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ARTIGO
Globalização reduz salário de trabalhador do Ocidente
Lideranças devem instar os cidadãos ocidentais a adquirir mais capacitação em alta tecnologia, para que permaneçam um passo à frente de seus competidores asiáticos
Claro Cortes - 19.out.2006/Reuters
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Trabalhador asiático deixa bueiro que fica localizado em estrada recentemente construída na capital chinesa, Pequim
SAMUEL BRITTAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Há um debate em curso há
muito tempo para determinar
se os trabalhadores norte-americanos de renda média sofreram queda de padrão de vida ou
obtiveram ganhos apenas modestos. Na melhor das hipóteses, essa categoria se beneficiou
de maneira apenas modesta da
ascensão da renda nacional dos
EUA, não apenas sob o presidente George W. Bush mas nos
últimos 40 anos.
Em fevereiro, eu resumi em
minha coluna um estudo de um
importante economista americano, Robert J. Gordon, cuja
conclusão é de que as pressões
sofridas pelo cidadão comum
derivam de um enorme aumento na participação dos 10%
mais ricos da população no total da riqueza nacional. Eu não
gostaria de entrar em disputa
com o professor Gordon quanto aos seus números, mas até
mesmo o melhor dos estudos
econométricos só pode ser retrospectivo. Certamente há espaço para uma discussão um
pouco mais especulativa do que
pode acontecer no futuro.
A melhor maneira de considerar a globalização é presumir
que uma grande porção do
mundo passa a se comportar
como se fosse uma economia
unificada. Existem certas barreiras legais, institucionais e
psicológicas ao movimento,
mesmo no interior de uma
grande economia como a americana. Mas por trás dessas diferenças existe uma tendência
à equalização da remuneração
por qualquer forma de trabalho, bem como uma tendência à
equalização do retorno sobre o
capital, hipótese proposta por
Adam Smith há 230 anos.
Há uma excelente análise
quanto a essas perspectivas,
preparada pelo conhecido economista Richard Freeman, especialista em trabalho da Universidade Harvard. Para ele , a
entrada de China, Índia e antigos componentes do bloco soviético na economia mundial
resultou, por volta de 2000, na
duplicação do número de trabalhadores integrados à economia globalizada, para um total
próximo dos 3 bilhões. Como
resultado, a relação entre capital e mão-de-obra caiu para
cerca de 60% daquilo que teria
sido em outras circunstâncias.
Além disso, os recém-chegados vêm conquistando ascensão muito rápida em termos de
capacitação tecnológica, mas os
salários que prevalecem em
suas economias são muito inferiores aos das economias ocidentais. Os efeitos podem ser
avaliados nos cortes de salários
que alguns trabalhadores alemães aceitaram a fim de desencorajar seus empregadores de
transferir fábricas para o leste
da Ásia ou para os países ex-comunistas da Europa.
Mas nem tudo é depressão e
desânimo para os trabalhadores ocidentais. Um dia, o superávit de mão-de-obra dos
emergentes se esgotará e a
competição por funcionários
elevará salários. A questão que
os países ricos precisam enfrentar é determinar quando.
Existe uma comparação possível com o Reino Unido na era
da Revolução Industrial. Continua a haver controvérsia sobre
o comportamento dos salários
britânicos na primeira metade
do século 19, para estabelecer
se subiram ou desceram. De
qualquer maneira, os principais ganhos para a mão-de-obra surgiram na segunda metade daquele século, quando, a
despeito de crises ocasionais, a
mão-de-obra se tornou mais
escassa em relação ao capital.
O professor Freeman estima
que os salários chineses dobraram, nos anos 90, e que, se esse
ritmo se mantiver, atingirão níveis semelhantes aos do Ocidente dentro de 30 anos. Para
os países emergentes como um
todo, o processo pode levar entre 40 e 50 anos. Enquanto isso,
haverá pressões de queda de salário sobre muitos dos assalariados do Ocidente.
À medida que a globalização
amplia a riqueza, deve certamente existir alguma maneira
de transferir parte desses ganhos aos trabalhadores ocidentais, que de outra maneira sairiam prejudicados. Uma dificuldade é descobrir como fazê-la sem matar a galinha dos ovos
de ouro, sem desencorajar o investimento ou a inovação naqueles países ocidentais que estão tentando a transferência.
A definição acima é um resumo dos mais brutos e contém
muitos problemas ainda não
resolvidos. A resposta das lideranças políticas e empresariais
do mundo é instar os cidadãos
ocidentais a adquirir mais e
mais capacitação em alta tecnologia, de modo que se mantenham sempre um passo à frente de seus competidores asiáticos. Dessa maneira, sempre estaremos trabalhando e aprendendo e nos restará pouco tempo para que desfrutemos do
produto de nossos esforços.
Uma resposta mais realista,
oferecida por alguns economistas, envolve tributar o que eles
definem como fatores imóveis
de produção, que não podem
ser transferidos facilmente a
outros locais. Mas não é simples identificá-los. O número
de ocupações seguras contra
competição internacional vem
diminuindo rapidamente, como vemos com o influxo de médicos que oferecem seus serviços no Ocidente ou se envolvem em terceirização de trabalho em seus países de origem.
Existe apenas um fator de
produção genuinamente imóvel e que poderia ser tributado
sem desencorajar o espírito de
iniciativa empresarial. Estamos falando dos terrenos, e
com isso não quero dizer apenas estruturas empresariais ou
residenciais, que normalmente
são tratadas como uma unidade integrada de capital e terra.
O que tenho em mente é espaço puro, que vem obtendo retornos cada vez maiores porque existe em tão pouco volume nos locais mais procurados.
Um imposto sobre os terrenos
é uma das ferramentas favoritas, há muito tempo, entre os
economistas de mercado de
tendência não muito esquerdista, mas a idéia jamais foi entendida completamente pelos
empresários, políticos ou advogados. O que é necessário agora
é transferir a discussão, do financiamento a autoridades locais para o uso gradual de tributos sobre os terrenos, com o objetivo de permitir que os trabalhadores protejam seus padrões de vida e, se possível,
transferir a eles alguns dos ganhos auferidos com a unificação da economia mundial.
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