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análise
Com mais um, poder do Brasil cai, diz consultor
DE BUENOS AIRES
A entrada da Venezuela no
Mercosul, formalizada ontem, muda a correlação de
forças do bloco regional, a favor da Argentina, a quem o
governo brasileiro tem se esforçado para atender as principais pautas nos últimos
meses.
A análise é do consultor de
Relações Internacionais e
ex-economista da OMC (Organização Mundial do Comércio), Mario Marconini.
"A entrada da Venezuela, da
forma como ocorreu, já é um
reflexo de que a liderança do
Brasil está combalida no
Mercosul. O Brasil cedeu a
mais um pedido da Argentina. Era do interesse de
Kirchner, que está sendo financiado por Chávez, que isso ocorresse rápido."
Para Marconini, além da
operação política para tentar
conter a retórica confrontativa do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o governo Lula terá de rever a relação com a Casa Rosada (sede
do governo argentino).
O analista diz que, nos últimos meses, é a Argentina
quem tem imposto a agenda
do bloco e cita como exemplo
a aprovação do MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva), em fevereiro -uma
reivindicação do país vizinho
para conter a "invasão" de
produtos brasileiros em seu
mercado.
"Esse governo confundiu
liderança com permissividade. E agora me parece que
também vai rever o quanto
sagrada é essa relação com a
Argentina. Não é sempre que
se pode dizer sim. No caso do
MAC, Paraguai e Uruguai
não foram nem consultados", aponta Marconini, que
foi secretário de Comércio
Exterior do governo FHC.
O sócios menores do Mercosul, Paraguai e Uruguai,
demonstraram incômodo
com a aprovação do mecanismo bilateral e, nos últimos seis meses, intensificaram tanto as reclamações como as movimentações para
deixar o bloco -a aposta nos
dois casos foi tentar se aproximar dos Estados Unidos
para obter vantagens comerciais.
Se a contabilidade política
pode ser um problema, já o
mercado venezuelano é uma
oportunidade para o Brasil,
diz Marconini. "A proximidade é positiva, desde que a
Venezuela faça bem sua lição
de casa. É estratégica para
todas as empresas brasileiras
interessadas em internacionalizar-se. Há um mercado
para o setor brasileiro de
construção, por exemplo."
Menos problemas
Para o analista da consultoria argentina abeceb.com,
Maximiliano Scarlan, a entrada da Venezuela no Mercosul pode contribuir para
sanar os problemas com
Uruguai e Paraguai.
"Chávez poderá ajudar a
canalizar as reclamações de
Paraguai e Uruguai. A reunião dele para discutir energia em Assunção, no começo
deste ano, para a qual não foram convidados nem brasileiros nem argentinos, é um
indicativo."
Um dos sinais da Venezuela aos sócios menores foi a
abertura do mercado caribenho. Agora, mercadorias paraguaias e uruguaias podem
entrar na Venezuela com tarifa zero.
Para Scarlan, um dos alvos
dos dois países é o mercado
de veículos venezuelano, em
expansão. "Os carros estão
na pauta principal de exportação brasileira e argentina.
Só em 2005, o Brasil vendeu
31 mil unidades; a Argentina,
4.000. Há mercado para disputar", diz.
(FM)
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