São Paulo, terça-feira, 05 de maio de 2009

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Lucro do Bradesco cai 9,6% no 1º trimestre

Crédito estagnado e inadimplência maior afetam resultado do banco, que registrou ganho líquido de R$ 1,72 bi, o menor em dois anos

Participação da área de crédito no resultado total recuou de 26% para 15%; inadimplência ainda deve crescer mais, prevê banco


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O lucro permanece bilionário. Mas o Bradesco mostrou no primeiro balanço de 2009 de forma mais explícita o impacto da crise internacional em seu resultado. Em um cenário de crédito estagnado e aumento da inadimplência, o Bradesco computou lucro líquido de R$ 1,723 bilhão no primeiro trimestre -recuo de 9,6% sobre o mesmo período de 2008.
No fim de março, o Bradesco estava com uma carteira de crédito de R$ 214,29 bilhões, cifra 0,5% menor que o saldo de dezembro. O crédito vinha crescendo de forma contínua e sendo um dos grandes motores dos resultados do setor bancário brasileiro nos últimos nos anos.
A inadimplência, que tinha se estabilizado no ano passado, rondando os 3,5%, saltou para 4,3% dos empréstimos vencidos há mais de 90 dias, até março. Para o banco, o pior momento ainda não chegou.
Milton Vargas, vice-presidente do Bradesco, prevê que a inadimplência ainda vai subir até o fim do terceiro trimestre, podendo atingir um patamar em torno dos 4,9%, para apenas depois começar a melhorar.
"O crédito estacionou. Atendemos toda a demanda que apareceu, mas houve queda [na procura por empréstimos]", afirma Vargas.
Essa mudança de cenário se espelha na participação do crédito no resultado total do banco. De 26% do total no quarto trimestre de 2008, a contribuição do crédito para o resultado recuou para 15% no período que vai de janeiro a março.
Com a expectativa de inadimplência ainda crescente, o banco elevou em 11,3% sua provisão para devedores duvidosos -recursos reservados para possíveis perdas com crédito-, que alcançou saldo de R$ 11,42 bilhões. O aumento da provisão prejudica o resultado líquido das companhias.
"O balanço deixa mais clara a posição assumida pelo banco diante da crise, ao se tornar mais seletivo para conceder crédito", afirma Luis Miguel Santacreu, analista financeiro da Austin Rating. "Pior seria se o banco estivesse ainda concedendo crédito de forma acelerada em um cenário que não é muito favorável. Isso poderia acabar por se refletir em uma inadimplência muito mais preocupante", afirma.
O R$ 1,723 bilhão de lucro líquido do banco representou o mais fraco resultado desde o 1º trimestre de 2007. E, se não fosse a tesouraria do banco, o resultado da instituição seria ainda mais fraco. É por meio da tesouraria que as empresas conseguem ganhos por meio de aplicações no mercado e em títulos do governo. A participação da tesouraria no resultado subiu de 6% no primeiro trimestre de 2008 para 17% agora.
No caso das receitas com prestação de serviços (como tarifas e taxas cobradas de contas, cartões e mesmo de fundos de investimento), que respondem por 24% do resultado do banco, o que se viu também foi estagnação. O crescimento trimestral nesse segmento ficou em apenas 0,7%.


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