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Cortadores de cana fazem protesto por melhores condições
Manifestação aconteceu em Ribeirão Preto durante realização de feira agrícola; trabalhadores lançaram campanha salarial
Entre as reivindicações da categoria, estão a redução da jornada e o fim da exigência de cumprimento de metas de produção
JORGE SOUFEN JR.
FABRÍCIO FREIRE GOMES
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Pelo menos 400 bóias-frias
de várias regiões canavieiras do
Estado protestaram por melhores condições de trabalho
ontem, em Ribeirão Preto, em
frente à Agrishow, a maior feira
agropecuária do país. Houve
momentos de tensão com a Polícia Militar, que barrou parte
da passeata, e com seguranças
do evento, que impediram a entrada dos manifestantes.
O protesto marcou o lançamento da campanha salarial
dos trabalhadores. Seis dos nove itens da pauta estão ligados
às condições de trabalho -no
domingo, a Folha mostrou
que, segundo pesquisadores, a
vida útil dos cortadores de cana
se equipara à dos escravos no
período final da escravidão no
país, final do século 19.
Entre as reivindicações, estão jornada de 30 horas semanais -hoje é de 44-, aumento
do piso salarial de R$ 450 para
R$ 1.620, fim da exigência de
cumprimento de metas de produção, maior proteção à saúde,
controle da produção diária pelos próprios bóias-frias, fim dos
"gatos" (empreiteiros que
agenciam mão-de-obra), transporte seguro e alimentação
gratuita ("suficiente para garantir as necessidades nutricionais dos trabalhadores").
"A Agrishow está mostrando
para o mundo muita máquina e
tecnologia, mas não a situação
do homem do campo, uma vergonha para a sociedade", disse
Élio Neves, presidente da Feraesp (Federação dos Empregados Rurais Assalariados do
Estado de São Paulo).
A manifestação, organizada
pela Feraesp, teve apoio do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e
de sindicatos rurais das regiões
sucroalcooleiras do Estado.
Enquanto se dirigiam para a
feira, por uma das duas pistas
do Anel Viário Norte, policiais
militares estacionaram dois
veículos na pista, impedindo a
passagem do caminhão de som.
O clima ficou tenso. Os trabalhadores cortaram a pé o
bloqueio e fecharam a segunda
pista, impedindo o trânsito em
um dos sentidos da rodovia.
Após 20 min de negociação, os
dois bloqueios (o da PM e o dos
bóias-frias) foram retirados.
Comandante da operação da
PM, o capitão Wagner Aparecido Barato afirmou que os veículos da corporação foram estacionados para "diálogo". A
PM estimou 400 manifestantes. A Feraesp falou em 1.000.
Os bóias-frias encontraram
os portões fechados na Agrishow. Policiais fizeram uma
barreira do lado de fora do recinto. Cinco seguranças da feira impediram a passagem de
manifestantes. A coordenação
da Agrishow informou que estava à disposição para a entrada apenas de uma comissão.
Os manifestantes deixaram o
local às 15h15. A pauta deverá
ser entregue na semana que
vem à associação de usinas.
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