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Governo acelera medidas antidumping
Camex passa a adotar providências provisórias, em tempo mais curto, para conter invasão de importados abaixo do custo
Antes, estratégia era avaliar cada caso e negociar com país de origem; analistas alertam para perigo de haver protecionismo
IURI DANTAS
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo brasileiro resolveu mudar sua estratégia diante da enxurrada de produtos
importados com a queda do dólar: depois de dez anos a Camex
(Câmara de Comércio Exterior) passou a adotar instrumentos antidumping provisórios para proteger a indústria nacional.
A nova estratégia representa
duas guinadas: por um lado responde mais rapidamente às
queixas da indústria -apenas
60 dias contra quase um ano
das investigações para antidumping definitivo. Por outro,
elevaria a transparência sobre
os critérios adotados pelo governo nesses casos.
Especialistas ouvidos pela
Folha alertam para o risco de
protecionismo e discriminação, caso os passos da investigação não sejam respeitados. Outro problema seria adotar medidas benéficas a indústrias
que não investem em inovação
ou competitividade.
"Não é o caso de protecionismo puro e simples, são medidas
para defender os produtores.
Vimos a necessidade de lançar
mão do direito provisório ao final do processo inicial de investigação, senão ao final não haveria indústria a defender", respondeu Fernando Furlan, diretor do Departamento de Defesa
Comercial.
A mudança na estratégia foi
determinada pelo ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento),
embora esteja prevista em documentos do ministério desde
2003. Há hoje quatro instrumentos provisórios em vigor,
todos contra a China: alto-falantes, pedivelas de bicicletas,
escovas de cabelo e brocas.
Para o economista-chefe do
Iedi (Instituto de Estudos para
o Desenvolvimento Industrial), Edgard Pereira, o governo erra ao estabelecer a adoção
de mecanismos provisórios como política. "A aplicação não é
arbitrária, mas decorrente de
um processo técnico, não deve
ser a política do governo."
Os antidumpings provisórios
representam aumento do imposto de importação e podem
valer por um máximo de 200
dias. São aplicados depois de 60
dias de investigação preliminar, a partir da reclamação da
indústria que se sente afetada
por produtos de preço mais baixo vindos de fora.
O antidumping definitivo vale por quatro anos e pode ser
aplicado pela restrição da
quantidade de produtos importado de determinado país. A diferença é que o instrumento só
sai do papel depois da investigação completa, que dura um
mínimo de 8 a 12 meses.
Por força da legislação brasileira e das normas da OMC (Organização Mundial do Comércio), o governo é obrigado a publicar no "Diário Oficial" da
União a chamada determinação preliminar. Trata-se de um
documento no qual explicita os
preços mínimos e critérios utilizados para lidar com o assunto. Na investigação antidumping isso não precisa acontecer.
Nos bastidores, o Itamaraty
sempre criticou a adoção dos
instrumentos provisórios pelos
parceiros tradicionais do Brasil
por entender que o direito de
defesa dos produtores nacionais ficava prejudicado.
Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro nos Estados
Unidos, cita os americanos para defender a aplicação da proteção provisória à indústria nacional, mas argumenta que o governo está recorrendo a medidas antidumping porque
quer evitar medidas unilaterais
contra os chineses. "É normal
aplicar direitos provisórios. Isso acontece em todo lugar do
mundo", disse.
Para o economista e professor da Universidade de Brasília
Ricardo Caldas, o governo deve
ser criterioso na avaliação dos
casos. "Deve-se observar que
em muitos casos o setor não se
organiza porque os empresários não investiram", afirmou.
A diretora-executiva do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), Denise
Gregory, considera que, em caso de indícios, o governo deve
recorrer às medidas provisórias. "Não há problema nenhum perante os outros países.
Se há indícios de dano, a conduta deve ser essa mesmo."
Para as empresas, a disposição do governo em garantir a
proteção comercial mais rapidamente tem sido muito bem-vinda. A Ascamp, empresa de
pequeno porte de Campinas
(SP), conseguiu em agosto que
o governo taxasse as brocas de
perfuração de concreto importadas da China porque o preço
no Brasil era mais baixo do que
o da matéria-prima.
"Foram dois anos de trabalho
e ficamos surpresos com a liberação do direito provisório.
Mas agora vamos retomar os
projetos de investimento que
estavam parados desde 2001 e a
linha de fabricação não vai mais
parar", diz Débora Assad
Schmidgall, sócia-gerente da
Ascamp.
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