São Paulo, terça-feira, 05 de setembro de 2006

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Mercado rebaixa estimativa para o PIB

Primeira pesquisa após sair o resultado do 2º trimestre prevê aumento de 3,2% no ano, contra 3,5% uma semana antes

Projeção de analistas para o PIB industrial também sofre queda, de 4,13% para 3,8%; governo espera que o país cresça 4% ao fim de 2006

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de serem anunciados os números do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre, analistas de mercado reduziram suas projeções para o crescimento da economia neste ano. Agora, a expectativa é que a expansão fique em 3,2% -abaixo, portanto, dos 4% esperados pelo governo.
A estimativa consta da pesquisa semanal do Banco Central, que, na última sexta-feira, ouviu cerca de cem bancos e consultorias. No levantamento uma semana antes, projetava-se que a economia fosse crescer 3,5% neste ano. Essas contas, porém, foram revistas depois que o IBGE divulgou, na quinta, que o país cresceu 0,5% no segundo trimestre.
A redução das projeções de crescimento decorre, principalmente, do menor otimismo em relação ao comportamento da indústria, setor que responde por cerca de um terço do PIB brasileiro. De acordo com a pesquisa do BC, a estimativa para o crescimento do PIB industrial de 2006 foi reduzida de 4,13% para 3,80%.
Foi a quarta semana seguida de queda nas projeções do mercado para o PIB de 2006. Para a economista Leda Paulani, professora da Universidade de São Paulo e presidente da SEP (Sociedade Brasileira de Economia Política), essa piora nas expectativas não chega a surpreender, diante dos vários obstáculos ao crescimento.
Entre esses obstáculos, diz Paulani, estão o ainda elevado nível de desemprego e as altas taxas de juros praticadas no país. Para ela, esses fatores impedem que os investimentos das empresas e o consumo das famílias aumentem de forma sustentada, travando o crescimento da economia.
No governo, a expectativa era que medidas como o aumento do salário mínimo e a expansão do Bolsa-Família pudessem aumentar a renda da população mais pobre, o que se traduziria em mais consumo e, como conseqüência, mais crescimento.
"Claro que medidas como essas fazem bem, mas não são suficientes para reverter uma tendência. A participação dessas pessoas [que recebem o salário mínimo ou o Bolsa-Família] no PIB é muito pequena."
Além disso, Paulani diz que os gastos do governo estão "comprimidos" e que mais investimentos públicos em áreas como infra-estrutura são necessários para estimular o nível de atividade. A economista rebate análises de alguns de seus colegas, que cobram do governo o oposto: mais controle nas suas despesas.
"Muita gente fala em cortar gastos do governo, mas ninguém fala em cortar juros e reduzir os gastos com o serviço da dívida. É como se isso fosse intocável." A taxa Selic, hoje em 14,25%, remunera boa parte do endividamento público. Em 2005, as despesas do governo federal com os juros de sua dívida somaram R$ 129 bilhões.
Mas, mesmo com a expectativa de um crescimento mais modesto, os analistas consultados dizem não esperar uma queda mais pronunciada dos juros. De acordo com o levantamento do BC, a Selic deve encerrar 2006 em 14% ao ano. Ou seja, a projeção do mercado é que, até dezembro, seja efetuado apenas mais um corte de 0,25 ponto percentual na taxa.


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