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Contra críticas, Brasil anuncia certificação do biocombustível
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciará hoje em
Bruxelas que o Brasil vai iniciar, de forma autônoma, o processo de certificação do biocombustível, passo indispensável para dar a esse combustível
alternativo um selo de qualidade que lhe permita obter reconhecimento internacional.
A certificação dirá que tipos
de biocombustíveis são produzidos de forma sustentável, ou
seja, cumprem todos os requisitos de proteção ambiental e
social (não explora a mão-de-obra na cadeia produtiva).
O processo de certificação
torna-se tão mais urgente e necessário na medida em que surgem crescentes dúvidas sobre
biocombustíveis, de que dará
testemunho também hoje -e
na mesma conferência de que
Lula participa- o comissário
europeu para o Comércio, o
britânico Peter Mandelson.
Mandelson dirá que "a Europa tem que agir para evitar que
um boom de biocombustíveis
ameace destruir florestas tropicais para produzi-lo". E
acrescentará que "a União Européia (UE) não pode permitir
que a mudança para os biocombustíveis se transforme em um
estouro ambientalmente insustentável no mundo em desenvolvimento".
O fecho de seu raciocínio é
igualmente duro: "Os europeus
não pagarão um prêmio pelos
biocombustíveis se o álcool que
abastecerá seus carros for produzido de maneira insustentável devido a sistemáticas queimadas após a colheita ou à custa das florestas tropicais".
Esse tipo de inquietação está
crescendo na Europa e nos
EUA, a partir de decisões como
a da UE de substituir 10% do
combustível que usa para o
transporte com combustíveis
limpos até 2010, o que, em tese,
poderia causar o boom citado.
Por isso mesmo, a certificação é indispensável. Afastará,
ao menos em tese, dúvidas como as de Mandelson, além de
criar o cenário para que os biocombustíveis possam ser negociados internacionalmente,
com cotação em Bolsa, a exemplo das demais commodities.
O anúncio da certificação será feito no discurso de Lula na
Conferência Internacional sobre Biocombustíveis, hoje em
Bruxelas, como complemento
da reunião de cúpula com a UE,
que ocorreu ontem em Lisboa.
O governo brasileiro assegura que se trata do primeiro país
a lançar-se no caminho da certificação, que "todo mundo
quer seguir", conforme a avaliação ouvida pela Folha na delegação brasileira.
Para Lula, os biocombustíveis serão "a revolução energética do século 21". O presidente
disse que "tem gente contra e a
favor, mas [a adoção dos biocombustíveis] será inexorável".
Lula acha que a alternativa
para o mundo é ou diminuir a
emissão de gases (o que tem
custo econômico elevado) ou
criar uma nova matriz energética. Para ele, a escolha já está
feita: "Em menos de 20 anos,
os biocombustíveis serão a
principal matriz energética de
muitos países do mundo".
Entusiasta do projeto, Lula
saudou o acordo assinado ontem entre a portuguesa Galp e
a Petrobras para a produção de
600 mil toneladas/ano de óleos
vegetais no Brasil e a produção,
comercialização e distribuição
do biodiesel nos mercados português e/ou europeu.
As duas empresas criarão
uma sociedade de capital dividido meio a meio, com o objetivo de produzir 300 mil toneladas de óleo vegetal para biodiesel nas refinarias da Galp e
mais 300 mil toneladas destinadas também ao biodiesel,
mas para exportação para Portugal e outros países europeus.
O acordo com a Galp entra
no Plano Estratégico da Petrobras no sentido de ampliar a
participação da empresa no
mercado de biocombustíveis.
Leva em conta ainda o fato de
que a produção de biodiesel
prevista para 2008 gera disponibilidade para exportação
praticamente imediata, segundo a estatal brasileira.
(CR)
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