|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FMI alerta para enxurrada de capital externo no Brasil
Para Fundo, governo precisa rever políticas de estímulos que adotou na crise
Mantega diz que boa parte de dólares que ingressa no Brasil é para investimento produtivo e que BC vai acumular mais reservas
FERNANDO CANZIAN
ENVIDO ESPECIAL A ISTAMBUL
A rápida recuperação da economia brasileira pode levar
uma quantidade exagerada de
capitais estrangeiros para o
país e valorizar ainda mais o
real. Isso pode afetar as exportações e aumentar rapidamente o deficit em conta corrente
por conta de mais importações.
O alerta é do FMI, que recomendou ao governo brasileiro
que comece a retirar os estímulos econômicos que adotou nos
primeiros meses da crise.
"O Brasil já está aumentando
o apetite de investidores, dada
a solidez de sua economia. E
precisa rever os estímulos fiscais para evitar um ingresso de
dólares acima do necessário",
disse Nicolás Eyzaguirre, chefe
do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo.
Em 2009, o Brasil será um
dos únicos países emergentes
que terá aumento no ingresso
de dólares em relação a 2008.
Segundo o IIF (Instituto de
Finanças Internacionais, na sigla em inglês), que reúne os
maiores bancos do mundo, o
país deve receber neste ano
21% mais dólares, em um total
de US$ 42,7 bilhões, ante
US$ 34,7 bilhões em 2008.
Nos emergentes, os ingressos
serão de US$ 349 bilhões em
2009, recuo de 46,3% sobre
2008. A principal razão para a
forte entrada de dólares no
Brasil é o fluxo de investimentos especulativos. De US$ 8,9
bilhões em 2008, eles passarão
a US$ 29 bilhões neste ano.
Em muitos casos, bancos e
investidores nos países ricos
vêm aproveitando a enxurrada
de dólares que os BCs vêm despejando no mercado a fim de
recuperar suas economias para
transferir parte desse dinheiro
para nações emergentes.
O Brasil, que ainda tem uma
taxa de juros muito elevada
diante dos padrões internacionais (8,75%), é um dos alvos
preferidos desses investidores,
que também vêm aplicando
fortemente na Bovespa, o que
ajuda a explicar sua forte alta.
Para Eyzaguirre, enquanto
vários países ainda lutam para
escapar da crise, o Brasil terá de
se preocupar agora em "gerenciar a abundância" de dólares.
Um fluxo maior de dólares
em qualquer país com câmbio
livre tende a valorizar a moeda
local. É o que ocorre no Brasil,
onde o dólar, que chegou a superar os R$ 2,50 durante a crise, fechou na sexta a R$ 1,778.
O dólar barato encarece as
exportações e barateia as importações, afetando os saldos
comercial e em conta corrente
(resultado das transações com
o mundo). É o ocorre no Brasil.
Além do FMI, o IIF alertou
para a necessidade de países
emergentes não se descuidarem com o ingresso excessivo
de dólares. "A perspectiva de
maior crescimento e juros
maiores nesses países deve
atrair fluxos significativos de
capital especulativo, trazendo
desafios para seus governos."
Questionado sobre o assunto, o ministro Guido Mantega
(Fazenda) afirmou que muito
do ingresso de dólares no Brasil
é para investimento produtivo.
E que o BC continuará com sua
política de acumular reservas
(hoje acima de US$ 224 bilhões) para tentar enxugar o
excesso de dólares no mercado.
Texto Anterior: Plano para a rede inclui ainda projeto criminal mais enxuto Próximo Texto: Sem reformas, Fundo voltará à "irrelevância", ameaça Mantega Índice
|