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Produção industrial perde fôlego em junho
Índice registra recuo de 1,7% no mês; no segundo trimestre, produção cresceu 0,5%, reduzindo ritmo do 1º tri (1%)
Real forte, estoques maiores e problemas pontuais como greves e interrupções na produção de petróleo explicam a retração
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de crescer com força
em maio (1,6%), a produção da
indústria perdeu fôlego e caiu
1,7% em junho (na comparação
livre de efeitos sazonais) sob
efeito do câmbio valorizado, de
estoques maiores e de problemas pontuais como greves e interrupções na produção de petróleo. Foi a maior redução desde setembro de 2005 (-2%),
disse o IBGE.
Apesar do resultado de junho, a indústria ainda manteve
uma taxa positiva no segundo
trimestre, mas em desaceleração. A produção cresceu 0,5%
ante o quarto trimestre de
2005, reduzindo o ritmo do primeiro trimestre (alta de 1%).
Segundo o IBGE, a retração
de maio para junho foi generalizada, ao atingir 17 dos 23 setores pesquisados.
Na comparação com junho
de 2005, a produção da indústria também caiu -0,6%, após
alta de 4,8% em maio. No primeiro semestre, a indústria
cresceu 2,6% na comparação
com igual período de 2005.
Para Sílvio Sales, chefe da
Coordenação de Indústria do
IBGE, a indústria mais do que
devolveu em junho o crescimento expressivo de julho. "A
dimensão da queda sugere que
foi mais que uma acomodação."
Segundo o economista, o menor volume de exportações em
junho (afetado por greve de fiscais), a paralisação programada
em plataformas de petróleo, o
possível efeito da Copa do
Mundo e greves da Receita e de
montadoras explicam o recuo.
"Houve problemas técnicos
como paralisação em plataformas, greve em montadoras e
provavelmente paralisações informais [por causa dos jogos da
Copa]", disse Sales.
As interrupções na produção
de óleo fizeram com que a indústria extrativa caísse 3,4% de
maio para junho.
Sales ressaltou ainda o efeito
do câmbio, que inibe exportações. "Alguns fatores são pontuais, mas o efeito da redução
do volume exportado não é."
Para justificar sua análise, ele
citou a redução dos embarques
de produtos brasileiros de 2%
no semestre, contra um aumento de 19,1% das importações. Os dados são da Funcex
(Fundação Centro de Estudos
do Comércio Exterior).
Segundo o IBGE, os setores
mais voltados às exportações
cresceram menos no primeiro
semestre (2,3%) do que os centrados no mercado interno
(2,9%). O economista disse ainda que um nível mais alto de estoques também pode ter influenciado o desempenho de
junho. Em sondagens da CNI
(Confederação Nacional da Indústria) em junho e da FGV
(Fundação Getulio Vargas) em
julho, os empresários avaliaram que seus estoques estavam
mais elevados. "A partir de junho e julho, começaram a surgir sinais de que a indústria começou a apontar uma elevação
de estoque inesperada", disse.
Além da indústria extrativa,
os destaques negativos ficaram
com veículos (-4,6%) e outros
produtos químicos (-4,8%), sob
impacto da menor fabricação
de fertilizantes.
Pelos cálculos do IBGE, se a
indústria mantiver o mesmo
nível de produção atual sem
crescer mais nada até dezembro, fechará 2006 com alta de
2%. Especialistas projetam, porém, uma aceleração da produção no segundo semestre.
Sales disse ainda que o maior
nível de utilização da capacidade instalada -84,5% em julho,
maior patamar para o mês desde 1985- "abre uma oportunidade" de crescimento com
mais investimentos.
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