser divulgadas publicamente.
Sem alteração no acordo com o FMI, de pouco adiantariam para o BC os recursos ainda a serem recebidos do empréstimo externo.
Pelo acordo com o FMI, as reservas líquidas (descontando o dinheiro recebido do Fundo) do BC não podem ficar abaixo de US$ 20 bilhões. Anteontem, as reservas totais estavam em US$ 35,02 bilhões, sendo US$ 9,3 bilhões do empréstimo externo.
Por essa regra, portanto, o BC teria apenas US$ 6 bilhões para intervir no mercado -quantia considerada pequena para atender a busca pela moeda norte-americana. Agora, o BC terá mais munição para intervir no mercado, o que não significa mudança na política cambial adotada em 15 de janeiro.
Fraga disse que, nos regimes de câmbio flutuante, as intervenções no mercado de câmbio são ocasionais. Sem revelar detalhes da política cambial, ele disse que o BC tem "liberdade para intervir" quando considerar a cotação anormal. Mas, pelo que vem sendo feito, o BC está atuando apenas para evitar grandes oscilações.
"Nós certamente não ficaremos de braços cruzados", afirmou Fraga, quando foi questionado sobre o comportamento do BC a partir de agora. A cotação do dólar será definida pelo mercado, disse, afirmando que o governo não trabalha com uma cotação considerada ideal.
Ele afirmou, porém, que, se a cotação do dólar oscilar muito no curto prazo, o governo poderá reforçar as políticas monetária e fiscal. Ele descartou medidas que quebrem contratos e a centralização cambial. Disse ainda que o BC não vai deixar de fiscalizar as instituições financeiras.
Fraga avaliou que, antes de sua chegada, o mercado de câmbio passou por momentos de turbulência. Por isso, a fiscalização de operações cambiais iniciada pela diretoria que deixou o BC foi "uma resposta à sociedade", indicando que as movimentações no mercado não eram razoáveis.
Conforme o BC, as reservas internacionais caíram US$ 9,53 bilhões de dezembro de 1998, quando estavam em US$ 44,55 bilhões, até anteontem, quando o saldo estava em US$ 35,02 bilhões. Se a comparação for com o saldo de 29 de janeiro (US$ 36,11 bilhões), a queda foi de US$ 1,09 bilhão.
Fraga disse que os investimentos estrangeiros diretos neste ano deverão ficar em pelo menos US$ 18 bilhões, o que representará uma queda de 31% em relação aos US$ 26,10 bilhões que ingressaram no ano passado. Mesmo assim, os recursos serão suficientes para cobrir o rombo das contas externas.


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