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ANÁLISE
Alta dos juros pode ser menor que a prevista
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de provocar sustos no
começo do ano, nas últimas semanas os índices de inflação
têm apurado algum arrefecimento do ímpeto de alta dos
preços, tanto no atacado como
no varejo. Ainda assim, as expectativas de inflação continuaram a piorar, de forma gradual, mas quase ininterrupta.
Dois fatores, em especial, parecem responder pelo fato de as
instituições especializadas estarem projetando, em média,
altas do IPCA de 5,4% em 2010
-claramente acima da meta de
4,5%- e de 4,8% em 2011 (ligeiramente acima da meta, também de 4,5%).
O primeiro fator é o aumento
das pressões de custos provocado pela recuperação das cotações das commodities agrícolas
e minerais (com destaque para
o salto do preço do minério de
ferro). Essa recuperação reflete
a reativação da demanda global, sobretudo nas regiões ditas
emergentes, à medida que se
dilui o trauma da crise financeira global.
O segundo elemento que
vem reforçando o receio de futuras pressões inflacionárias é
o ímpeto da demanda doméstica, do emprego e da produção,
maior do que se antecipava. A
pesquisa mensal do IBGE sobre
a indústria revelou que em
março ela novamente aumentou bastante a sua produção,
que superou as expectativas (a
exemplo do que ocorreu com as
vendas do comércio varejista
em fevereiro e a evolução do
emprego formal em março).
Essas informações têm fomentado alertas de que a economia está superaquecida ou
muito perto disso. Para arrefecer a demanda a tempo de impedir que a inflação fuja ao controle, o quadro exigiria, segundo esse diagnóstico, um choque
de juros que levasse a Selic para
bem mais do que os 11,75% ao
ano que hoje correspondem à
expectativa média.
Antecipação de compras
Estão presentes, no entanto,
fatores que apontam para desaceleração da atividade já neste
segundo trimestre, comparativamente ao ritmo forte observado no primeiro. Um desses
fatores é o fim das reduções
temporárias de IPI.
Essas reduções produziram
antecipação de compras de vários tipos de bens -movimento
difícil de medir, mas inegável. O
encerramento da quase totalidade desses estímulos a partir
de abril contribuirá para uma
desaceleração abrupta das vendas desses bens.
Além disso, uma infinidade
de indicadores -do consumo
de energia às vendas dos supermercados, passando pela confiança dos consumidores e pela
produção prevista pela indústria para os próximos meses-
sugere que o PIB cresceu a um
ritmo menor no primeiro trimestre do que no trimestre final de 2009 e que ele deverá diminuir novamente sua velocidade no segundo trimestre.
À luz desses elementos, o
Banco Central poderá optar
por aumentar a Selic mais depressa do que vinha sinalizando. Mas segue relevante a chance de que a taxa de juros básica
não vá ultrapassar, ou mesmo
alcançar, o nível de 11,75% ao
ano.
FERNANDO SAMPAIO , economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores.
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