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Juros não se baseiam só em modelos, afirma BC
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central divulgou
ontem uma nota em que tenta
dar mais detalhes sobre o funcionamento do Copom (Comitê de Política Monetária do BC)
e, rebatendo algumas críticas,
ressaltou que as decisões referentes a sua política de juros
não são tomadas com base apenas em modelos estatísticos,
sendo consideradas também as
opiniões referentes à situação
da economia brasileira.
O texto, intitulado "O Processo de Decisão do Comitê de
Política Monetária", foi preparado pela equipe do diretor de
Política Econômica do BC, Mário Mesquita, e publicado na internet (www.bcb.gov.br).
Atualmente a taxa básica de
juro da economia, a Selic, está
em 12,5% ao ano.
Uma crítica feita com freqüência ao BC, desde a implantação do sistema de metas de
inflação, em 1999, é a importância dada pelo Copom aos
modelos estatísticos no momento de fixar a taxa de juros
-para muitos analistas, esses
modelos não conseguem prever com exatidão o rumo da
economia e não deviam ser levados tão a sério.
Por meio de sua assessoria
de imprensa, o BC afirma que a
publicação do estudo não foi
motivada por nenhum evento
específico e que o documento
faz parte de uma série de trabalhos que, nos últimos anos, são
produzidos sobre alguns aspectos da economia.
Nas últimas semanas, mudanças na composição da diretoria do BC têm despertado dúvidas sobre decisões que serão
tomadas nas próximas reuniões do Copom.
Desde março, deixaram os
cargos os dois diretores que
eram apontados como mais ortodoxos, Afonso Bevilaqua e
Rodrigo Azevedo.
O substituto de Azevedo,
Mario Torós, chegou a afirmar,
durante sabatina no Senado,
que via espaço para que o juro
pudesse "cair muito mais".
Caráter técnico
O economista-chefe do BNP
Paribas, Alexandre Lintz, diz
que o documento pode reforçar
o caráter técnico do Copom,
para que o BC não seja acusado
de agir politicamente caso decida reduzir a taxa Selic de uma
forma mais acelerada nos próximos meses.
Ainda que ressalte o caráter
técnico dessas decisões, o texto
divulgado ontem tenta desmistificar a visão de que o Copom
dá uma atenção excessiva a modelos econométricos. "Na condução da política monetária no
Brasil, à semelhança do que
acontece em qualquer outra
importante economia de mercado, o exercício do julgamento
é fundamental."
O texto ainda diz que "é importante que projeções de inflação, indicadores antecedentes e todos os demais instrumentos de análise utilizados
pelo comitê sejam combinados
com o julgamento dos membros do Copom", seguindo "a
prática dos bancos centrais
modernos".
Para Lintz, essas afirmações
podem ser um sinal de que os
juros vão cair de forma mais
acelerada nos próximos meses.
Isso porque é a primeira vez
que o BC afirma, diretamente,
que existem indicadores que,
apesar de não serem considerados nos modelos estatísticos,
também influenciam no rumo
da taxa Selic.
Entre esses indicadores estaria, segundo Lintz, a expectativa de que o dólar continue em
queda por mais algum tempo.
"Se o cenário para o câmbio for
mantido, não tem porque o BC
não cortar mais os juros", afirma o economista.
Lintz ressalta que a possibilidade de o dólar voltar a subir é
um dos riscos à estabilidade da
inflação. Porém, devido a operações que o BC tem feito no
mercado futuro de dólar, dificilmente a moeda dos EUA vai
voltar a subir de forma significativa no curto prazo -e isso
não é captado pelos modelos
usados nas reuniões do Copom.
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