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COMÉRCIO EXTERIOR
Organização considera ilegais subsídios oferecidos a produtores europeus; UE ainda pode recorrer da decisão
Brasil obtém na OMC vitória sobre açúcar
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil obteve ontem vitória
sobre a União Européia na OMC
(Organização Mundial do Comércio) na questão do açúcar. Segundo o governo, a organização
considerou ilegais, em parecer
preliminar, os subsídios europeus
à produção. Esses subsídios, segundo o Itamaraty, geram um
prejuízo de US$ 400 milhões por
ano aos produtores brasileiros.
O conteúdo da decisão da OMC
ainda é confidencial e circulou
apenas entre as partes envolvidas
na disputa. A Tailândia e a Austrália são parceiras do Brasil nesse
processo. Outros 22 países participam como partes interessadas,
entre eles os EUA e o Canadá. A
UE poderá apelar da decisão.
"Não é para estar feliz? Estou feliz. Podemos considerar mais
uma vitória", disse o ministro
Celso Amorim (Relações Exteriores), ao ser questionado sobre a
decisão do Órgão de Solução de
Controvérsias da OMC. As outras
vitórias às quais Amorim faz referência são o parecer da OMC favorável ao Brasil na disputa com
os EUA no mercado de algodão e
os avanços na atual rodada de negociações multilaterais.
No processo do açúcar, o Brasil
e seus aliados argumentam que a
UE não cumpriu os compromissos de redução de subsídios à exportação assumidos com a OMC.
"[Os subsídios] levaram a Europa a exportar açúcar em quantidades maiores do que a que está
permitida no acordo da OMC",
afirmou o subsecretário-geral de
Assuntos Econômicos e Tecnológicos, Clodoaldo Hugueney. No
Acordo Agrícola da OMC, os países que subsidiam produtos têm
um limite anual de exportações.
As queixas brasileiras se concentram em dois pontos fundamentais: a produção de açúcar
subsidiado na Europa em volumes superiores ao consumo interno e a reexportação subsidiada de
açúcar comprado dentro do sistema de preferências tarifárias que
UE oferece a alguns países da
África, do Caribe e do Pacífico e,
em menor escala, à Índia.
Em alguns anos, a UE chega a
vender 4 milhões de toneladas a
mais do que o permitido pelas
suas obrigações na OMC, afirma
Hugueney. Pelo acordo, a UE poderia exportar cerca de 1,3 milhão
de toneladas por ano.
"Ineficiente"
A política européia para o açúcar cria uma situação injusta, segundo Hugueney. "A UE é o segundo maior exportador de açúcar do mundo e o mais ineficiente
dos produtores", reclama.
A produção da Europa de açúcar, a terceira do mundo, e suas
exportações só se sustentam devido à ajuda do governo. Enquanto
a tonelada de açúcar no mercado
mundial vale cerca de US$ 260
por tonelada, a UE garante ao
produtor mais de US$ 600.
Segundo diplomatas brasileiros,
a União Européia quer minimizar
a importância da disputa na OMC
e convencer o Brasil a tratar o assunto nas negociações comerciais
que envolvem as duas regiões: a
própria Rodada Doha (OMC) e a
criação da área de livre comércio
entre o Mercosul e a UE.
Os europeus argumentam que
já deram demonstrações de que
estão dispostos a cortar seus subsídios. No mês passado, a Comissão Européia anunciou que cortaria os subsídios ao açúcar a partir
de 2005. Hugueney afirma que o
Brasil não vai misturar a disputa
comercial com as negociações.
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