São Paulo, quinta-feira, 05 de julho de 2007

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Mandelson quer acordo UE/Mercosul em 2 anos

DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

O comissário europeu do Comércio, Peter Mandelson, que tem tido freqüentes choques com os negociadores brasileiros, transformou-se ontem, ao menos aos olhos do empresariado, no portador de uma excelente notícia: disse a eles que até o fim do seu período como comissário pretende fechar o acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul, cujas negociações estão paralisadas desde 2004.
É exatamente o que o empresariado brasileiro vem reclamando há muito tempo: que o Brasil busque espaço nos mercados mais suculentos, os dos países ricos. Agora que a Rodada Doha entrou em coma, o pleito do empresariado ganhou mais força e urgência.
Logo, saber que em dois anos -tempo que falta para Mandelson deixar seu posto- poderá haver o acordo, é música para os ouvidos empresariais.
Música, aliás, que se repetiu ao longo do dia, na medida em que, tanto do lado brasileiro como do europeu, foram inúmeras as afirmações de que a "parceria estratégica" ontem lançada entre o bloco europeu e o Brasil ajuda na negociação do Mercosul com a Europa.
"As negociações [para o acordo União Européia/Mercosul] estão avançadas e, com impulso adequado, poderiam ser concluídas rapidamente", disse o presidente Lula, por exemplo.
José Sócrates, o primeiro-ministro português, foi ainda mais longe, ao qualificar o Brasil de "a trave-mestre do relacionamento entre a União Européia e a América Latina". A frase pode ser agradável aos ouvidos brasileiros, mas tende a acentuar os ciúmes em países sul-americanos que já manifestaram preocupação com o novo status conferido ao Brasil pelos europeus.
Mandelson, sempre com a língua muito afiada, cuidou de jogar a sua própria dose de veneno. Disse a jornalistas brasileiros que, se não fosse pela Argentina, "o acordo Mercosul/ União Européia teria sido fechado em 2004".
É uma alusão ao fato, suposto ou real, de que são os argentinos que bloqueiam propostas de abertura industrial mais suculenta por parte do Mercosul e exigem abertura agrícola mais ampla dos europeus.
De todo modo, não há ainda uma data marcada para a retomada da negociação entre os dois blocos. O impasse é, a rigor, o mesmo que paralisa a Rodada Doha: o Mercosul quer a liberalização da agricultura na Europa, que quer que o bloco sul-americano abra mais a sua indústria e também o setor de serviços. (CR)


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