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São Paulo, domingo, 05 de outubro de 2003

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PERSPECTIVA

Órgão culpa política contracionista por baixo desempenho em 2003

Para Cepal, cautela demais do BC atrasou crescimento

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) também capitulou. A agência regional da ONU diz que a política "contracionista" do BC comprometeu a economia neste ano e por isso não se cumprirá a previsão de crescimento de 1,5% anunciada pela entidade em agosto.
Manuel Marfán Lewis, diretor da Cepal e ex-ministro da Fazenda do Chile, argumenta que o comportamento "excessivamente cauteloso" do BC na condução da política monetária (leia-se dos juros) provocou atraso na reativação da economia, depois da crise de confiança do período pré-eleitoral, e, consequentemente, é responsável pela medíocre taxa de crescimento "contratada" para 2003. Em seu relatório de inflação divulgado na segunda-feira, o BC já havia revisto de 1,5% (o dado de junho) para 0,6% a projeção de expansão para este ano.
A Cepal divulga dois relatórios anuais sobre o desempenho econômico dos países da região: o primeiro em agosto (na época, a estimativa era de 1,5% para o Brasil, o mesmo que se previa para a América Latina como um todo) e uma revisão, em dezembro. A burocracia interna do órgão impede a apresentação de estimativas fora das datas. "Uma coisa é ter espaço para crescer; outra, que esteja aproveitando esse espaço", disse Marfán. "O crescimento será menor (que o 1,5%) simplesmente porque a possibilidade de retomada foi atrasada", completou.
De acordo com ele, a política monetária do BC ainda permanece "mais contracionista do que se poderia aceitar". O economista argumenta que a taxa básica de juros, a despeito do corte acumulado de 6,5 pontos percentuais nas últimas três reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), não foi reduzida na mesma proporção do recuo da inflação.
Para o diretor da Cepal, o Brasil poderia encerrar o ano com uma taxa de juros reais (taxa nominal menos a inflação) de um dígito. Desde que mantenha em ordem as contas fiscais. "O maior risco para o governo é ser afetado por algum tipo de ansiedade e isso resultar em desordem das contas públicas", afirmou o ex-ministro.
Segundo Marfán, taxas de juros nominais mais baixas devem implicar "algum" repique na inflação, mas ele considera que não se constituiria uma ameaça. "A inflação caiu bruscamente. É possível que ocorra algum repique, mas não nos mesmos níveis do ano passado. Inflação não se constitui mais uma ameaça."
O diretor da comissão agregou dois fatores que hoje não constituem elementos de pressão inflacionária: a queda no consumo, no mercado interno, e o comportamento estável do preço do petróleo, no mercado mundial.

Condições favoráveis
Marfán avalia que o recuo na taxa de investimentos da economia -entre abril e junho, ela foi de 17,88% do PIB, o pior resultado desde o segundo semestre de 1991- deve-se a fatores "conjunturais". "Os atuais indicadores líderes, aqueles que antecipam o ciclo econômico, dão razões para acreditarmos em um crescimento de 3% em 2004. De todos os países latino-americanos, o Brasil é hoje o que tem melhores condições para voltar a crescer", afirmou.


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