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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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Noruega tem empresa no Brasil para comprar apenas grão convencional

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em 1999, a empresa norueguesa Denofa se instalou no Brasil com um objetivo: garantir que toda a soja exportada para Noruega não tivesse nenhum grão transgênico.
Até aquele ano, esse país nórdico, com cerca de 4 milhões de habitantes, comprava soja dos EUA e da Argentina. Com a expansão do cultivo de sementes geneticamente modificadas nos dois países, a Denofa se mudou para o Brasil, que era, oficialmente, um país livre de transgênicos. Os agricultores do Rio Grande do Sul, no entanto, já plantavam a soja geneticamente modificada.
O volume de negócios é pequeno perto das exportações totais brasileiras de soja. Neste ano, a Denofa deve mandar para seu país cerca de 450 mil toneladas de soja, o equivalente a US$ 100 milhões. A exportação total do Brasil de soja e seus derivados deve chegar a US$ 8,2 bilhões.
"A Noruega tem uma das leis mais rigorosas da Europa", diz o presidente da Denofa, Christian Kaels. Os maiores mercados europeus permitem a entrada de transgênicos desde que devidamente rotulados. Já a lei norueguesa proíbe no seu território a presença de qualquer produto geneticamente modificado.
Garantir que os consumidores noruegueses não comerão transgênicos tem um custo. A Denofa montou uma estrutura com 20 funcionários no Brasil para enfrentar a tarefa. A empresa, que é privada, afirma que o lucro é possível, pois o custo de vida na Noruega é mais alto.
"Com os testes que fazemos para verificar se a soja é ou não transgênica gastamos até US$ 1 milhão por ano", diz Kaels. A segregação dos grãos também envolve uma logística complexa, cujo custo a empresa não revela.
O primeiro passo do processo é fechar contratos com cerca de 200 produtores que se comprometam a plantar apenas sementes convencionais. Antes do plantio, no entanto, a Denofa faz análises para garantir que não há contaminações de transgênicos.
Na época da colheita, cuidados adicionais encarecem ainda mais a operação. Além de analisar os grãos que serão transportados, os caminhões precisam ser totalmente limpos.
Os armazéns que recebem o produto são destinados o ano inteiro à soja convencional. Ficam uma parte do ano vazios, ao contrário dos demais armazéns. O navio que sai de Santa Catarina só carrega a soja convencional que vai para a Noruega. É um navio pequeno, se comparado com o padrão de mercado.
Professor de política ambiental da Universidade de Idaho (Estados Unidos), Charles Benbrook afirma, num recente relatório, que as estimativas de custo de separar a soja transgênica da convencional variam de US$ 5 a US$ 25 por tonelada. Uma tonelada, neste ano, está sendo vendida a cerca de US$ 220.
Mato Grosso é o único Estado do qual a Denofa compra. No resto do país, a empresa norueguesa afirma que não tem controle para garantir a qualidade da soja.
Luiz Antonio Cunha Pinto, diretor da Agromon, é um dos principais fornecedores da Denofa. Cunha afirma que é vantajosa a relação com a empresa, pois ele recebe financiamentos para sua produção a custos mais baixos que os de bancos nacionais.
Segundo Kaels, com a introdução da soja transgênica no Brasil, os produtores de soja convencional vão querer receber um prêmio para continuar plantando o produto. Atualmente, diz Kaels, as duas sojas são compradas pelo mesmo valor.

Questão estratégica
A liberação da soja transgênica no Brasil deve levar em conta questões comerciais. Dos grandes mercados importadores da soja brasileira, nenhum proíbe a importação de grãos geneticamente modificados, como alegam os opositores da liberação dos transgênicos.
Mas há obstáculos à soja transgênica, sobretudo na União Européia. As cargas embarcadas para os países europeus precisam identificar se a soja é ou não transgênica. Desde 2 de julho, alimentos com mais de 0,9% de transgênicos precisam ser rotulados na União Européia. Esse é um percentual mais rigoroso do que o 1% fixado recentemente pela legislação brasileira.
De acordo com as associações que representam os exportadores de soja (óleo, grãos e farelo), há empresas no Reino Unido e na França que só compram soja convencional e por um preço mais alto, entre 5% e 7%, segundo estimativas dos exportadores.
(ANDRÉ SOLIANI E MARTA SALOMON)


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