São Paulo, sexta-feira, 05 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Indústria retoma alta e cresce 5,3% no ano

Após julho fraco, setor registra expansão de 1,3% em agosto e supera previsões de especialistas; IBGE vê crescimento "generalizado"

Para o instituto, ritmo do setor, que supera o da inflação, vai se manter nos próximos meses e puxará resultado do PIB em 2007

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Após retração de 0,4% em julho, a produção industrial voltou a crescer com força em agosto. A alta foi de 1,3% na taxa com ajuste sazonal, comparada ao mês anterior, resultado superior às previsões do mercado. Em relação a agosto de 2006, a expansão foi de 6,6%, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Para o coordenador de indústria do IBGE, Sílvio Sales, o setor cresceu de modo "generalizado" e retomou trajetória positiva iniciada em outubro de 2006 e só interrompida em julho. "Vimos o dado de julho como uma acomodação", avaliou.
Puxaram a alta em agosto os setores de alimentos (3,7%), veículos automotores (3,3%), máquinas e equipamentos (3,7%) e material eletrônico e de comunicações (6,7%).
Diante do bom desempenho, diz Sales, a indústria deve se manter aquecida até o final do ano graças à abundante oferta de crédito e à evolução positiva do mercado de trabalho -massa salarial e emprego em alta.
Sales ressaltou ainda que neste ano o perfil de crescimento da indústria é bastante salutar. Citou o fato de a produção subir mais que a inflação, algo que não ocorria havia muito tempo e que sinaliza a sustentabilidade e a qualidade do crescimento da indústria.
De janeiro a agosto, a indústria cresceu 5,3%, mais que os 2,8% do IPCA acumulado no período. No fechamento do ano, prevê, tal tendência será mantida. Em 12 meses encerrados em agosto, a produção subiu 4,5%, maior marca desde agosto de 2005.
Sérgio Vale, economista da MB Associados, afirma que o setor se beneficia da redução dos juros, responsável pelo incremento da demanda doméstica, que, por sua vez, vai se manter aquecida pelo menos até o final do ano.
"Não acredito que a economia esteja em desaceleração. A demanda está muito vigorosa. Em setembro, a indústria deve ter se acelerado. Estimo um crescimento próximo a 6% neste ano", afirma Vale.
Para o economista, os juros menores impulsionam o setor neste ano. "A indústria será o carro-chefe do PIB no ano."
Apesar da expansão contínua da produção de máquinas e equipamentos, vários especialistas esperam que o BC (Banco Central) interrompa a queda dos juros na próxima reunião do Copom. A categoria de bens de capital cresceu 4% na comparação com julho e 21% em relação a agosto de 2006.

Investimento e inflação
Para Marcela Prada, tal desempenho afasta o risco de pressão inflacionária, pois indica o incremento da "capacidade produtiva no futuro". Ainda assim, diz, ela não acredita em queda da Selic na reunião de outubro do Copom. "O BC tende a ser mais cauteloso."
Segundo Vale, da MB, o BC já mira na inflação de 2008 e de 2009 -que, neste último caso, já corre risco de ficar acima do centro da meta (de 4,5%). Há uma pressão especialmente de preços de serviços, diz, o que justifica a apreensão do BC, apesar de ainda existir capacidade ociosa e de a produção de bens de capital estar crescendo.
Para Sales, do IBGE, o bom desempenho de bens de capital revela que a indústria não sofre com eventual gargalo de produção, que, em tese, poderia pressionar preços. "Não há risco de bater no teto da capacidade instalada." Ou seja, existe espaço para novos cortes nos juros.


Texto Anterior: João Sicsu: Vitamina contra o nanismo estatal
Próximo Texto: Para o setor, otimismo vem com cautela
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.