São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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Procurador vê vazamento de informação

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Há sinais de uso no mercado de informação privilegiada sobre a compra das Casas Bahia pelo grupo Pão de Açúcar, afirma o procurador da República Sady D'Assumpção Torres, coordenador do grupo do Ministério Público Federal que atua em conjunto com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários).
As ações da Globex, razão social do Ponto Frio, fecharam com alta superior a 35% na quinta-feira, horas antes do anúncio do negócio. A movimentação foi muito superior à média diária do papel.
"Há indícios de uso de informação privilegiada na operação. Toda movimentação atípica, principalmente de empresas com pouca liquidez, é uma indicação. Estamos atentos, mas precisamos esperar e analisar", disse ele.
A CVM informou ontem que "acompanha e analisa as informações e notícias relativas às companhias abertas e adota as medidas devidas quando necessário". Não detalhou, porém, quais providências foram tomadas especificamente em relação a esse caso.
Segundo D'Assumpção, existem "alguns casos sigilosos" investigados pelo grupo, criado em 2007 depois da operação de compra da Ipiranga pela Petrobras, Braskem e Ultra.
Na ocasião, a valorização em 33% dos papéis da Ipiranga levou a CVM a investigar o uso de informações privilegiadas. Operações realizadas por 26 investidores foram investigadas, um deles funcionário da Petrobras. Desses, quatro tiveram bloqueado o dinheiro obtido com a venda das ações.
Outro caso cujo desfecho foi acompanhado pelo grupo resultou na assinatura de um termo de ajustamento de conduta.
Em 2008, o fundo uruguaio Vailly pagou multa de R$ 2,2 milhões à CVM por ter lucrado R$ 600 mil com a negociação de ações da Suzano Petroquímica antes do anúncio da compra da empresa pela Petrobras, um ano antes.
O caso de maiores consequências foi a negociação de ações da Perdigão no mercado americano, em 2006, dias antes de a Sadia ter tentado comprar o controle da concorrente.
Os ex-executivos da Sadia Luiz Gonzaga Murat Junior e do ABN Amro Alexandre Ponzio de Azevedo foram condenados pela SEC, órgão que fiscaliza o mercado de capitais americano, a pagar, juntos, multa de US$ 500 mil.
Murat e Romano Ancelmo Fontana Filho, outro ex-executivo da Sadia, foram impedidos de atuar como administradores de empresas abertas por cinco anos.
A atuação dos três resultou, ainda, na primeira denúncia feita pelo Ministério Público Federal à Justiça por crime de uso de informação privilegiada, em andamento em São Paulo.
"Na conta de lucros e perdas, a gente tem lucro. Criamos um fator de risco para esse tipo de ação. As punições e o bloqueio de recursos ilustram o risco que essas pessoas correm ao insistir na prática", diz o procurador.


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