São Paulo, terça-feira, 05 de junho de 2001

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VIZINHO EM CRISE

Risco-país cai e títulos fecham em alta, mas a concentração de vencimentos continua alta para 2002

Mercado recebe bem a troca argentina

ROGERIO WASSERMANN
DE BUENOS AIRES

O mercado financeiro respirou aliviado com o anúncio de que o governo argentino conseguiu refinanciar cerca de US$ 29,5 bilhões de sua dívida pública.
O anúncio foi feito no domingo, mas o primeiro dia útil (e sujeito a repercussão) foi ontem.
O principal papel da dívida argentina (FRB) teve um aumento médio de 2,2% em sua cotação. O o índice de risco-país caiu ontem de 1.017 para 952 pontos-base, na maior queda proporcional (6,39%) desde o fim de abril.
O risco-país mede a sobretaxa paga pelo país ao tomar empréstimos em relação ao que pagam os EUA, e é o principal termômetro da confiança do mercado em relação à capacidade do governo de honrar seus compromissos.
Apesar do montante considerado satisfatório, por superar em quase 50% as estimativas iniciais do governo (que eram de rolagem de US$ 20 bilhões), a operação de refinanciamento não serviu para eliminar completamente as dúvidas sobre a solvência do país.
Mesmo após a rolagem, o país terá no ano que vem cerca de US$ 12 bilhões em vencimentos da dívida. A redução dos vencimentos em 2002 foi de apenas 27,3%.
Outro grande problema deverá ser enfrentado em 2008, por causa da emissão de US$ 12,3 bilhões em novos títulos com vencimento nesse ano. Anteriormente, já havia outros US$ 4,3 bilhões vencendo em 2008.
A operação de refinanciamento teve como objetivo reduzir o risco de uma moratória (não-pagamento). Títulos de mais curto prazo foram trocados por outros de prazo mais longo, para reduzir a carga da dívida nos próximos cinco anos. Os detentores dos títulos aceitaram a troca, porque o governo deixou transparecer que não haveria outra solução.
Cerca de US$ 80 bilhões dos US$ 128 bilhões que a Argentina devia originalmente venciam nos próximos cinco anos. Com a troca, o país postergou US$ 16 bilhões em vencimentos até 2005. Também conseguiu um prazo de cinco anos sem pagamentos de juros a dois dos cinco novos títulos emitidos (os papéis antigos foram trocados por novos). Esses papéis, com vencimento em 2018 e 2031, somam US$ 11,5 bilhões.
Segundo analistas, o governo terá agora de reverter a recessão que perdura por quase três anos, controlar o déficit fiscal e alcançar apoio político para a aprovação de reformas para enfrentar as necessidades financeiras.
Para o economista Jorge Ávila, um dos maiores críticos do governo, a troca de títulos era "a única alternativa" da equipe econômica. "Era um passo importante a ser dado, para criar um alívio no fim do mês."
Para Ávila, se o risco-país cair nas duas próximas semanas abaixo de 700 pontos, pode haver um "ciclo virtuoso" na economia do país, com a retomada do crescimento. Ele disse, porém, considerar isso pouco provável.
O economista Miguel Angel Broda, do Estúdio Broda, classificou a troca como "boa", mas afirmou que "ela não resolve os problemas de fundo da economia argentina". "A operação é um respiro, um alívio, que se for bem aproveitado pode ter um efeito positivo. Mas de nenhuma maneira é um ponto de inflexão para a economia", disse ele.
Para Broda, o pior que poderia acontecer seria "a repetição do triunfalismo irracional de quando a Argentina recebeu o pacote de "blindagem financeira", que depois foi rifado, porque acreditávamos que o problema da dívida estava resolvido". A "blindagem" foi uma ajuda de US$ 39,7 bilhões, capitaneada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e anunciada em dezembro de 2000.
O FMI emitiu um comunicado elogiando a operação de refinanciamento, destacando a participação de investidores estrangeiros, responsáveis por cerca de US$ 8 bilhões dos US$ 29,5 bilhões trocados.


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