|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A voz de dentro
Há um diagnóstico corrente dos críticos da política
monetária e cambial do Banco
Central: está errada, e o real
valorizado vai explodir mais
adiante. E duas visões opostas,
buscando o mesmo objetivo:
evitar a valorização do real e a
volatilidade cambial. De um
lado, os que acham que o Banco Central faz mal em adotar o
sistema de "metas inflacionárias"; do outro, os que acham
que a instituição utiliza mal o
sistema.
Ex-presidente do BC e um
dos analistas referenciais do
mercado, Ibrahim Eris pertence ao segundo grupo. Não é
contra o sistema de metas inflacionárias, mas sustenta que
o BC está cometendo barbeiragens.
Em qualquer lugar do mundo, diz ele, o BC é avaliado por
sua capacidade de prever o
comportamento da economia.
Aqui em menos de seis meses o
BC alterou sua previsão de
crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) em 2003 de
2,5% para 1,5%, além da de inflação -e nada aconteceu.
Olhar para trás qualquer
criança faz. O desafio é olhar
para a frente e antecipar os
movimentos da economia. E o
BC nem sequer conseguiu prever que estava provocando
uma queda dessa magnitude
no crescimento do PIB -que,
na ponta, já deve estar negativo. Em outros países, um erro
dessa proporção teria reflexos
profundos sobre a avaliação do
banco, diz Eris.
Na opinião de Eris, há três
fundamentos errados na atuação do BC que interferem no
câmbio de equilíbrio:
1) no ano passado, as reservas líquidas do país estavam
em US$ 30 bilhões. Neste ano,
em US$ 15 bilhões. Se no ano
passado, com a crise cambial, o
BC vendeu US$ 15 bilhões para
segurar o dólar, para voltar ao
câmbio de equilíbrio no mínimo teria que recompor as reservas nos US$ 30 bilhões anteriores. Se voltasse a comprar
dólares para engordar as reservas, poder-se-ia deixar o fluxo
de capitais livres, mas impediria essa valorização do real;
2) o mesmo ocorre com o
hedge oferecido no ano passado. Assim que a crise passou,
deveria ter sido enxugado rapidamente;
3) com as taxas de juros
atuais -que ele considera absurdas-, cria-se um fluxo de
capital volátil que impede
qualquer câmbio de equilíbrio.
Se pelo menos comprasse dólares, haveria um controle da valorização do real -ainda que
a um custo elevado.
Mantida a atual política monetária e cambial, Eris não tem
dúvidas de que é questão de
tempo para explodir nova crise
cambial.
A estratégia monetária e
cambial deste ano foi esboçada
pelo ex-diretor do Banco Central Ilan Goldfajn, o mesmo
responsável pela estratégia monetária do ano passado -que,
afrouxada, quase jogou o país
em uma espiral inflacionária.
A voz de fora
De John Plender, do "Financial Times": "Os bônus dos
mercados emergentes são notoriamente inclinados a mudanças maníacas nas percepções
dos investidores que geram ciclos de expansão e compressão.
E é notável que o Brasil, responsável por dois terços da alta
nos influxos líquidos dos mercados emergentes no primeiro
trimestre deste ano, estivesse
tomando empréstimos principalmente com prazos mais curtos, o que deixa um país vulnerável ao corte de créditos. Será
que estamos encarando mais
um caso de "lá vamos nós de
novo?".
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Dança das cadeiras: Caixa substitui superintendentes para modernizar atendimento Próximo Texto: Linha cruzada: STJ pode unificar decisões sobre reajuste na telefonia Índice
|