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Sem acordo com trabalhador, "velha Varig" poderá falir
Ministério Público do Trabalho entra com ação civil contra novos donos da aérea para que assumam dívida com empregados
Trabalhadores se recusam a fechar acordo coletivo, o que ameaça sobrevivência da parcela da empresa que fica em recuperação judicial
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O Ministério Público do Trabalho entrou ontem com uma
ação civil pública contra os novos donos da Varig. O objetivo é
fazer com que a Aéreo Transportes Aéreos, empresa criada
pela VarigLog para adquirir os
ativos da Varig, assuma as dívidas trabalhistas.
Após uma reunião com representantes do Ministério Público e sindicatos, os advogados
da VarigLog voltaram a afirmar
que não pretendem pagar as dívidas da empresa com os empregados. Os custos de rescisões foram estimados pela Varig em R$ 253,1 milhões, e os
salários atrasados, em R$ 106,2
milhões.
Para Selma Balbino, presidente do Sindicato Nacional
dos Aeroviários, houve falta de
sensibilidade dos compradores
e do governo. "Há uma convulsão social. O trabalhador já tem
o trauma de perder o emprego,
mas ficar sem trabalho e não
receber nada? Ninguém paga
aluguel com debêntures", afirmou em alusão aos títulos de
dívida que a VarigLog se comprometeu a emitir para os trabalhadores em dez anos.
Segundo Rodrigo Carelli,
procurador do Ministério Público do Trabalho, existe sucessão de dívida trabalhista, e a nova Varig precisa arcar com o pagamento dos salários atrasados
e das demissões. "O MPT vai
ser obrigado a entrar com ação
civil pública para que os direitos dos trabalhadores sejam
respeitados. Não podemos esperar que esse acordo ocorra
porque as pessoas estão passando fome", disse.
Na avaliação do procurador,
a natureza da ação é trabalhista
e não há risco de que ela seja
julgada pela 8ª Vara Empresarial, responsável pelo processo
de recuperação da Varig. No
início da semana, trabalhadores ganharam na Justiça do
Trabalho uma ação pedindo o
bloqueio dos US$ 75 milhões
aportados pela VarigLog à Varig. O juiz Luiz Roberto Ayoub,
da 8ª Vara Empresarial, rejeitou a decisão porque o dinheiro
seria usado em investimentos
na nova empresa.
A Varig ainda discute com a
VarigLog o reconhecimento de
uma dívida referente ao período em que as duas empresas faziam parte de um mesmo grupo
econômico. A Varig alega que o
valor é superior a R$ 100 milhões e a VarigLog afirma que
ele é de cerca de R$ 40 milhões.
Há uma auditoria em curso para verificar o valor correto. Os
sindicatos pediram que os recursos sejam repassados diretamente para pagar demissões.
Risco de falência
Menos de um mês após a
venda das operações da Varig
em leilão, já se comenta a hipótese de falência da "velha Varig", a parcela da empresa que
permanece em recuperação judicial. O plano aprovado pelos
credores em assembléia depende do fechamento de um acordo coletivo dos trabalhadores.
Segundo Balbino, o acordo não
será aprovado. "Esse acordo coletivo não passa. Tentamos
mostrar à nova empresa que esse plano não pode ser aceito."
Segundo Fábio Carvalho, advogado da Varig, caso o acordo
não seja fechado com os funcionários, a "velha Varig" pode falir. "Não havendo acordo coletivo, é correto afirmar que há
risco de falência das operações
remanescentes. Sem a aprovação, será muito difícil equalizar
financeiramente as operações
da companhia e podemos não
conseguir cumprir o plano."
A sobrevivência dessa parcela da empresa é fundamental
para os credores. A velha Varig
carrega as dívidas estimadas
em R$ 7,9 bilhões, de acordo
com o último balanço publicado pela Varig. O plano da Varig
prevê o pagamento dos credores em 20 anos.
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