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VINICIUS TORRES FREIRE
Ficou mais difícil bater no BC
Economia começa a ranger com juros reais de 7% e PIB a 5%. Só reclamar de juros não vai azeitar a engrenagem
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É FÁCIL bater no Banco Central
-se por mais não fosse, as diretorias do BC tantas vezes o
mereceram. Mas, depois de quase 15
anos do início do controle da inflação no país, os dados sugerem que
começa a haver alguma encrenca
nos preços quando a taxa real de juros ronda os 7%, 8% ao ano, como
ocorreu no ciclo de desafogo monetário mais recente. Não é um número mágico, nem é um "piso" nem se
pode dizer que há um padrão nesse
caótico e volátil período que começou em 1994, com solavancos atenuados apenas a partir de 2004.
A encrenca do presente repique
da inflação tem alguma colaboração
dos preços mundiais. Mas o "contágio", se é que se pode falar assim, foi
muito favorecido pelo consumo
aquecido no país. Juro real entre 7%
e 8% e economia rodando a 5% ao
ano são uma combinação que parece
dar o que pensar -e dá inflação.
O excesso de gasto público e/ou
algumas restrições de oferta doméstica ficaram evidentes também no
aumento rápido do déficit em conta
corrente. Há defensores da hipótese
de que "desta vez é diferente". Isto é,
que cresceu o potencial da economia de reagir à alta da demanda com
aumentos de produtividade e de investimentos, como dizem CNI e
Fiesp. De fato, a força e a duração do
ciclo de alta do investimento são
inéditos desde 1995, quando de resto a base de comparação era baixa e
o país vinha da hiperinflação.
Pode ser que os industriais estejam certos. Mas, no curto prazo, daqui a um ano, digamos, não dá para
saber direito. No curto prazo, controla-se inflação com juros. Como a
reação do BC aos preços não tem sido histérica, está difícil bater no BC
e bater apenas na tecla dos juros.
Além do curto prazo, porém, haveria, sim, o que fazer. Mas o debate
sobre mudanças parece esmagado
pela popularidade do governo e
atrapalhado por propostas e programas de reformas estereotipados (ou
apenas idiotas) de um lado a outro
do espectro político-econômico.
A economia sofre periodicamente
de restrições de oferta que, a julgar
pela história brasileira, inclusive a
mais recente, não vão ser resolvidas
apenas via decisões de mercado, tese
que é motivo de troça clichê e mal
argumentada de gente dita ortodoxa. Do outro lado, é tabu discutir coisas como a segmentação do mercado de crédito, crédito direcionado,
juros mais ou menos tabelados e
poupanças forçadas, coisas que parecem afetar o patamar da taxa básica de juros (a "decidida" pelo BC).
Quanto a limitar os excessos de gasto público e a dívida, parece enfim se
formar algum consenso (vide o que
economistas não exatamente ortodoxos têm dito a Lula).
O mais evidente, porém, é que a
economia brasileira começa a ranger com juros de 7%, 8%, e PIB correndo a 5%. Não se trata de maldição. Mas parece difícil dar o salto
adiante apenas com a atual política
do feijão-com-arroz mal temperado.
vinit@uol.com.br
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