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VIZINHO EM CRISE
Risco-país cai e títulos fecham em alta, mas a concentração de vencimentos continua alta para 2002
Mercado recebe bem a troca argentina
ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES
O mercado financeiro respirou
aliviado com o anúncio de que o
governo argentino conseguiu refinanciar cerca de US$ 29,5 bilhões de sua dívida pública.
O anúncio foi feito no domingo,
mas o primeiro dia útil (e sujeito a
repercussão) foi ontem.
O principal papel da dívida argentina (FRB) teve um aumento
médio de 2,2% em sua cotação. O
o índice de risco-país caiu ontem
de 1.017 para 952 pontos-base, na
maior queda proporcional
(6,39%) desde o fim de abril.
O risco-país mede a sobretaxa
paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os
EUA, e é o principal termômetro
da confiança do mercado em relação à capacidade do governo de
honrar seus compromissos.
Apesar do montante considerado satisfatório, por superar em
quase 50% as estimativas iniciais
do governo (que eram de rolagem
de US$ 20 bilhões), a operação de
refinanciamento não serviu para
eliminar completamente as dúvidas sobre a solvência do país.
Mesmo após a rolagem, o país
terá no ano que vem cerca de US$
12 bilhões em vencimentos da dívida. A redução dos vencimentos
em 2002 foi de apenas 27,3%.
Outro grande problema deverá
ser enfrentado em 2008, por causa
da emissão de US$ 12,3 bilhões
em novos títulos com vencimento
nesse ano. Anteriormente, já havia outros US$ 4,3 bilhões vencendo em 2008.
A operação de refinanciamento
teve como objetivo reduzir o risco
de uma moratória (não-pagamento). Títulos de mais curto
prazo foram trocados por outros
de prazo mais longo, para reduzir
a carga da dívida nos próximos
cinco anos. Os detentores dos títulos aceitaram a troca, porque o
governo deixou transparecer que
não haveria outra solução.
Cerca de US$ 80 bilhões dos
US$ 128 bilhões que a Argentina
devia originalmente venciam nos
próximos cinco anos. Com a troca, o país postergou US$ 16 bilhões em vencimentos até 2005.
Também conseguiu um prazo de
cinco anos sem pagamentos de
juros a dois dos cinco novos títulos emitidos (os papéis antigos foram trocados por novos). Esses
papéis, com vencimento em 2018
e 2031, somam US$ 11,5 bilhões.
Segundo analistas, o governo terá agora de reverter a recessão que
perdura por quase três anos, controlar o déficit fiscal e alcançar
apoio político para a aprovação
de reformas para enfrentar as necessidades financeiras.
Para o economista Jorge Ávila,
um dos maiores críticos do governo, a troca de títulos era "a única
alternativa" da equipe econômica. "Era um passo importante a
ser dado, para criar um alívio no
fim do mês."
Para Ávila, se o risco-país cair
nas duas próximas semanas abaixo de 700 pontos, pode haver um
"ciclo virtuoso" na economia do
país, com a retomada do crescimento. Ele disse, porém, considerar isso pouco provável.
O economista Miguel Angel
Broda, do Estúdio Broda, classificou a troca como "boa", mas afirmou que "ela não resolve os problemas de fundo da economia argentina". "A operação é um respiro, um alívio, que se for bem aproveitado pode ter um efeito positivo. Mas de nenhuma maneira é
um ponto de inflexão para a economia", disse ele.
Para Broda, o pior que poderia
acontecer seria "a repetição do
triunfalismo irracional de quando
a Argentina recebeu o pacote de
"blindagem financeira", que depois foi rifado, porque acreditávamos que o problema da dívida estava resolvido". A "blindagem"
foi uma ajuda de US$ 39,7 bilhões,
capitaneada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e anunciada em dezembro de 2000.
O FMI emitiu um comunicado
elogiando a operação de refinanciamento, destacando a participação de investidores estrangeiros,
responsáveis por cerca de US$ 8
bilhões dos US$ 29,5 bilhões trocados.
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