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Caixa é suspeita de uso irregular do FGTS
TCU vai investigar uso de dinheiro do próprio fundo para pagar condenações judiciais, incluindo honorários de advogados
Segundo secretário do Conselho Curador do fundo,
banco age de forma correta ao pagar indenizações, pois
é só prestador de serviços
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Tribunal de Contas da
União (TCU) investiga suspeita
de uso irregular de dinheiro do
FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço) pela Caixa
Econômica Federal, administradora do fundo.
A investigação foi aberta a
partir de denúncia feita ao Ministério Público Federal junto
ao TCU de que a Caixa utiliza
dinheiro do próprio FGTS para
pagar condenações judiciais,
incluindo honorários de advogados, que chegam a ser milionárias. Para a Caixa, o uso dos
recursos está correto.
Contas vinculadas
O FGTS tem hoje cerca de R$
176,7 bilhões em ativos -desse
total, R$ 127,9 bilhões correspondem à soma das contas vinculadas dos trabalhadores.
Ações judiciais contra a Caixa -e que envolvem o FGTS-
não podem onerar o próprio
fundo, segundo denúncia de
advogados feita ao MPF.
Se uma ação ganha na Justiça
pede a reposição de perdas da
inflação (desconsideradas por
planos econômicos) nas contas
do FGTS, quem tem de pagar
essa correção aos trabalhadores é a Caixa, que, por sua vez,
deve ser ressarcida pela União,
segundo entendem alguns advogados. O FGTS é a vítima, e
não o réu, nessas ações.
A suspeita de que a Caixa utiliza os recursos do próprio
FGTS para pagar condenações
judiciais e honorários de advogados estaria em processos que
estão na Justiça. Para evitar o
pagamento de quantias até milionárias a advogados, a Caixa
cita em ações que a quitação
desses valores iria lesar os cofres do Fundo de Garantia. A
Caixa confirma isso à Folha.
"Pedi uma investigação urgente do TCU para verificar a
legalidade do uso de dinheiro
do FGTS para pagar condenações judiciais e honorários advocatícios. É legítimo tirar recursos do fundo? Em princípio,
não. Mas estou provocando o
TCU para obter uma resposta,
já que as quantias são vultosas.
Essa situação que me foi apresentada merece fiscalização,
ainda que o resultado seja confirmar os procedimentos da
Caixa como legítimos", afirma
Lucas Rocha Furtado, procurador-geral junto ao TCU. Uma
equipe já foi designada pelo
TCU para fazer a investigação.
Advogados que fizeram a denúncia ao MPF entendem que
a Caixa está autorizada a usar
dinheiro do próprio fundo para
ressarcir somente os trabalhadores lesados pelos expurgos
dos planos econômicos Plano
Verão e Plano Collor 1 que aderiram ao acordo proposto pelo
governo e assinaram o termo
de adesão, como prevê a lei
complementar nº 110, de 2001.
Cita o artigo 4º da lei: "Fica a
Caixa Econômica Federal autorizada a creditar nas contas
vinculadas do FGTS, a expensas do próprio fundo, o complemento de atualização monetária (...) desde que o titular
da conta vinculada firme o termo de adesão...".
Até junho deste ano, a Caixa
já depositou R$ 37,4 bilhões
para 38,2 milhões de pessoas
em razão do acordo previsto na
lei complementar nº 110, segundo informações do banco.
"Há um entendimento de
que a Caixa não estaria autorizada a utilizar os recursos do
fundo para pagamento de suas
condenações judiciais, muito
menos de honorários advocatícios, e que essa lei estaria sendo
utilizada como pano de fundo
para movimentação das contas
pela Caixa", afirma Furtado.
Paulo Eduardo Cabral Furtado, secretário-executivo do
Conselho Curador do FGTS e
representante do governo no
fundo, diz que a Caixa usa dinheiro do fundo para pagar
condenações judiciais e honorários de advogados e que está
correta ao agir dessa forma.
Prestadora de serviços
"A Caixa é simplesmente
uma prestadora de serviços. As
ações são contra a Caixa, porque o fundo não tem personalidade jurídica", afirma.
Advogados consultados pela
Folha entendem que o assunto
é polêmico. A Caixa está errada,
dizem, se utilizar recursos das
contas vinculadas dos trabalhadores, formadas com recursos
dos próprios trabalhadores e
das empresas. Isso seria ilegal,
crime, considerado apropriação indébita de dinheiro.
A Caixa age de forma correta
se pagar as condenações judiciais e os honorários advocatícios com dinheiro de uma outra
conta do FGTS -a do patrimônio líquido do fundo-, na análise de parte dos especialistas.
"Em momento algum a Caixa
pode tirar dinheiro da conta
vinculada do trabalhador para
pagar custas com advogados.
Isso tem de sair, entendo, do
patrimônio do FGTS", afirma o
consultor Mario Avelino, presidente do Instituto FGTS Fácil.
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