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LUÍS NASSIF
A EBX e o interesse nacional
Em todo esse imbróglio boliviano, é importante não
confundir o interesse nacional
nem o da Petrobras com o do
empresário Eike Batista, da
EBX, a siderúrgica que se instalou na fronteira da Bolívia com
o Brasil para produzir coque a
partir do carvão vegetal.
A assessoria de Eike fez a gentileza de me remeter o relatório
que supostamente atestaria a legalidade da operação de Eike na
Bolívia. Pelo relatório, fica-se
sabendo que a EBX se instalou
em Puerto Quijarro, próximo à
fronteira do Brasil.
A licença de construção foi
concedida pela resolução 003 de
junho de 2006 (provavelmente
deve ser junho de 2005), pelo
município de Puerto Quijarro,
"tendo sido posteriormente encaminhada ao Ministério de
Minas e, finalmente, ao vice-ministro do Meio Ambiente". Ora,
o simples fato de o município
encaminhar o pedido ao governo federal revela o óbvio: que ele
não era a autoridade adequada
para conceder a licença ambiental.
No dia 17 de janeiro de 2006
-ainda de acordo com os documentos da EBX-, Evo Morales
promulgou um novo regulamento ambiental. A licença ambiental solicitada pela EBX foi
rejeitada em 17 de março de
2006. Segundo o relatório, a
EBX considera que o novo regulamento ambiental não é aplicável ao seu caso, pelo fato de a
licença ter sido solicitada antes,
em 2005. Ora, pelo próprio documento a licença não tinha sido concedida e já havia quatro
fornos implantados.
Além de ter se instalado irregularmente -porque confessadamente sem licença ambiental-, em um ambiente conturbado como o boliviano, a EBX
ajudou a botar coque na fornalha, jogando a Província de
Santa Cruz contra o Executivo
federal.
Há muitas versões sobre os
métodos de Eike na Bolívia. Recebi material da imprensa boliviana remetido por jornalistas
de lá e leitores de cá. São informações pesadas, mas que, em
todo caso, exigiriam uma visita
in loco para serem comprovadas.
Quanto ao risco Bolívia, seria
relevante uma reconstituição
dos passos que levaram à implantação do gasoduto. Na semana passada, o ex-embaixador Rubens Barbosa, hoje na
Fiesp (Federação das Indústrias
do Estado de São Paulo), exortou o governo a tomar uma atitude drástica para defender os
interesses da Petrobras, "porque
na Bolívia não há o recurso da
indenização".
No primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, ainda
embaixador em Londres, Barbosa foi o grande defensor da
associação da Petrobras com a
British Gas, para a construção
do gasoduto. Desfilou em Brasília para baixo e para cima com
a belíssima lobista da British
Gas.
O então ministro do Planejamento, José Serra, tentou como
pôde segurar o projeto, devido à
reconhecida instabilidade política e jurídica da Bolívia e pelo
receio de aumentar a densidade
populacional da fronteira, o que
tornaria praticamente incontrolável o tráfico de drogas.
Fez mal o governo FHC em
concordar com o gasoduto? Provavelmente não. A integração
continental é uma inevitabilidade, que será alcançada superando episódios como esse.
É evidente que os interesses
nacionais têm que ser defendidos. E só o serão adequadamente com cabeça fria e com informações suficientes para definir
a estratégia de negociação.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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