São Paulo, sábado, 05 de outubro de 2002

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ENERGIA

Produto é reajustado em 10,6%; é a quinta vez que a estatal reajusta o preço dos seus derivados em apenas 10 dias

Agora Petrobras sobe preço do gás natural

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A Petrobras anunciou ontem o aumento de 10,6% no preço do gás natural importado da Bolívia. O reajuste não é válido para o gás de botijão, mas sim para o produto, canalizado e distribuído para indústrias, pontos comerciais e residências em alguns Estados.
Essa é a quinta vez que a Petrobras aumenta o preço de seus derivados nos últimos dez dias. O GLP para uso industrial já havia subido duas vezes e o óleo combustível e o querosene de aviação uma vez cada um.
Antes do reajuste, o preço do gás boliviano era de US$ 3,30 por milhão de BTU (unidade de medida do produto). Do total de gás natural consumido no país (24 milhões de metros cúbicos), 13 milhões de metros cúbicos são importados da Bolívia.
Para o consumidor final, o impacto deve ser pequeno. Somente em São Paulo é que existe uma rede mais expressiva de distribuição residencial. Nos demais Estados, o foco das distribuidoras é a indústria. O contrato para aquisição do gás boliviano prevê reajustes a cada três meses.

Mais aumento
A Petrobras comunicou às distribuidoras e à ANP (Agência Nacional do Petróleo) que subirá novamente o preço do GLP para uso industrial. Trata-se de uma forma de a estatal "comer pelas beiradas" e evitar perdas maiores com o controle de preço do produto, tabelado desde 19 de agosto para a utilização residencial.
Segundo a Folha apurou, o assunto foi tratado anteontem numa reunião no Rio entre representantes da Petrobras, da ANP e das distribuidoras. O novo aumento deve ser anunciado nos próximos dias.
No encontro, a Petrobras se comprometeu a não reduzir imediatamente as importações do produto e as engarrafadoras, a realizar estudos para comprar diretamente no exterior. A estatal já chegou a informar que diminuiria em 20% as compras de GLP no exterior, mas voltou atrás.
Num intervalo inferior a uma semana, a Petrobras subiu o preço do GLP industrial duas vezes. Em 23 de setembro, o aumento foi de 5,9%. No dia 30, foi de 5,7%.
Sem poder reajustar o gás de cozinha para uso doméstico, a Petrobras tem adotado uma estratégia de aumentar os produtos "periféricos", cujo impacto no bolso do consumidor é indireto. É o caso do querosene de aviação, do óleo combustível (insumo industrial e de geração termelétrica) e do GLP industrial. Todos esses derivados subiram recentemente.
O óleo combustível teve alta de 9,7% em 30 de setembro. No dia seguinte, o querosene de aviação subiu 16,3%.
De acordo com o ex-assessor da ANP Adriano Pires, do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), a estratégia da Petrobras evita que uma perda de receita ainda maior por causa da diferença do preço interno dos derivados e o do mercado internacional.
No caso da gasolina, por exemplo, Pires calcula que a defasagem chega a 30% e que a estatal perde R$ 73 milhões por mês.
No mercado, ganha força a possibilidade de o preço do gás de cozinha (botijão de 13 kg) não ser reajustado até o fim do ano, ao contrário do esperado inicialmente, quando se apostava num aumento logo após as eleições.
É que o produto tem impacto importante na inflação, sobretudo no orçamento das famílias de menor renda, e não seria conveniente ficar com esse desgaste num final de governo.
Depois de informar que já estava faltando gás, o Sindigás (sindicato das distribuidoras) amenizou o discurso. O diretor Agostinho Simões disse ontem que não está havendo problemas de abastecimento.
Simões afirmou que algumas dificuldades "isoladas" foram causadas mais pela parada de duas refinarias em São Paulo do que por redução nas importações.


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