|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula defende ajuda a menores do Mercosul
Após presidente paraguaio atacar o país e a Argentina, brasileiro afirma que é preciso encontrar solução negociada
Venezuela oficializa entrada
no bloco, e Lula diz não
temer discurso ideológico
de Chávez nem sua vontade
de ocupar liderança na região
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu ontem que
Brasil e Argentina ajudem os
dois países mais pobres do
Mercosul, Uruguai e Paraguai,
a se desenvolverem, mas criticou a ameaça do presidente paraguaio, Nicanor Duarte, de
causar a "eutanásia" do bloco.
"Não vamos encontrar solução para o Mercosul se ficarmos jogando a culpa dos nossos
problemas nas costas dos outros. Nossos problemas são
nossos e temos de tratar de resolvê-los", disse Lula, antes da
cerimônia de adesão da Venezuela ao Mercosul, em Caracas.
Ele também respondeu às
críticas de que o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, poderá criar constrangimentos
políticos ao bloco com sua retórica antiamericana e com sua
volúpia de ocupar a liderança
regional: "Ninguém vai importar ideologias ou vai vender
ideologias, vamos trocar experiências científicas e tecnológicas, trocar produtos", disse.
Ontem, mesmo, Chávez
anunciou que a Venezuela
comprará US$ 100 milhões de
bônus da dívida do Paraguai
com a hidrelétrica de Itaipu
(leia à pág. B3)
Por fim, Lula declarou que o
presidente da Bolívia, Evo Morales, foi convidado para estar
ontem em Caracas por Chávez,
o anfitrião, mas que não havia
previsão de uma conversa a
dois sobre o gás boliviano. No
discurso, já na solenidade, Lula
chamou Morales de "meu amigo", apesar dos sérios problemas entre os dois países com a
reestatização do gás na Bolívia,
que prejudicou a Petrobras.
"Egoístas e hipócritas"
Em entrevista ao "Financial
Times", o paraguaio Nicanor
Duarte acusou Brasil e Argentina de "egoístas e hipócritas"
por condenarem o protecionismo de EUA e Europa, mas exercê-lo na sua região. Paraguai e
Uruguai vêm intensificando
suas críticas ao Mercosul e cogitam assinar acordos bilaterais com os EUA.
Apesar disso, no protocolo de
adesão da Venezuela, os dois
países foram agraciados com
prazo maior para alcançar o livre comércio entre os quatro
fundadores do Mercosul -Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai- e o novo sócio.
Os dois primeiros terão até
2010 para concluírem a mudança; os dois menores, até
2013. Além disso, os produtos
paraguaios e uruguaios terão
tarifa zero imediatamente.
"Reconhecemos a urgência
de encontrar respostas para as
assimetrias que limitam a capacidade de nossos parceiros menores de tirar pleno benefício
da integração", discursou Lula,
depois de Chávez já ter anunciado ajuda ao Paraguai.
A entrada definitiva da Venezuela foi comemorada pelos setores diplomáticos de todos os
países, mas recebida com ressalvas por empresários de Argentina, Brasil e Venezuela.
Em geral, os governos concluem que a adesão da Venezuela favorece o país, que deixa
de negociar sozinho com o
mundo e passa a ter o suporte
do Mercosul. Do outro lado, é
bom para os demais sócios, que
passam a integrar um bloco
com um PIB superior a US$ 1
trilhão, um comércio global de
mais de US$ 300 bilhões e um
mercado de mais de 250 milhões de habitantes.
Da parte do Brasil, até setores diplomáticos temem que as
reuniões do Mercosul se transformem em palco para Chávez
e sua retórica anti-EUA. A próxima cúpula do bloco será em
20 e 21 deste mês, na Argentina.
Estiveram ontem no encontro Lula, Chávez, Duarte,
Kirchner (Argentina), Tabaré
Vazquez (Uruguai) e Morales.
Texto Anterior: Paulo Rabello de Castro: O galo, a águia e a galinha Próximo Texto: Chávez vai lançar "bônus do Sul" com a Argentina Índice
|