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Bolivianos seguem em
confronto na fronteira
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PUERTO SUÁREZ
Cidades bolivianas na fronteira
com o Brasil, próximo a Corumbá
(MS), vivem desde anteontem à
noite um confronto entre a etnia
colla -que apóia a decisão do
presidente da Bolívia, Evo Morales, de expulsar do país a siderúrgica brasileira EBX- e a etnia
camba, contrária à medida tomada no início de abril, antes da nacionalização do gás.
Ontem, cerca de cem manifestantes cambas de Puerto Suárez
-principal município da região- fecharam a rodovia de
acesso à cidade e furaram pneus
de carros com placas de Puerto
Quijarro e Arroyo Concepcion,
cidades onde a maioria dos moradores é colla.
A reportagem estava em um táxi dirigido por um colla em direção a Puerto Suárez. Ao chegar
próximo ao bloqueio, o carro foi
cercado por manifestantes e os
pneus, furados.
O movimento em Puerto Suárez
foi uma resposta ao confronto de
anteontem à noite na ponte de
acesso ao Brasil, em Arroyo Concepcion, quando cerca de 200 comerciantes collas expulsaram a
pedradas e pauladas ao menos 50
cambas.
Esses faziam parte do movimento que fechava desde sexta-feira passada a fronteira, em protesto contra a expulsão da EBX da
Bolívia.
Após o confronto, foi liberada a
passagem na fronteira ontem. No
posto de combustível mais próximo, em Puerto Quijarro, formou-se uma fila de caminhões e carros
brasileiros.
O litro de gasolina na Bolívia
custa R$ 1,25. Em Corumbá, custa
R$ 2,80.
Recuados para lado brasileiro
da ponte anteontem à noite, os
cambas dormiram próximos ao
pátio da Receita Federal e no fim
da manhã, com a dispersão de
seus rivais, voltaram à Bolívia.
Edil Gericke, presidente do Comitê Cívico de German Busch
(província que reúne as três cidades em conflito), fez uma reunião
e decidiu montar a barreira com
pedras e paus na estrada que liga
Puerto Suárez à fronteira, ou seja,
a circulação ficou livre apenas em
Puerto Quijarro e Arroyo Concepcion, cidades mais próximas
ao Brasil.
Os manifestantes cívicos também mantiveram fechados trechos da ferrovia e o aeroporto.
Com isso, a fronteira está sem ligação com a cidade de Santa Cruz
de La Sierra.
Em Arroyo Concepcion, primeira cidade boliviana após Corumbá, parte das lojas da feira e
do comércio bolivianos voltou a
abrir ontem.
"Nunca fomos a favor da EBX.
Fechamos a porta com medo de
saques", afirmou o presidente da
associação de comércio local,
Marcos Lafuentes.
Com investimento de US$ 150
milhões, a siderúrgica brasileira
do grupo EBX estava sendo construída em Puerto Quijarro -a 15
km de Corumbá.
O primeiro forno seria ativado
em abril, mas o presidente boliviano Evo Morales afirmou que a
usina não tinha licença ambiental
e estava construindo na faixa de
50 km da fronteira, em território
boliviano, onde a Constituição
andina proíbe investimentos estrangeiros.
Empregos e comércio
Presidente do Comitê Cívico de
Puerto Quijarro, Esperanza Padilha disse que -com o fechamento da siderúrgica- 940 bolivianos, quase todos cambas, perderam o emprego e, por isso, houve
o fechamento da fronteira.
Os comerciantes, que em sua
maioria são collas, sentiram-se
prejudicados com brasileiros
consumidores sendo barrados.
O impasse econômico aflorou o
conflito de etnias. "Esses [collas]
são índios. Estão a serviço de Evo
[Morales]", afirmou Padilha.
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