São Paulo, quinta-feira, 05 de abril de 2007

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Secretário da Fazenda deixa o governo

Saída de Gomes de Almeida acontece depois de críticas recentes à política cambial; Appy é apontado para o seu lugar

Secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa ganha força no ministério após elaborar PAC


LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Guido Mantega foi obrigado a anunciar ontem mudanças na Fazenda para estancar crise aberta pelas duras críticas à política cambial feitas recentemente pelo secretário de Política Econômica, Júlio Sérgio Gomes de Almeida.
Mantega aceitou a demissão de Gomes de Almeida e nomeou o atual secretário-executivo, Bernard Appy, como substituto. Já o ex-ministro da Previdência Social Nelson Machado foi confirmado na secretaria executiva da pasta. As permanências dos secretários do Tesouro, Tarcísio Godoy, e da Receita Federal, Jorge Rachid, continuam indefinidas.
"Ele [Godoy] vai continuar [como interino]. O Rachid continua. A gente nunca pode dizer isso [que as mudanças estão concluídas], mas no momento não há nenhuma nova mudança em vista", disse o ministro.
A saída de Gomes de Almeida não deve mudar os rumos das políticas da Fazenda, mas terá impacto interno. Appy, que vinha se desentendendo com Mantega, ficará responsável pela reforma tributária e a chamada agenda microeconômica.
Ganha força o secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa. Responsável pela elaboração do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e colaborador no programa da campanha à reeleição, ele deve reforçar seu papel como principal macroeconomista da Fazenda.
Gomes de Almeida, que havia sido convidado pelo próprio Mantega, formalizou sua demissão na segunda-feira. Mas Mantega pretendia mantê-lo por mais algum tempo.
A situação do secretário, no entanto, tornou-se insustentável depois de entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" dizendo que o real sobrevalorizado era um "problema terrivelmente ruim". O comentário foi uma resposta a Nelson Barbosa, que dissera que o câmbio era um "problema bom" pois refletia as melhoras na economia.
Na semana passada, Gomes de Almeida já havia dado declarações que causaram mal-estar na Fazenda. Na sexta-feira, havia dito à Folha que, com o real sobrevalorizado, a indústria iria "virar pó". No mesmo dia, Mantega havia dito, como Barbosa, que o câmbio era reflexo da força da economia.
O ministro negou que a saída do secretário tenha sido influenciada por seus comentários, mas reconheceu que não foram apropriados. "Ele já tinha pedido a saída. Eu apenas estava pensando se aceitava ou não. E ele já falou como se estivesse fora do ministério. Usou uma linguagem de alguém que já tivesse voltado para a iniciativa privada", afirmou.
O ministro fez questão de desautorizar as declarações de seu ex-secretário. "Não está havendo nenhuma sobrevalorização desenfreada. O fato é que a flutuação é pequena [no último ano], levando em conta todos esses fatores positivos que estamos vivendo", disse.
Mantega também defendeu a política monetária do Banco Central, que havia sido apontada por Gomes de Almeida como razão para o desequilíbrio cambial. "É uma opinião pessoal. Evidentemente, eu não concordo. Acredito que o BC está praticando a política monetária adequada", disse.
Em agosto, ao comentar pedido do então ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) de desonerações, Gomes de Almeida respondeu que "nem que o governo arriasse as calças" as concederia.


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