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Mercado rebaixa estimativa para o PIB
Primeira pesquisa após sair o resultado do 2º trimestre prevê aumento de 3,2% no ano, contra 3,5% uma semana antes
Projeção de analistas para o PIB industrial também sofre queda, de 4,13% para 3,8%; governo espera que o país cresça 4% ao fim de 2006
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia depois de serem
anunciados os números do PIB
(Produto Interno Bruto) brasileiro no segundo trimestre,
analistas de mercado reduziram suas projeções para o crescimento da economia neste
ano. Agora, a expectativa é que
a expansão fique em 3,2%
-abaixo, portanto, dos 4% esperados pelo governo.
A estimativa consta da pesquisa semanal do Banco Central, que, na última sexta-feira,
ouviu cerca de cem bancos e
consultorias. No levantamento
uma semana antes, projetava-se que a economia fosse crescer
3,5% neste ano. Essas contas,
porém, foram revistas depois
que o IBGE divulgou, na quinta,
que o país cresceu 0,5% no segundo trimestre.
A redução das projeções de
crescimento decorre, principalmente, do menor otimismo
em relação ao comportamento
da indústria, setor que responde por cerca de um terço do PIB
brasileiro. De acordo com a
pesquisa do BC, a estimativa
para o crescimento do PIB industrial de 2006 foi reduzida de
4,13% para 3,80%.
Foi a quarta semana seguida
de queda nas projeções do mercado para o PIB de 2006. Para a
economista Leda Paulani, professora da Universidade de São
Paulo e presidente da SEP (Sociedade Brasileira de Economia Política), essa piora nas expectativas não chega a surpreender, diante dos vários
obstáculos ao crescimento.
Entre esses obstáculos, diz
Paulani, estão o ainda elevado
nível de desemprego e as altas
taxas de juros praticadas no
país. Para ela, esses fatores impedem que os investimentos
das empresas e o consumo das
famílias aumentem de forma
sustentada, travando o crescimento da economia.
No governo, a expectativa era
que medidas como o aumento
do salário mínimo e a expansão
do Bolsa-Família pudessem aumentar a renda da população
mais pobre, o que se traduziria
em mais consumo e, como conseqüência, mais crescimento.
"Claro que medidas como essas fazem bem, mas não são suficientes para reverter uma
tendência. A participação dessas pessoas [que recebem o salário mínimo ou o Bolsa-Família] no PIB é muito pequena."
Além disso, Paulani diz que
os gastos do governo estão
"comprimidos" e que mais investimentos públicos em áreas
como infra-estrutura são necessários para estimular o nível
de atividade. A economista rebate análises de alguns de seus
colegas, que cobram do governo o oposto: mais controle nas
suas despesas.
"Muita gente fala em cortar
gastos do governo, mas ninguém fala em cortar juros e reduzir os gastos com o serviço da
dívida. É como se isso fosse intocável." A taxa Selic, hoje em
14,25%, remunera boa parte do
endividamento público. Em
2005, as despesas do governo
federal com os juros de sua dívida somaram R$ 129 bilhões.
Mas, mesmo com a expectativa de um crescimento mais
modesto, os analistas consultados dizem não esperar uma
queda mais pronunciada dos
juros. De acordo com o levantamento do BC, a Selic deve encerrar 2006 em 14% ao ano. Ou
seja, a projeção do mercado é
que, até dezembro, seja efetuado apenas mais um corte de
0,25 ponto percentual na taxa.
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