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ANÁLISE
"Front" econômico está mais vulnerável do que parece
PAUL KRUGMAN
A inda que as demais notícias tenham passado despercebidas em meio aos ladridos dos cães de guerra, há algo de ominoso acontecendo no front da economia. Não é um desdobramento
dramático, mas mês a mês os números surgem um pouco piores
do que o esperado. Deixemos a
política completamente de lado
desta vez e revisemos a nossa situação atual e o que deveria ser
feito.
O ponto chave é que a presente
recessão não se assemelha às do
passado imediato -é mais parecida com as recessões de nossos
avós do que com as de nossos
pais. Ou seja, não se trata da recessão à qual nos acostumamos no
período posterior à Segunda
Guerra Mundial, engendrado pelo Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos) para
combater a inflação e facilmente
revertida quando o Fed afrouxa as
rédeas.
Trata-se de uma crise clássica de
excesso de investimento, de uma
espécie que era normal antes da
Segunda Guerra. Essas crises
sempre foram difíceis de enfrentar pelo simples expediente de um
corte nas taxas de juros.
Intervenção insuficiente
Agora, não há como questionar
que os rápidos cortes de juros decretados pelo Fed ao longo do ano
passado ajudaram a evitar uma
crise muito mais severa. Mas um
estudo severo da política monetária sugere que o Fed não fez o suficiente e é possível que não seja capaz de fazer o bastante.
Ainda que a taxa de fundos federais do Fed, a medida mais
usual da política monetária, esteja
em seu ponto mais baixo em gerações, a verdadeira taxa dos fundos
do banco central -a taxa de juros
menos a taxa de inflação, que é o
que importa para as decisões de
investimento- continua mais ou
menos igual ao que era no ponto
mais baixo da última recessão, no
começo dos anos 90, porque hoje
a inflação é consideravelmente
mais baixa.
E a queda na taxa de fundos federais engendrada por Alan
Greenspan [presidente do Fed" e
companhia, ainda que mais rápida do que na última recessão, foi
consideravelmente menor, equivalendo a 4,75% contra o corte de
6,75% no começo dos anos 90.
Mesmo que a taxa de fundos federais caia a zero, a redução de taxa
de juros que teríamos seria menor
do que a da recessão passada.
Se você acredita que os excessos
dos anos 90 foram maiores do que
os dos anos 80, que a economia
precisa de mais estímulo para se
recuperar, então é provável que o
Fed não tenha feito o suficiente, e
bastante possível que até mesmo
reduzir os juros a zero não será o
suficiente.
E essa situação pode durar algum tempo. O acúmulo de capacidade excedente, especialmente
no setor de telecomunicações, demorará um pouco a ser liquidado.
É bastante possível que a nossa
economia se mantenha lenta até
2004, e talvez além disso. O Fed
deveria cortar ainda mais as taxas
de juros isso talvez não seja o bastante, mas ajudará. O que mais
deveríamos fazer?
Soluções
A resposta é que deveríamos ter
um plano sensível de estímulo fiscal que encoraja gastar agora, para cobrir o período até que o investimento empresarial se recupere. Alguns dos elementos desse
plano são óbvios. Primeiro, prorrogar o pagamento do auxílio-desemprego, que é consideravelmente menos generoso hoje do
que na recessão passada. Isso
cumpriria um papel duplo, ajudando algumas das pessoas mais
necessitadas e dando dinheiro às
pessoas que têm maior probabilidade de gastá-los.
Segundo, deve-se fornecer assistência aos Estados, que atravessam crise fiscal cada vez mais desesperada. Essa medida também
servirá a uma dupla função, impedindo cortes severos nos serviços públicos, especialmente nos
serviços médicos para os mais pobres, um alvo muito provável, ao
mesmo tempo que estimula a demanda.
Se esses elementos não propiciarem uma soma grande o bastante, por que não adotar mais
uma restituição tributária, dessa
vez beneficiando todas as pessoas
que pagam impostos sobre seus
salários?
E como faremos para pagar por
tudo isso?
Vocês sabem a resposta. É preciso cancelar os cortes de impostos determinados para os próximos anos. A economia precisa de
estímulo agora. Não precisa de
cortes de impostos para os muito
ricos dentro de cinco anos.
Não se trata de uma proposta altamente complexa. Na verdade, é
Economia em sua forma mais básica, aplicada à nossa situação
atual.
Sei bem, no entanto, que é uma
solução que está politicamente fora de questão. Mas creio que tenhamos o direito de perguntar o
motivo.
Paul Krugman, economista e professor
na Universidade Princeton (EUA), é colunista do jornal "The New York Times".
Tradução de Paulo Migliacci
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