São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Chávez vai lançar "bônus do Sul" com a Argentina

Título conjunto pode ter seguro venezuelano, diz jornal; desde moratória, Argentina só emite papéis com legislação local

Casa Rosada não dá detalhes sobre a operação; Kirchner sinaliza que papel possa ser usado para financiar setor energético

DE BUENOS AIRES

Após se transformar em um dos principais credores da Argentina pós-default, agora o presidente venezuelano, Hugo Chávez, lançará com o colega Néstor Kirchner título público conjunto no mercado financeiro, batizado de "bônus do Sul".
O anúncio foi feito ontem por Kirchner em Caracas. "Começamos a trabalhar séria e firmemente a idéia da criação do "bônus do sul", um título conjunto trabalhado por nossas áreas econômicas", disse o argentino.
A Casa Rosada não forneceu detalhes da nova operação nem informou sob qual legislação será lançado o papel. Desde que declarou moratória, em 2002, a Argentina só emite bônus com legislação local. Segundo o jornal argentino "Ambito Financiero", US$ 1 bilhão será o montante do título conjunto.
Antes do discurso de Kirchner, o jornal dizia que o papel poderia ser um bônus argentino, com seguro de pagamento venezuelano, e não americano (o que poderia ser chamado "brady" venezuelano).
Segundo o presidente argentino, o bônus será lançado no mercado em 60 a 90 dias. Ele fez referência a empreendimentos energéticos conjuntos no discurso, e uma das hipóteses é que o papel seja usado para financiar projetos no setor.
"[O título] vai permitir ter um bom nível no mercado de capitais, com boas taxas, com bons níveis de segurança", disse ele, que também fez referência à criação de um banco para o financiamento regional, espécie de alternativa ao FMI (Fundo Monetário Internacional).
A aliança financeira entre Venezuela e Argentina já é intensa desde meados do ano passado, quando Chávez comprou US$ 3,4 bilhões em títulos da dívida argentina. Neste ano, os Venezuelanos já compraram US$ 1,4 bilhão.
Para Santiago Lopez, analista da consultora argentina Delphos Investment, o financiamento venezuelano permite à Argentina adiar a sua volta ao mercado internacional. "Hoje, as necessidades de financiamento da Argentina são baixas. Ainda assim, o que o governo precisa é conseguido dessa maneira quase artificial", aponta.
A vantagem da operação é que, com o bônus conjunto, a Argentina pagaria taxas de juros menores do que sozinha, já que o risco-país da Venezuela é menor. "Não sabemos como vai funcionar. Parece ser mais uma invenção argentina, como o doce de leite", brinca Lopez.
(FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Lula defende ajuda a menores do Mercosul
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.