São Paulo, segunda-feira, 05 de maio de 2008

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Inflação é principal preocupação em reunião dos BCs

Escalada dos preços supera recessão como ameaça maior à economia e torna-se item prioritário em encontro na Suíça

Henrique Meirelles recebe elogios de colegas na Suíça; para eles, inflação sob controle motivou o país a obter grau de investimento

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A BASILÉIA

A inflação já é uma ameaça maior à economia mundial que o risco de recessão. Embora poucos se arrisquem a dizer que o pior da crise deflagrada no ano passado nos Estados Unidos tenha passado, a escalada dos preços é a principal preocupação dos presidentes de bancos centrais reunidos na Basiléia, na Suíça.
Há dois meses, o agravamento da crise nos EUA, a forte queda do dólar e a preocupação com os efeitos globais de uma recessão na maior economia do mundo dominaram o encontro dos banqueiros na sede do BIS (Banco de Compensações Internacionais). Agora, a prioridade é conter a inflação.
"Não há dúvida de que hoje fala-se muito mais sobre inflação do que numa possível recessão profunda", disse um banqueiro que participa das reuniões na cidade suíça.
A disparada nos preços dos alimentos, que pressionam a inflação, além de causar instabilidades sociais, é um dos temas em discussão entre os banqueiros. Eles consideram que o principal motivo do encarecimento de alimentos básicos, como o arroz, o trigo e o milho, é o aumento da demanda em países emergentes, como a Índia, a China e o Brasil, mais que a especulação.
Na última sexta-feira, o novo relator da ONU para O Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, criticou a comunidade internacional por não conter a ação dos especuladores, a quem atribuiu boa parte da culpa pela crise mundial dos alimentos. "Estamos pagando por 20 anos de erros", disse o relator. "Nada foi feito para evitar a especulação sobre as matérias-primas, apesar de ser previsível que os investidores se voltariam para esses mercados após a queda nos mercados de ações."

Elogios
O controle da inflação pelo Banco Central do Brasil tem sido considerado um dos principais motivos para o país ter recebido na semana passada o grau de investimento de uma agência de risco. O presidente do BC, Henrique Meirelles, que participa da reunião na Basiléia pela primeira vez após a reclassificação, recebeu elogios de seus colegas ontem, no primeiro dia de consultas do BIS.
A escalada da inflação deve reforçar a política do Banco Central Europeu, que resiste a cortar os juros na zona do euro, apesar da desaceleração econômica na região. No dilema entre o combate à inflação, que atinge os mais altos níveis em uma década na Europa, e o estímulo à economia, que deve crescer menos de 2% neste ano, o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, deve ficar com a primeira opção.
Pelo clima no primeiro dia de reunião do BIS, essa deve ser uma prioridade compartilhada pelos demais banqueiros.


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