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Brasil pode zerar déficit nominal em 2008, prevê estudo do BNDES
Já a relação entre dívida pública e PIB deve ficar abaixo de 35% já em 2010
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasil tem condições de zerar o déficit nominal -com receitas suficientes para pagar as
despesas e também os juros da
dívida pública- já a partir do
ano que vem. Já a dívida pública em proporção ao PIB deve ficar abaixo de 35% já em 2010, o
que deixará o país muito próximo da marca de 30%, que é a
média dos países com grau de
investimento -recomendação
de investimento dada por agências internacionais de risco.
Essas previsões constam de
trabalho elaborado pela economista Ana Cláudia Além, assessora da presidência do BNDES
(Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
No ano passado, o déficit nominal fechou em 3% do PIB e a
relação dívida/PIB ficou em
44,9%. Em 1998, o país chegou
a registrar um déficit nominal
de 6,97% do PIB. Em 2003, a
relação dívida/PIB atingiu o pico de 52,4%.
Os números mais otimistas
de agora são resultados da manutenção dos altos superávits
primários (economia para pagamento de juros da dívida pública), da retomada da trajetória de crescimento do PIB (que
provocou um aumento da receita tributária) e da aceleração
da queda dos juros.
A revisão da metodologia do
cálculo do PIB feita pelo IBGE
em março deste ano também
foi importante para a queda da
relação dívida/PIB.
"O problema fiscal do Brasil
está muito próximo de ser
equacionado", diz a economista do BNDES.
Para chegar a essas conclusões, Além traçou três cenários,
um "pessimista", um "realista"
e um "otimista", mas os resultados são muito parecidos.
No cenário "realista", por
exemplo, ela prevê um crescimento do PIB de 4,5% para este
ano e de 5% para os anos de
2008 a 2010, com a taxa básica
de juros (Selic) indo dos 12%
atuais para 9,26% em 2010.
Fazenda
O economista Nelson Barbosa, titular da Seae (Secretaria
de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda), afirma, ao analisar o trabalho do BNDES, que esses resultados mostram que a política
fiscal do governo é robusta o
suficiente para enfrentar diversos cenários futuros.
Segundo ele, mesmo supondo que o juro pare de baixar e o
crescimento do PIB se estabilize, a relação dívida/PIB continuará em queda.
Para Barbosa, a grande vantagem de o país zerar o déficit
nominal e reduzir a relação dívida/PIB é que vai sobrar mais
dinheiro para o governo poder
ampliar os investimentos públicos e os gastos sociais e até
reduzir a carga tributária.
A possibilidade de diminuir
os impostos, hoje, parece fora
de cogitação. "A prioridade do
governo no momento é de aumentar o investimento público", disse Nelson Barbosa.
O economista Fabio Giambiagi, pesquisador do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), considera viável o
cenário traçado pelo BNDES,
mas diz que a sua realização vai
depender da trajetória dos juros e do processo de acumulação de reservas cambiais pelo
Banco Central.
Se, de um lado, a Selic está em
queda, de outro o processo de
acumulação de reservas pelo
BC está se dando num ritmo
muito intenso. Por conta disso,
apesar de a dívida pública estar
caindo com a queda dos juros, o
Banco Central está sendo obrigado a emitir títulos públicos
para enxugar dólar no mercado. O problema é que o Banco
Central paga muito mais do que
ganha com as reservas.
Segundo Giambiagi, que há
pouco tempo também chegou a
fazer alguns estudos prevendo
o déficit nominal zero em razão
da atual conjuntura, essa perspectiva pode ser adiada dependendo do movimento de acumulação de reservas.
"Se o Banco Central mantiver o ritmo atual no processo
de acumulação de reservas, pode ser que entre areia nesse cenário de déficit nominal zero",
diz Giambiagi.
A idéia do déficit nominal zero chegou a ser defendida, em
2005, pelo ex-ministro Delfim
Netto, que defendia para tanto
alguns cortes orçamentários. O
governo, na época, rechaçou a
proposta. Agora, se as previsões
do BNDES estiverem corretas,
o déficit nominal será zerado
naturalmente.
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