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ETERNO REGRESSO
Pacote terá "cláusula social" e permitirá mais investimentos em saneamento; superávit primário será mantido
Governo decide fechar acordo com o FMI
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem que
vai firmar um novo acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), o primeiro sob a gestão de
Luiz Inácio Lula da Silva.
A vice-diretora-gerente Fundo,
Anne Krueger, chega hoje ao Brasil para acertar os últimos detalhes do pacote e anunciá-lo com o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. Esse será o quarto
acordo consecutivo do país com o
Fundo desde 1998.
A Folha apurou que o novo
acerto deverá permitir ao governo
elevar os gastos com saneamento
público em 2004, poderá conter
alguma espécie de "cláusula social", mas não deverá alterar a
meta do superávit primário (economia de receita para pagamento
de juros) de 2004, de 4,25%.
Diferentemente do que se cogitava, o acordo não irá tirar do cálculo do superávit primário os investimentos da Eletrobrás, como
ocorre hoje com a Petrobras.
Ontem, o secretário do Tesouro
Nacional, Joaquim Levy, coordenador das negociações pelo lado
brasileiro, anunciou formalmente
a decisão do Brasil de renovar o
acordo atual, que vence no final
deste ano.
"A nossa avaliação conjunta é a
de que há interesse na continuação do programa. Isso deve ajudar o crescimento do Brasil", disse Levy. Ele não indicou qual será
o prazo do novo acordo. Palocci já
mencionou a disposição de fechar
um programa de um ano.
Na terça-feira, o ministro vai à
CAE (Comissão de Assuntos Econômicos do Senado) explicar os
termos do acordo, informou ontem o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante.
O convite para que Krueger venha a Brasília participar da etapa
final do novo acordo foi feito ontem pela manhã por Palocci, que
conversou com ela por telefone.
O valor do novo acerto deverá
incluir a terceira e última parcela,
de cerca de US$ 8 bilhões, do
acordo fechado no final de 2004,
ainda na gestão de Fernando
Henrique Cardoso. A parcela de
dinheiro novo seria pequena, de
no máximo US$ 5 bilhões.
O governo brasileiro quer o dinheiro novo como uma reserva
que não precise usar, mas que ajudaria a dar mais tranquilidade para que o país pudesse deixar, em
2005, de depender dos recursos
do Fundo. Segundo o governo, o
novo acerto seria uma transição
para uma nova etapa.
De acordo com o chefe da missão técnica do Fundo que está no
país, Jorge Márquez-Ruarte, os
valores do acordo serão discutidos na presença de Krueger.
"As pessoas que decidem no
Fundo são os diretores-gerentes, e
Anne Krueger é a primeira diretora-gerente", disse Ruarte. Segundo ele, é importante que a diretora
venha porque ela tem "familiaridade" com o país.
Levy lembrou que o governo já
tem US$ 30 bilhões em caixa de
empréstimos recentes. "Temos
que ver o que melhor responde às
nossas necessidades de balanço
de pagamentos [entrada e saída
de dólares]". O anúncio do acordo com o FMI deu alento ao mercado financeiro: o risco-país recuou 1,7%, para 579 pontos. Os C-Bonds, papéis da dívida externa
do Brasil de maior negociação,
subiram 0,33%, a US$ 0,9406,
próximos de seu valor recorde.
No ano, o risco-país já despencou 60%. O maior risco-país alcançado pelo Brasil foi em setembro do ano passado, quando chegou a 2.443 pontos, durante a tensão pré-eleitoral.
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