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Secretário da Fazenda deixa o governo
Saída de Gomes de Almeida acontece depois de críticas recentes à política cambial; Appy é apontado para o seu lugar
Secretário de Acompanhamento Econômico, Nelson Barbosa ganha força no ministério após elaborar PAC
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
foi obrigado a anunciar ontem
mudanças na Fazenda para estancar crise aberta pelas duras
críticas à política cambial feitas
recentemente pelo secretário
de Política Econômica, Júlio
Sérgio Gomes de Almeida.
Mantega aceitou a demissão
de Gomes de Almeida e nomeou o atual secretário-executivo, Bernard Appy, como substituto. Já o ex-ministro da Previdência Social Nelson Machado foi confirmado na secretaria
executiva da pasta. As permanências dos secretários do Tesouro, Tarcísio Godoy, e da Receita Federal, Jorge Rachid,
continuam indefinidas.
"Ele [Godoy] vai continuar
[como interino]. O Rachid continua. A gente nunca pode dizer
isso [que as mudanças estão
concluídas], mas no momento
não há nenhuma nova mudança em vista", disse o ministro.
A saída de Gomes de Almeida
não deve mudar os rumos das
políticas da Fazenda, mas terá
impacto interno. Appy, que vinha se desentendendo com
Mantega, ficará responsável
pela reforma tributária e a chamada agenda microeconômica.
Ganha força o secretário de
Acompanhamento Econômico,
Nelson Barbosa. Responsável
pela elaboração do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e colaborador no programa da campanha à reeleição, ele deve reforçar seu papel
como principal macroeconomista da Fazenda.
Gomes de Almeida, que havia
sido convidado pelo próprio
Mantega, formalizou sua demissão na segunda-feira. Mas
Mantega pretendia mantê-lo
por mais algum tempo.
A situação do secretário, no
entanto, tornou-se insustentável depois de entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" dizendo que o real sobrevalorizado era um "problema terrivelmente ruim". O comentário foi
uma resposta a Nelson Barbosa, que dissera que o câmbio era
um "problema bom" pois refletia as melhoras na economia.
Na semana passada, Gomes
de Almeida já havia dado declarações que causaram mal-estar
na Fazenda. Na sexta-feira, havia dito à Folha que, com o real
sobrevalorizado, a indústria
iria "virar pó". No mesmo dia,
Mantega havia dito, como Barbosa, que o câmbio era reflexo
da força da economia.
O ministro negou que a saída
do secretário tenha sido influenciada por seus comentários, mas reconheceu que não
foram apropriados. "Ele já tinha pedido a saída. Eu apenas
estava pensando se aceitava ou
não. E ele já falou como se estivesse fora do ministério. Usou
uma linguagem de alguém que
já tivesse voltado para a iniciativa privada", afirmou.
O ministro fez questão de desautorizar as declarações de
seu ex-secretário. "Não está
havendo nenhuma sobrevalorização desenfreada. O fato é
que a flutuação é pequena [no
último ano], levando em conta
todos esses fatores positivos
que estamos vivendo", disse.
Mantega também defendeu a
política monetária do Banco
Central, que havia sido apontada por Gomes de Almeida como razão para o desequilíbrio
cambial. "É uma opinião pessoal. Evidentemente, eu não
concordo. Acredito que o BC
está praticando a política monetária adequada", disse.
Em agosto, ao comentar pedido do então ministro Luiz
Fernando Furlan (Desenvolvimento) de desonerações, Gomes de Almeida respondeu que
"nem que o governo arriasse as
calças" as concederia.
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