São Paulo, sexta-feira, 05 de dezembro de 2008

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BCE faz corte recorde no juro; França lança plano de R$ 80 bi

Novas medidas tentam reanimar economia da Europa, onde boa parte dos países vive recessão

No Reino Unido, taxa de juro caiu para 2%, o patamar mais baixo desde 1951; Sarkozy anuncia recursos para montadoras e obras

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Em mais um esforço para reduzir os efeitos da crise econômica que já empurrou boa parte do continente para a recessão, quatro bancos centrais da Europa anunciaram ontem cortes significativos em suas taxas de juros.
As sombrias perspectivas econômicas para os próximos meses levaram o BCE (Banco Central Europeu) a um corte de 0,75 ponto percentual, o maior de seus dez anos de história. No Reino Unido, a redução foi ainda maior, de 3% para 2%, o patamar mais baixo desde 1951. Dinamarca e Suécia seguiram o mesmo caminho.
Mas, com a seqüência de cortes de juros nos países desenvolvidos iniciada em outubro tendo pouco efeito para reabilitar o crescimento, muitos economistas avaliam que os BCs começam a ficar sem munição.
"A necessidade de cortes substanciais nas taxas de juros mostra que a política monetária não está mais tendo o mesmo impacto que normalmente tinha", admitiu ontem o BC sueco, que reduziu os juros no país quase pela metade -de 3,75% para 2%.

Pacote francês
Pensando nisso e sem ter controle sobre os juros, a França revelou um pacote de estímulo econômico de 26 bilhões (R$ 80 bilhões), o equivalente a 1,3% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. O plano inclui 1 bilhão em empréstimos para a indústria automotiva e também 5 bilhões para obras de infra-estrutura.
"Nossa resposta a esta crise é mais investimentos", disse o presidente Nicolas Sarkozy sobre o plano, que prevê ainda 11,5 bilhões em crédito e isenções fiscais para o setor privado no próximo ano.
O geralmente contido presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, admitiu que a crise deve ser prolongada e confirmou que a economia da zona do euro em 2009 sofrerá a sua primeira retração desde 1993.
"A demanda global e na região do euro deve ser amortecida por um longo período", disse Trichet, pouco após anunciar a queda dos juros na região para 2,5%.
Analistas esperavam uma redução entre 0,5 e 0,75 ponto percentual. Com a opção pelo corte maior, aumenta a expectativa de que em 2009 os juros na zona do euro fiquem abaixo de 2% pela primeira desde 2005. Foi o terceiro corte consecutivo das taxas do BCE.
Embora tenha sido antecipada e recomendada pelo mercado financeiro, a decisão anunciada ontem por Trichet reforça o temor de que a economia européia provavelmente só começará a recuperar o fôlego em meados de 2010. Esta é uma unanimidade entre os organismos internacionais, que projetam crescimento negativo na zona do euro no próximo ano, com taxas para o PIB que variam de -0,1% a -1%.
Para o Banco Central britânico, está claro que a desaceleração dos últimos meses ficou mais acentuada, o que aumenta a pressão para que as taxas de juros caiam ainda mais. "O consumo e o investimento no setor de negócios se estagnaram, enquanto os negócios no setor imobiliário continuam em declínio", disse o banco em um comunicado.
Na Suécia, cuja economia se aproximou da recessão ao encolher 0,1% no terceiro trimestre, o BC decidiu partir para uma medida drástica, ao cortar os juros em 1,75 ponto percentual, para 2%. A agressiva intervenção no vizinho fez o corte de juros de 0,75 ponto na Dinamarca, para 4,25%, parecer modesto.
No início do ano, a economia dinamarquesa foi a primeira da Europa a entrar em recessão, com dois trimestres seguidos de retração, para logo em seguida sair do vermelho.

Com agências internacionais



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