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São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2003

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MERCADO

Diferença entre os indicadores de vulnerabilidade estava em 279 pontos há um mês e recuou para 195 nesta semana

Riscos de Brasil e emergentes se aproximam

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

O risco Brasil, indicador de vulnerabilidade medido pelo banco JP Morgan, se aproxima da média de risco dos demais emergentes- excluídos o próprio Brasil e a Argentina.
A distância entre o risco verificado por investidores para aplicar no Brasil e a mediana dos demais países emergentes estava em 279 pontos há um mês. Com a valorização dos títulos brasileiros no exterior, verificada ao longo desta semana, a diferença chegou a recuar para 195 pontos. Esse grau de proximidade não era observado desde maio de 2001.
O novo cenário parece refletir o clima de entusiasmo que a economia brasileira tem gerado no mercado. Segundo analistas ouvidos pela Folha, a expectativa é que o risco Brasil se aproxime cada vez dos demais emergentes e possa ser emparelhado com a média dos demais países- excetuando-se a Argentina- dentro de um ano.
A Argentina está fora do cálculo porque entrou em moratória em dezembro de 2001 e seu risco disparou -o que distorce o cálculo médio.
Para Brad Jerome, do EmergingPortfolio.com, site especializado em mercados emergentes, é sensato acreditar numa convergência das trajetórias dos riscos do Brasil e dos países emergentes.
A queda do risco Brasil pode ser atribuída a uma gama de fatores. Um dos principais é a combinação de ajuste fiscal e balança comercial superavitária.
"Trata-se um fato inédito na história recente do Brasil e não se deve menosprezar o efeito desta situação", diz relatório divulgado pelo Bradesco ontem.
Na avaliação do banco, essas notícias têm sido recebidas com "euforia" pelo mercado e esse otimismo tem se refletido no recuo dos níveis do risco-país.
Paulo Vieira da Cunha, economista-chefe para a América Latina do HSBC em Nova York, corrobora essa visão. "O Brasil conseguiu fazer um ajuste externo positivo. A taxa de câmbio está num patamar mais competitivo e já houve o tempo necessário para o país se ajustar a ela. Esses ajustes melhoram a percepção do mercado a respeito da vulnerabilidade externa do Brasil", afirmou.
O estudo do Bradesco destaca ainda que a perspectiva de um crescimento maior em 2004 aliado à inflação em queda reforçam o prognóstico do risco-país.
Um panorama bastante diferente do auge da desconfiança dos mercados com relação ao Brasil. Em julho de 2002, o risco brasileiro era 294% superior à média dos demais emergentes.
Ao lado da melhora no cenário macroeconômico também estão fatores conjunturais mais favoráveis. "Em 2002, havia muita turbulência com relação às incertezas da eleição no Brasil e um quadro geral de aversão ao risco. Neste ano, temos uma melhora também do comércio internacional e um maior apetite pelo risco", disse o economista do HSBC.
Um entrave para uma queda ainda maior do risco, segundo analistas, é a alta relação dívida/ PIB (Produto Interno Bruto), que, em outubro, estava em 57,2%.
"Esse componente é o maior peso. A relação ainda é bastante alta e está se ajustando muito lentamente", disse Cunha.
Confirmadas as previsões de crescimento do PIB entre 3,5% e 4% para 2004 (como estima o governo), esse descompasso poderia ser suavizado.

Nota melhor
Por enquanto, porém, o problema torna mais difícil a esperada elevação das notas concedidas pelas agências de risco. Nesta semana, a Standard & Poor's afirmou que a queda do risco-país e a melhora da economia brasileira ainda não eram os elementos necessários para uma elevação imediata. A agência foi enfática ao afirmar que um risco-país mais baixo não se traduz, necessariamente, em avaliações melhores.
Uma elevação da classificação do "rating" brasileiro, entretanto, daria um fôlego para uma queda mais acentuada do risco Brasil, dizem os analistas.


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