São Paulo, sábado, 05 de maio de 2007

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Juros não se baseiam só em modelos, afirma BC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central divulgou ontem uma nota em que tenta dar mais detalhes sobre o funcionamento do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) e, rebatendo algumas críticas, ressaltou que as decisões referentes a sua política de juros não são tomadas com base apenas em modelos estatísticos, sendo consideradas também as opiniões referentes à situação da economia brasileira.
O texto, intitulado "O Processo de Decisão do Comitê de Política Monetária", foi preparado pela equipe do diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, e publicado na internet (www.bcb.gov.br).
Atualmente a taxa básica de juro da economia, a Selic, está em 12,5% ao ano.
Uma crítica feita com freqüência ao BC, desde a implantação do sistema de metas de inflação, em 1999, é a importância dada pelo Copom aos modelos estatísticos no momento de fixar a taxa de juros -para muitos analistas, esses modelos não conseguem prever com exatidão o rumo da economia e não deviam ser levados tão a sério.
Por meio de sua assessoria de imprensa, o BC afirma que a publicação do estudo não foi motivada por nenhum evento específico e que o documento faz parte de uma série de trabalhos que, nos últimos anos, são produzidos sobre alguns aspectos da economia.
Nas últimas semanas, mudanças na composição da diretoria do BC têm despertado dúvidas sobre decisões que serão tomadas nas próximas reuniões do Copom.
Desde março, deixaram os cargos os dois diretores que eram apontados como mais ortodoxos, Afonso Bevilaqua e Rodrigo Azevedo.
O substituto de Azevedo, Mario Torós, chegou a afirmar, durante sabatina no Senado, que via espaço para que o juro pudesse "cair muito mais".

Caráter técnico
O economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz, diz que o documento pode reforçar o caráter técnico do Copom, para que o BC não seja acusado de agir politicamente caso decida reduzir a taxa Selic de uma forma mais acelerada nos próximos meses.
Ainda que ressalte o caráter técnico dessas decisões, o texto divulgado ontem tenta desmistificar a visão de que o Copom dá uma atenção excessiva a modelos econométricos. "Na condução da política monetária no Brasil, à semelhança do que acontece em qualquer outra importante economia de mercado, o exercício do julgamento é fundamental."
O texto ainda diz que "é importante que projeções de inflação, indicadores antecedentes e todos os demais instrumentos de análise utilizados pelo comitê sejam combinados com o julgamento dos membros do Copom", seguindo "a prática dos bancos centrais modernos".
Para Lintz, essas afirmações podem ser um sinal de que os juros vão cair de forma mais acelerada nos próximos meses. Isso porque é a primeira vez que o BC afirma, diretamente, que existem indicadores que, apesar de não serem considerados nos modelos estatísticos, também influenciam no rumo da taxa Selic.
Entre esses indicadores estaria, segundo Lintz, a expectativa de que o dólar continue em queda por mais algum tempo. "Se o cenário para o câmbio for mantido, não tem porque o BC não cortar mais os juros", afirma o economista.
Lintz ressalta que a possibilidade de o dólar voltar a subir é um dos riscos à estabilidade da inflação. Porém, devido a operações que o BC tem feito no mercado futuro de dólar, dificilmente a moeda dos EUA vai voltar a subir de forma significativa no curto prazo -e isso não é captado pelos modelos usados nas reuniões do Copom.


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