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São Paulo, sábado, 05 de julho de 2003

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LUÍS NASSIF

A voz de dentro

Há um diagnóstico corrente dos críticos da política monetária e cambial do Banco Central: está errada, e o real valorizado vai explodir mais adiante. E duas visões opostas, buscando o mesmo objetivo: evitar a valorização do real e a volatilidade cambial. De um lado, os que acham que o Banco Central faz mal em adotar o sistema de "metas inflacionárias"; do outro, os que acham que a instituição utiliza mal o sistema.
Ex-presidente do BC e um dos analistas referenciais do mercado, Ibrahim Eris pertence ao segundo grupo. Não é contra o sistema de metas inflacionárias, mas sustenta que o BC está cometendo barbeiragens.
Em qualquer lugar do mundo, diz ele, o BC é avaliado por sua capacidade de prever o comportamento da economia. Aqui em menos de seis meses o BC alterou sua previsão de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2003 de 2,5% para 1,5%, além da de inflação -e nada aconteceu. Olhar para trás qualquer criança faz. O desafio é olhar para a frente e antecipar os movimentos da economia. E o BC nem sequer conseguiu prever que estava provocando uma queda dessa magnitude no crescimento do PIB -que, na ponta, já deve estar negativo. Em outros países, um erro dessa proporção teria reflexos profundos sobre a avaliação do banco, diz Eris.
Na opinião de Eris, há três fundamentos errados na atuação do BC que interferem no câmbio de equilíbrio:
1) no ano passado, as reservas líquidas do país estavam em US$ 30 bilhões. Neste ano, em US$ 15 bilhões. Se no ano passado, com a crise cambial, o BC vendeu US$ 15 bilhões para segurar o dólar, para voltar ao câmbio de equilíbrio no mínimo teria que recompor as reservas nos US$ 30 bilhões anteriores. Se voltasse a comprar dólares para engordar as reservas, poder-se-ia deixar o fluxo de capitais livres, mas impediria essa valorização do real;
2) o mesmo ocorre com o hedge oferecido no ano passado. Assim que a crise passou, deveria ter sido enxugado rapidamente;
3) com as taxas de juros atuais -que ele considera absurdas-, cria-se um fluxo de capital volátil que impede qualquer câmbio de equilíbrio. Se pelo menos comprasse dólares, haveria um controle da valorização do real -ainda que a um custo elevado.
Mantida a atual política monetária e cambial, Eris não tem dúvidas de que é questão de tempo para explodir nova crise cambial.
A estratégia monetária e cambial deste ano foi esboçada pelo ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, o mesmo responsável pela estratégia monetária do ano passado -que, afrouxada, quase jogou o país em uma espiral inflacionária.

A voz de fora
De John Plender, do "Financial Times": "Os bônus dos mercados emergentes são notoriamente inclinados a mudanças maníacas nas percepções dos investidores que geram ciclos de expansão e compressão. E é notável que o Brasil, responsável por dois terços da alta nos influxos líquidos dos mercados emergentes no primeiro trimestre deste ano, estivesse tomando empréstimos principalmente com prazos mais curtos, o que deixa um país vulnerável ao corte de créditos. Será que estamos encarando mais um caso de "lá vamos nós de novo?".

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