São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Petrobras diz que não pode garantir gás a indústrias

Estatal rejeita fechar contratos firmes, sem interrupção de fornecimento; volumes do pré-sal são desconhecidos

Presidente da Petrobras afirma que dificuldade decorre do fato de a estatal ser obrigada a garantir gás para as usinas térmicas

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, aproveitou ontem o encontro anual da indústria química, em São Paulo, para dizer que não tem "boa notícia" para o setor. A indústria química e petroquímica aguarda a estatal para destravar parte dos US$ 132 bilhões em investimentos que serão necessários para atender a demanda nacional na próxima década, além de zerar o deficit comercial (hoje em US$ 13 bilhões).
Mesmo assim, a Petrobras -que controla a oferta de gás natural no Brasil- diz não ter como disponibilizar gás natural em volumes firmes para a indústria diante da oferta que precisa garantir para a geração termelétrica. "Não tenho uma boa notícia. Não podemos nos comprometer com a rigidez de oferta em contratos firmes para 2016", disse Gabrielli.
Gabrielli afirmou que os investimentos da estatal preveem a ampliação da produção de gás nacional de 29 milhões para 72 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural. Além disso, a companhia deverá elevar dos atuais 21 milhões para 32 milhões de metros cúbicos por dia a oferta de gás nos terminais de GNL (Gás Natural Liquefeito). A empresa ainda conta, até 2019, com o contrato de 30 milhões de metros cúbicos por dia trazidos da Bolívia.
Mesmo diante desses números, a demanda de gás no Brasil cresce a um ritmo superior. O pré-sal, reservas sobre as quais recaem grandes expectativas, ainda é uma incógnita sobre a capacidade que esses campos terão em ofertar o combustível.
Segundo Gabrielli, o problema ainda está na falta de dados sobre o comportamento dos reservatórios e sobre quanto gás terá de ser reinjetado nos poços para garantir um ritmo adequado de produção de petróleo.

Preço diferenciado
O presidente da Petrobras negou que a estatal esteja analisando uma política de preços diferenciada para a indústria que consome o gás como matéria-prima, e não como insumo energético. Segundo ele, a estatal não negocia gás diretamente com as empresas, e sim com as distribuidoras.
Gabrielli disse ainda que, se as companhias estaduais de distribuição quiserem negociar um preço diferenciado para um setor, é prerrogativa delas.
À Folha a diretora de gás e energia da Petrobras, Graça Foster, informou que discute com distribuidoras e o conjunto da indústria química uma proposta para a criação de uma política de preços diferenciada para os setores que utilizam o gás como matéria-prima, entre as quais a indústria de fertilizantes nitrogenados e a petroquímica, na cadeia do plástico.
A diretora informou que o assunto ainda não havia sido levado à diretoria da Petrobras e que haveria critérios para aceitar a ancoragem do preço do gás ao preço do produto final da empresa.
Segundo ela, essa "outra formação de preços" seria possível apenas para indústrias com produtos com lastro em contratos e não suscetíveis a oscilações intensas de mercado.
Ontem, Gabrielli foi enfático em dizer que isso não vai acontecer.

Outra política
A Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química) criticou de forma sutil a posição da Petrobras.
Segundo Bernardo Grandin, presidente do Conselho da Abiquim, o país não pode ficar à mercê da política comercial da Petrobras.
Ele cobrou uma política industrial para o desenvolvimento do setor. Para isso, a associação lançou uma proposta de pacto nacional com objetivo de traçar planos de longo prazo.
A proposta prevê investimentos de US$ 132 bilhões em dez anos e a reversão do deficit comercial crescente da indústria para zero até 2020. Grandin afirmou que o assunto já foi discutido com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


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