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LUÍS NASSIF
O aprendizado com a criseA atual crise energética é
desses capítulos fundamentais na caminhada nacional, dependendo da maneira como for
encarada. Trata-se de um fracasso evidente e ostensivo do governo FHC, mas não do fracasso
do novo ou de uma vitória do velho. Dir-se-ia que foi o fracasso
do velho, que dominou a forma
de gestão do governo FHC, em
contraposição ao novo, que se
manifestava em conceitos e discursos.
FHC representa um tipo de
personagem nacional exaustivamente estudado nos clássicos, de
Manoel Bomfim a Paulo Prado,
de Prado a Sérgio Buarque. É o
intelectual internacionalista,
que importa as últimas novidades, mas não sabe adaptá-las à
realidade nacional, que têm fé
extraordinária no poder de sedução das palavras e um desprezo absoluto por toda forma de
trabalho -compreendidas, aí,
formas de conhecimento diretamente ligadas à produção, como
gestão e planejamento, vistos por
esses personagens como primos
irmãos do trabalho manual. Julgam que basta o discurso para
operar as transformações.
Nos anos 90 ganhou corpo no
Brasil a noção de gerência, primeiro, e de gestão estratégica,
depois. Foi um processo que começou no setor privado no início
dos anos 90 e cresceu após a estabilização econômica.
A estabilidade econômica permitiu o avanço dos novos valores
gerenciais e de planejamento,
mas esses valores não impregnaram o governo FHC. Houve ensaios brilhantes -como o
"Avança Brasil"-, que lançaram as sementes do planejamento no governo, mas sem conquistar coração e mente de FHC e,
consequentemente, do governo
como um todo.
A explosão da crise energética
destrói não apenas a reputação
do governo FHC como passa a
consagrar novos valores éticos,
políticos e econômicos, dos quais
nenhum futuro dirigente escapará. O desafio consistirá em
permitir o avanço, a consolidação das novas práticas e valores.
O primeiro deles é que, daqui
para a frente, dificilmente a opinião pública aceitará cargos técnicos sendo objetos de barganha,
oferecidos a políticos sem expressão ou sem competência. Ainda
há espaço para a gestão política
nos ministérios, mas que tem
que estar subordinada a mecanismos de gestão eficientes. É
possível aceitar que, principal
ferramenta do governo para o
combate à crise energética, Furnas continue nas mãos de um
político sem nenhuma experiência com o setor?
O segundo ponto é que vai se
deixar de enaltecer o improviso e
as formulações genéricas na gestão pública. A mística dos milagres econômicos está definitivamente sepultada. O setor público
necessita de quem bote a mão na
massa e trabalhe a solução de
problemas. Na próxima campanha eleitoral, vai ganhar espaço
o candidato que se mostrar gerencialmente apto, que souber
trabalhar com ferramentas de
gestão e de planejamento.
Terceiro ponto relevante é a
necessidade da articulação do
Estado com a sociedade, por
meio da criação de fóruns que
permitam compartilhamento de
experiências e de propostas. Nesse item, ponto relevante é a sociedade se armar melhor para
regular os governantes, não apenas em relação a supostos escândalos, mas em relação a indicadores de desempenho. É fundamental que surjam ONGs ou o
nome que se dê, responsáveis pela avaliação de indicadores de
desempenho do setor público, no
campo da qualidade, da produção e das finanças.
Finalmente, sobressai a importância do operador político com
a opinião pública o ministro ou
porta-voz que consiga vocalizar
as propostas oficiais e identificar
as demandas da opinião pública. FHC perdeu seus dois últimos
operadores de opinião pública
com a renúncia de Luiz Carlos
Mendonça de Barros e com o recolhimento estratégico de José
Serra.
Filósofos
A moral espírita consagra os
empreendedores, pois diz que os
avanços da humanidade se dão
por meio de quem corre o risco e
cria riqueza e emprego. A moral
protestante consagra o trabalho
e a iniciativa individuais. Agora
surge uma nova espécie de catão
moral: o que diz que só estão habilitados a discutir idéias os acomodados. Esses poderão até ganhar o reino dos céus. Mas, para
frequentar o reino das idéias, terão de deixar o acomodamento
de lado, começar a ler um pouco
e arriscar alguma forma de raciocínio que vá além do patrulhamento primário.
Internet: www.dinheirovivo.com.br
E-mail: lnassif@uol.com.br
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