São Paulo, sábado, 05 de agosto de 2006

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Produção industrial perde fôlego em junho

Índice registra recuo de 1,7% no mês; no segundo trimestre, produção cresceu 0,5%, reduzindo ritmo do 1º tri (1%)

Real forte, estoques maiores e problemas pontuais como greves e interrupções na produção de petróleo explicam a retração


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de crescer com força em maio (1,6%), a produção da indústria perdeu fôlego e caiu 1,7% em junho (na comparação livre de efeitos sazonais) sob efeito do câmbio valorizado, de estoques maiores e de problemas pontuais como greves e interrupções na produção de petróleo. Foi a maior redução desde setembro de 2005 (-2%), disse o IBGE.
Apesar do resultado de junho, a indústria ainda manteve uma taxa positiva no segundo trimestre, mas em desaceleração. A produção cresceu 0,5% ante o quarto trimestre de 2005, reduzindo o ritmo do primeiro trimestre (alta de 1%).
Segundo o IBGE, a retração de maio para junho foi generalizada, ao atingir 17 dos 23 setores pesquisados.
Na comparação com junho de 2005, a produção da indústria também caiu -0,6%, após alta de 4,8% em maio. No primeiro semestre, a indústria cresceu 2,6% na comparação com igual período de 2005.
Para Sílvio Sales, chefe da Coordenação de Indústria do IBGE, a indústria mais do que devolveu em junho o crescimento expressivo de julho. "A dimensão da queda sugere que foi mais que uma acomodação."
Segundo o economista, o menor volume de exportações em junho (afetado por greve de fiscais), a paralisação programada em plataformas de petróleo, o possível efeito da Copa do Mundo e greves da Receita e de montadoras explicam o recuo.
"Houve problemas técnicos como paralisação em plataformas, greve em montadoras e provavelmente paralisações informais [por causa dos jogos da Copa]", disse Sales.
As interrupções na produção de óleo fizeram com que a indústria extrativa caísse 3,4% de maio para junho.
Sales ressaltou ainda o efeito do câmbio, que inibe exportações. "Alguns fatores são pontuais, mas o efeito da redução do volume exportado não é."
Para justificar sua análise, ele citou a redução dos embarques de produtos brasileiros de 2% no semestre, contra um aumento de 19,1% das importações. Os dados são da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).
Segundo o IBGE, os setores mais voltados às exportações cresceram menos no primeiro semestre (2,3%) do que os centrados no mercado interno (2,9%). O economista disse ainda que um nível mais alto de estoques também pode ter influenciado o desempenho de junho. Em sondagens da CNI (Confederação Nacional da Indústria) em junho e da FGV (Fundação Getulio Vargas) em julho, os empresários avaliaram que seus estoques estavam mais elevados. "A partir de junho e julho, começaram a surgir sinais de que a indústria começou a apontar uma elevação de estoque inesperada", disse.
Além da indústria extrativa, os destaques negativos ficaram com veículos (-4,6%) e outros produtos químicos (-4,8%), sob impacto da menor fabricação de fertilizantes.
Pelos cálculos do IBGE, se a indústria mantiver o mesmo nível de produção atual sem crescer mais nada até dezembro, fechará 2006 com alta de 2%. Especialistas projetam, porém, uma aceleração da produção no segundo semestre.
Sales disse ainda que o maior nível de utilização da capacidade instalada -84,5% em julho, maior patamar para o mês desde 1985- "abre uma oportunidade" de crescimento com mais investimentos.


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