São Paulo, quarta-feira, 05 de julho de 2006

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análise

Com mais um, poder do Brasil cai, diz consultor

DE BUENOS AIRES

A entrada da Venezuela no Mercosul, formalizada ontem, muda a correlação de forças do bloco regional, a favor da Argentina, a quem o governo brasileiro tem se esforçado para atender as principais pautas nos últimos meses.
A análise é do consultor de Relações Internacionais e ex-economista da OMC (Organização Mundial do Comércio), Mario Marconini. "A entrada da Venezuela, da forma como ocorreu, já é um reflexo de que a liderança do Brasil está combalida no Mercosul. O Brasil cedeu a mais um pedido da Argentina. Era do interesse de Kirchner, que está sendo financiado por Chávez, que isso ocorresse rápido."
Para Marconini, além da operação política para tentar conter a retórica confrontativa do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o governo Lula terá de rever a relação com a Casa Rosada (sede do governo argentino).
O analista diz que, nos últimos meses, é a Argentina quem tem imposto a agenda do bloco e cita como exemplo a aprovação do MAC (Mecanismo de Adaptação Competitiva), em fevereiro -uma reivindicação do país vizinho para conter a "invasão" de produtos brasileiros em seu mercado.
"Esse governo confundiu liderança com permissividade. E agora me parece que também vai rever o quanto sagrada é essa relação com a Argentina. Não é sempre que se pode dizer sim. No caso do MAC, Paraguai e Uruguai não foram nem consultados", aponta Marconini, que foi secretário de Comércio Exterior do governo FHC.
O sócios menores do Mercosul, Paraguai e Uruguai, demonstraram incômodo com a aprovação do mecanismo bilateral e, nos últimos seis meses, intensificaram tanto as reclamações como as movimentações para deixar o bloco -a aposta nos dois casos foi tentar se aproximar dos Estados Unidos para obter vantagens comerciais.
Se a contabilidade política pode ser um problema, já o mercado venezuelano é uma oportunidade para o Brasil, diz Marconini. "A proximidade é positiva, desde que a Venezuela faça bem sua lição de casa. É estratégica para todas as empresas brasileiras interessadas em internacionalizar-se. Há um mercado para o setor brasileiro de construção, por exemplo."

Menos problemas
Para o analista da consultoria argentina abeceb.com, Maximiliano Scarlan, a entrada da Venezuela no Mercosul pode contribuir para sanar os problemas com Uruguai e Paraguai.
"Chávez poderá ajudar a canalizar as reclamações de Paraguai e Uruguai. A reunião dele para discutir energia em Assunção, no começo deste ano, para a qual não foram convidados nem brasileiros nem argentinos, é um indicativo."
Um dos sinais da Venezuela aos sócios menores foi a abertura do mercado caribenho. Agora, mercadorias paraguaias e uruguaias podem entrar na Venezuela com tarifa zero.
Para Scarlan, um dos alvos dos dois países é o mercado de veículos venezuelano, em expansão. "Os carros estão na pauta principal de exportação brasileira e argentina. Só em 2005, o Brasil vendeu 31 mil unidades; a Argentina, 4.000. Há mercado para disputar", diz. (FM)


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