São Paulo, quarta-feira, 05 de maio de 2010

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Temor sobre a Grécia se alastra e Bolsas despencam

Índice grego cai 6,68% e arrasta principais mercados; Bovespa tem queda de 3,35%

Investidores temem que os 110 bilhões de ajuda do FMI e da UE à Grécia não bastem para evitar que a crise contamine países vizinhos

DA REDAÇÃO

A falta de confiança dos investidores de que o pacote de 110 bilhões (R$ 253 bilhões) irá salvar a endividada economia grega de um colapso e impedir que a crise se alastre por países vizinhos (como Portugal e Espanha) fez os principais índices europeus, americanos e asiáticos despencarem ontem, arrastando o euro para o patamar mais baixo em um ano.
A queda na Bolsa de Atenas (-6,68%) ressoou pelos principais mercados do mundo, como Espanha, Portugal, China, Brasil (queda de 3,35%) e EUA (a maior queda em três meses).
O euro, que caiu 1,35% ante o dólar, foi cotado a US$ 1,3019. No Brasil, o temor europeu puxou o valor da moeda americana, que subiu 1,67%, para R$ 1,761.
Lateralmente, os mercados asiáticos também sofreram com a divulgação da atividade industrial chinesa em abril (o menor nível em seis meses).
Para operadores e analistas, o dinheiro -que será liberado pela União Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) em três anos- não será suficiente para que a Grécia ponha suas contas em dia.
Há dúvidas também sobre sua capacidade de realizar os cortes no Orçamento, parte do acordo para receber o dinheiro. O plano de arrocho -que prevê reduções salariais e aumento de impostos- foi o estopim para as greves dos últimos dias.
Os títulos de dívida do governo grego caíram ontem, com o rendimento do papel de referência subindo 36 pontos (a alta indica uma deterioração na qualidade dos papéis, o que faz investidores exigirem rendimentos maiores pelo risco).

Ibéricos
Investidores também observam com cautela Espanha e Portugal, países com deficit alto e sob suspeita de incapacidade de pagar suas dívidas -ambos tiveram rebaixada a classificação de seus títulos de dívida na semana passada. Num sinal de que o nervosismo está se espalhando, os títulos portugueses e espanhóis também mostraram alta de rendimentos.
Rumores de que a Espanha também estaria prestes a pedir ajuda financeira ao FMI forçaram o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, a ir a público afirmar que a ideia de que o país será a "próxima Grécia" é "uma absoluta loucura", que "prejudica as taxas de juros espanholas e poderia aumentar o custo do país para captar dinheiro [no mercado financeiro]".
Na avaliação de Arvind Subramanian, pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional e ex-diretor de estudos macroeconômicos do FMI, a Grécia terá de reestruturar sua dívida para que o plano dê certo.
"Isso significa que bancos alemães e franceses também têm de perder. No plano atual, estão totalmente protegidos", disse à Folha.
"A Grécia tem uma dívida muito grande, e suas perspectivas de crescimento não são boas o suficiente, especialmente por não poder desvalorizar sua moeda. A dívida da Grécia tem de cair ao menos 50%, e o país talvez tenha de deixar a zona do euro", afirma.
Para Subramanian e outros analistas, os riscos de contágio só aumentam dia a dia. E se Espanha e Portugal não agirem rápido e receberem financiamento logo, entrarão na espiral da crise, pondo em risco a própria zona do euro.
(NATÁLIA PAIVA)


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